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Família: diferentes formatos, mas as mesmas relações de afeto e cuidado

Publicado: Sexta, 14 de Maio de 2021, 15h14 | Última atualização em Sexta, 14 de Maio de 2021, 22h37 | Acessos: 71670

15 de maio - Dia Internacional da Família

No dia 15 de maio comemoramos o Dia Internacional da Família, instituído em 20 de setembro de 1993, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), com a finalidade de promover a conscientização sobre questões relacionadas às famílias e aumentar o conhecimento dos processos sociais, econômicos e demográficos que as afetam.

Neste ano, o tema da 59ª sessão da Comissão para o Desenvolvimento Social: “Transição socialmente justa para o desenvolvimento sustentável: o papel das tecnologias digitais no desenvolvimento social e no bem-estar de todos”, a comemoração de 2021 do Dia Internacional das Famílias centra-se nos impactos das novas tecnologias no bem-estar das famílias1.

 

Conceito de família

A diversidade de conformação de família na sociedade pós-moderna revela a complexidade desse conceito e a necessidade de conhecimento de outras disciplinas para dar conta de suas demandas e necessidades de cuidado.

Como enfermeiras e pesquisadoras do tema “Família” e “Cuidado Centrado no Paciente e Família”, adotamos em nossa prática, o conceito introduzido pelas canadenses Wright & Leahey2 que dizem “Família é quem a pessoa diz que é”. Nessa perspectiva, acreditamos que os profissionais de saúde devem pautar sua prática e se aproximar e cuidar das famílias nos ambientes das instituições de saúde e educação.

Tem havido um aumento no número de famílias monoparentais, principalmente aquelas formadas por mães e filhos, que podem enfrentar algumas dificuldades que lhes são peculiares. Há ainda aumento de famílias reconstituídas, considerando os novos arranjos provocados por separações e divórcios, com incremento no número de pessoas convivendo, e que têm sido consideradas como frágeis ou instáveis, com dificuldades sociais, emocionais e econômicas. Há famílias formadas por casais em uniões consensuais, em uniões homossexuais, casais sem filhos por opção, famílias unipessoais que optam por morar sozinhos, e famílias por associação, que são compostas por amigos sem grau de parentesco, sem relacionamento sexual, que se reúnem para manter um convívio amistoso3.  

 

conceitos de famílias na atualidadeNovas configurações familiares celebram as diversidades e mostram que o amor não cabem em um só formato. (Crédito: O Globo)

 

Desafios que acometem o funcionamento da família

bom funcionamento de algo requer que as peças se encaixem umas as outrasNas Américas, as desigualdades econômicas e a falta de políticas sociais eficazes têm afetado os mais vulneráveis, podendo gerar famílias com dificuldades para funcionar plenamente, e inclusive gerando graves consequências para a saúde da família. Em casos extremos, como abuso ou abandono, o estado pode transferir crianças para centros de acolhimento para sua proteção e segurança. Portanto, há necessidade de avaliar a influência da família como um determinante social em saúde com identificação das disparidades entre as populações vulneráveis ​​e menos vulneráveis4.

No Brasil, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística5 (IBGE), mesmo com as melhorias recentes na distribuição de renda relacionadas ao controle da inflação e estabilidade macroeconômica, associado à valorização do salário-mínimo e aos programas de transferência de renda intensificados nos últimos anos, a distribuição de renda no Brasil continua entre as piores do mundo.

Para o total da população, chama atenção o aumento da participação das aposentadorias e pensões, entre 2012 e 2019, que passou de 18,1% para 20,5% do rendimento domiciliar total. O peso de aposentadorias e pensões no rendimento domiciliar para as pessoas com até 1/4 de salário-mínimo per capita, que era de 8,0%, em 2012, reduziu-se ainda mais, em 2019, passando para 7,0% (queda de 12,1%). Para esses últimos, a participação do componente “outros rendimentos” é bem mais significativa, sendo responsável por mais de 1/3 do rendimento total em 2019. É razoável supor que, para esse segmento, os benefícios de assistência social: Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC) da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), entre outros, sejam preponderantes para esse resultado5.

 

Cenário na pandemia Covid-19

familia usando mascaras para protecao e isoladas em casaDentre os inúmeros desafios que a família enfrenta na sociedade atual, destaca-se a pandemia do novo coronavírus - SARS-CoV-2, declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que impõe modificações na sociedade, repercutindo nas relações e no funcionamento da família.

Em 2020, a ONU destacou a “necessidade de proteger famílias durante a crise vivenciada com a instalação da pandemia da Covid19”, considerando que são as famílias que têm a responsabilidade de cuidar de seus membros, das crianças fora da escola, dos familiares sem emprego, assumir a queda da renda de seus membros e ao mesmo tempo precisam manter suas atividades profissionais. Dessa forma, comunidades em todo o mundo enfrentam obstáculos que comprometem a estabilidade da família6.

 

Família: determinante social de saúde e bem-estar

Os profissionais de saúde precisam se envolver com a família, interagindo e trocando experiências, saindo de uma postura de detentores de poder, de saberes, para fomentar a parceria com a família como maneira de melhorar os resultados em saúde e diminuir as desigualdades em saúde estruturalmente determinadas6.

