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Mural "Introdução Pictórica à Medicina Experimental no Brasil"
Um dos símbolos da Escola Paulista de Medicina
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O saguão de entrada do então edifício dos Laboratórios de Farmacologia e Bioquímica, atual Edifício José Leal Prado, localizado na Rua Botucatu, 862, foi o local escolhido pelo Conselho Técnico Administrativo da Escola Paulista de Medicina (EPM), durante a reunião ordinária ocorrida em 20 de junho de 1956.
O mural intitulado como "Introdução Pictórica à Medicina Experimental no Brasil" de autoria de Pietro Nerici, pintor italiano radicado no Brasil, possui 6,10 metros de comprimento por 3,80 metros de altura e foi executado conforme a velha técnica dos afrescos em que se empregam óxidos metálicos coloridos de mistura com pó de mármore e argamassa.
As cenas foram sugeridas e transmitidas ao pintor pelos docentes dos Laboratórios de Farmacologia e Bioquímica, sob a coordenação de José Ribeiro do Valle, 1º catedrático de Farmacologia e professor Emérito da EPM.
Além da criação artística...
Enquanto sobreviver a Escola Paulista de Medicina, terão os nossos alunos nesse mural a oportunidade de gravarem noções que, ligadas ao passado, traduzem no campo da medicina o anseio de progresso inadiável do Brasil no concerto das nações civilizadas.
Detalhes sobre a execução do mural, segundo José Ribeiro do Valle:
"Aprovada a ideia de um mural que aduzisse episódios da história da medicina mais ligados a nós latinos e brasileiros, passamos, Paiva, Nerici e eu, a imaginar as cenas e consultar livros e monografias. Além da pura criação artística, algumas cenas eram calcadas de figuras conhecidas. Assim, a que representa Hales medindo a pressão arterial carotidiana da égua foi sugerida de uma gravura do livro de Bettmann e Hench (O. L. Bettmann e P. S. Hench, A Pictorial History of Medicine, Springfield, Charles C. Thomas, 1956, p. 199) e a de Lavoisier e sua esposa, da gravura do livro de Holmyard (E. J. Holmyard, Chemistry to the Time of Dalton, Londres, Oxford University Press, 1925, p. 107). Na época em que foi pintado o mural ainda não conhecíamos o retrato de Couty que aparece sem a barba nazarena. O pintor não deixou de se representar como Oswaldo Cruz; a figura do cirurgião é a de um dos nossos assistentes, entre as crianças vêm-se representados filhos dos professores de farmacologia e de bioquímica. Barbosa Rodrigues, Lavoisier e as respectivas esposas podem ser tomados ainda como alusão ao fato de que vários casais trabalham nestes Laboratórios.
Isto constituiu para todos nós exemplo de que vale colocar a alma inteira na concretização de um plano fiel e pacientemente elaborado. Diz o pintor que seu trabalho resistirá ao tempo, enquanto permanecerem de pé as paredes do edifício."
Durante três meses, Pietro Nerici trabalhou com dedicação e entusiasmo na execução deste mural. (Imagem: Andréa Pelogi/ComunicaSP)
Assim descreveu José Ribeiro do Valle:
"Começaremos a nossa descrição pelo canto inferior esquerdo, onde três figuras de primeira grandeza da medicina brasileira – Oswaldo Cruz, Adolfo Lutz e Gaspar Viana – surgem de Manguinhos, reconhecível pela sua cúpula mourisca. Ao lado, outro instituto de linhas modernas revela ao observador a influência indutora da célula mater, responsável pela maioria dos centros de pesquisa biológica existentes no nosso país.
O papel desempenhado pelo Instituto Oswaldo Cruz no terreno da saúde pública é calcado na cena de crianças brincando ao ar livre. Aquela vilazinha pendurada no morro lembra a origem de muitos que aqui trabalham e que na sua infância, sem preconceitos de cor, brincaram com arco, jogaram bola de panos ou empinaram papagaio.
À esquerda, em cima, Lacerda e Couty estudam efeitos de plantas. João Baptista de Lacerda (1846-1915) foi o fundador do primeiro laboratório de fisiologia existente no Brasil, e Louis Couty (1854-1884), aluno de Vulpian, um dos primeiros a estudar, entre nós, os efeitos do café. Ambos acompanham o registro gráfico da pressão arterial do cão. Foi escolhido de propósito o assunto, dada a natureza dos trabalhos experimentais aqui realizados. De um lado, aspectos microscópicos do rim e de lesões renais encontradas, por exemplo, na hipertensão arterial experimental hormonal e, de outro lado, numa lembrança histórica, Stephen Hales (1677-1761) determinando pela primeira vez, experimentalmente, a pressão arterial carotidiana num equídeo.
À direita, em cima, Lavoisier (1743-1794), assistido pela esposa a redigir o protocolo das observações, estuda as trocas respiratórias, numa antevisão do que significam hoje para a clínica médica e a semiologia as modernas técnicas da bioquímica. Mais à direita, cortes e desenhos mostram a importância da endocrinologia. No alto, a representação esquemática da adeno-hipófise com seus três tipos celulares, a secreção de gonadotropinas, o endométrio, as gônadas, a genitália, a lactação e a gestação. Mais à direita, o aparelho tiroparatiroidiano e, à esquerda, o galo normal e o capão dentro do ovoide testicular. Inferiormente, o timoneiro lembra o ciclo dos navegantes portugueses, o perigo do escorbuto e o alcance da vitaminologia. As nossas frutas ricas em ácido ascórbico, o pombo com beribéri e a representação de cristais de tiamina chamam de novo a atenção para o papel das vitaminas. Terminando a volta do painel, como se tivéssemos seguido a marcha dos ponteiros de um relógio, a obtenção do curare pelos índios do Amazonas e o consequente emprego dos bloqueadores ganglionares em cirurgia a reviver a senda da farmacologia desde o uso primitivo até o emprego racional e científico de novos medicamentos.
O estudo das plantas, inclusive medicinais, feito pelos naturalistas que correram os nossos sertões e que tantas lições nos legaram, vem lembrado na figura de Barbosa Rodrigues (1842-1909) e de sua esposa quando, em missão do governo imperial, exploraram o vale do Amazonas. Junto às palmeiras, o ramo de café e dentro do hexágono a esquematização da tecnologia industrial, sugestivos da potência e das realizações paulistas. No centro do mural o hexágono do benzeno – símbolo da química dos organismos – reúne todos esses episódios das ciências fisiológicas e da nossa medicina. Finalmente, a dominar todo o painel, a figura austera de Claude Bernard (1813-1878), lídimo representante do espírito latino e fundador da medicina experimental. A seu lado, a esquematização da fórmula da glicose, do glicogênio no fígado e do ciclo de aproveitamento energético dos hidratos de carbono."
Fonte: Ribeiro do Valle, José – Descrição do Mural “Introdução Pictórica à Medicina Experimental no Brasil” em “O Bíceps”, nº 27, pp. 40-41, 1962
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