A família precisa ser reconhecida como um determinante social de saúde e bem-estar, considerando as vicissitudes em que as pessoas nascem, crescem, trabalham e envelhecem e que moldam a vida. Dessa forma é essencial incluir as necessidades da família nas políticas econômicas, agendas de desenvolvimento, normas sociais, políticas sociais e sistemas políticos para dar suporte às famílias em seu papel crucial,4,7,8.

O modelo do cuidado centrado na família valoriza a presença física dos familiares à beira do leito para promover a confiança, a comunicação, o envolvimento no cuidado e nas tomadas de decisões compartilhadas. No entanto, devido a pandemia, é preciso desenvolver estratégias para manter os princípios desse modelo de cuidado em prática nas instituições de saúde, de maneira que não haja retrocesso na aplicação prática desse modelo de cuidado, dentre elas a manutenção da comunicação com pacientes e famílias sobre as mudanças relativas à sua presença no hospital, reforçando a importância do respeito como unidade que cuida e precisa ser cuidada. dessa maneira, recomenda-se que é preciso deixar claro em veículos de comunicação, como sites, cartazes, e informativos via digital, que se trata de medidas temporárias, para proteção dos pacientes, das famílias e da equipe de saúde, com detalhamento sobre como serão operacionalizadas com o apoio e compreensão dos membros da família, usando linguagem respeitosa9.

Nesse sentido, os enfermeiros e equipe podem e devem agir para fazer a diferença, pois são os profissionais que durante a hospitalização permanecem 24 horas ao lado do paciente e testemunham histórias de sofrimento profundo, provocadas pelo afastamento dos membros da família em situações críticas, impostas pela pandemia.

saúde cuidado da famíliaA importância da família para a recuperação de seus membros doentes e hospitalizados já está evidenciada em diversos estudos. Ela é a primeira unidade de cuidado e de laços de amor e respeito entre os indivíduos.  Na perspectiva sistêmica, doença e família se afetam reciprocamente, assim, quando um membro adoece, a vida de todos os demais é modificada em função da necessidade de reorganização para encontrar um novo estado de equilíbrio. Essa lente teórica amplia o olhar para além da doença e do paciente, considerando a família como sujeito do cuidado10.

Considerando que as alterações nos ecossistemas mundiais impõem contextos desafiadores sem precedentes às famílias, é preciso investir na formação de profissionais competentes para lidarem com desafios que se impõem e tendem a se perpetuar. Não é possível continuar formando pessoas sem uma visão mais ampla da saúde global, bem como o seu impacto no sistema familiar, para que promovam a saúde, a adaptação e a resiliência dos indivíduos e das famílias11.

 

Referências

  1. United Nations. International Day of Families 15 May. [Internet] 2021
  2. Wrigth L, Leahey M. Enfermeiras e famílias: um guia para avaliação e intervenção na família. 4º ed. São Paulo: Ed. Roca; 2009.
  3. Hintz HC. Novos tempos, novas famílias? Da modernidade à pós-modernidade. Pensando Famílias [periódico na Internet]. 2001
  4. Ramos-Morcillo AJ, Moreno-Martínez FJ, Susarte AMH, Hueso-Montoro C, Ruzafa-Martínez M. Social Determinants of Health, the Family, and Children's Personal Hygiene: A Comparative Study. Int J Environ Res Public Health. 2019 Nov 26;16(23):4713. doi: 10.3390/ijerph16234713.
  5. IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro: IBGE, 2020 (43)
  6. United Nations. International Day of Families 15 May. [Internet] 2021
  7. Deatrick JA. Where is “family” in the social determinants of health? Implications for Family Nursing practice, research, education, and policy. J Fam Nurs [serial on the Internet]. 2017 Oct [cited 2020 aug 20];23(4):423-433
  8. World Health Organization. Social determinants of health [Internet]; 2017 
  9. University of California San Francisco. California Preterm Birth  Initiative,  Institute for Patient and Family Centered Care,  School of Nursing. University of Washington. COVID-19 Hospital Restrictions - Surveying Impact on Patient- and Family-Centered Care. [Internet] [cited July 18, 2020] 2020
  10. Bell JM. Family Nursing Is More Than Family Centered Care. J Fam Nurs [Internet]. 2013;19(4):411–7
  11. Planetary Health Alliance. Harvard University Planetary Health Alliance. 2019

 

Autoras

autoras do dia da família

 

Maria Magda Ferreira Gomes Balieiro

Docente do Departamento de Enfermagem Pediátrica da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo (EPE/Unifesp). Coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem (EPE/Unifesp). Outras informações, clique aqui.

Myriam Aparecida Mandetta

Docente do Departamento de Enfermagem Pediátrica da Escola Paulista de Enfermagem (EPE/Unifesp). Vice-coordenadora do Curso de Graduação em Enfermagem (EPE/Unifesp) e presidente da Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras. Outras informações, clique aqui

 

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