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Os 40 anos do HIV/Aids

Publicado: Terça, 30 de Novembro de 2021, 09h39 | Última atualização em Terça, 30 de Novembro de 2021, 14h08 | Acessos: 68225

A luta contra o HIV é um desafio diário

O Dia Mundial de Combate à AIDS é uma data voltada para que o mundo una forças para a conscientização sobre a Síndrome da imunodeficiência adquirida. A data foi escolhida pela Organização Mundial de Saúde e é celebrada anualmente desde 1988 no Brasil.

 

Um desafio que constantemente sai da agenda, toda vez que um evento importante emerge, o HIV sai um pouco da agenda mundial. Aquecimento global, hepatite C, COVID-19. Claro que não devemos negligenciar as ameaças que constantemente emergem, mas não devemos esquecer desse desafio com o qual convivemos a quase meio século, que é a infecção pelo HIV e a Aids.

No geral as notícias são boas!

O que é AIDS?

Quando detectamos a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) no mundo no início dos anos 80, precisamente em 1987, éramos meros espectadores da catástrofe.  A expectativa de vida que era tão limitada no início começou a aumentar conforme a ciência avançava e hoje, com satisfação observamos que a expectativa de vida das pessoas vivendo com HIV é igual ou superior a expectativa de vida de quem não é portador do vírus.  Isso graças ao tratamento com antirretrovirais, que cada vez é mais eficaz e mais amistoso. Mesmo assim, após 40 anos da descrição da aids, não conseguimos uma vacina preventiva e nem curar as pessoas em uma escala grande.

comunicasp combate a aids

Conseguimos neste momento detectar os desafios mais modernos para as pessoas vivendo com HIV.  Um deles é a inflamação constante que acontece no corpo da pessoa, inflamação essa que é mitigada com o tratamento com os medicamentos do coquetel, mas não é completamente abolida.  Essa inflamação, conhecida como micro inflamação, leva ao desgaste acelerado dos órgãos e tecidos de nosso corpo, propiciando um envelhecimento acelerado.  A microinflamação, apanágio de doenças crônicas como diabetes, hipertensão arterial, insuficiência renal crônica, doenças reumatológicas e HIV é denominada na língua inglesa como inflamageing, ou inflamação que propicia o envelhecimento.  Outro desafio moderno formidável é a cura da infecção pelo HIV.

AIDS tem cura?

Quando percebemos que nenhuma célula definitiva de nosso corpo é infectada pelo HIV, vislumbramos a perspectiva real da cura.  De fato, alguns poucos pacientes foram curados com transplante de medula óssea, recebendo uma medula resistente ao HIV.  Dessa forma, esses pacientes que precisaram de transplante de medula porque além do HIV tiveram cânceres hematológicos como leucemia ou linfoma receberam medula de doadores que não se infectam pelo HIV porque não tem nas suas células a porta de entrada para o vírus. De fato, 1% das pessoas têm esse defeitinho genético que as torna resistentes à infecção pelo HIV (não se infectariam) e a medula delas foram usadas para o transplante.  O paciente de Berlim foi o primeiro curado, seguido do paciente de Londres e aguardamos os resultados de um terceiro paciente, o paciente de Dusseldorf.  Isso foi considerado cura esterilizante do HIV, onde o vírus foi completamente eliminado do corpo humano.  Não podemos fazer transplante de medula óssea com objetivo exclusivo de curar as pessoas do HIV posto que é procedimento de risco que pode levar à morte.  Mas o conceito está provado!  É possível a cura do HIV.  Precisamos agora pensar em novas estratégias que possam ser aplicadas para um grande número de pessoas.

Avanços positivos

Observamos com alegria que os avanços atuais são enormes em relação ao controle dessa epidemia global causada pelo HIV.  Já temos estratégias eficientes para eliminar a transmissão de mãe para filhos com o coquetel.  Quando tratamos a mulher vivendo com HIV a sua carga viral fica indetectável eliminando realmente a chance de transmissão do vírus.  A profilaxia pré-exposição (PrEP), impede a infecção das pessoas em risco de aquisição do HIV.  As pessoas sob risco de aquisição do HIV tomam uma parte dos medicamentos que usamos no coquetel anti-HIV e isso diminui o risco de aquisição do vírus para próximo de zero.  Como uma pílula anticoncepcional para impedir a gravidez.  Estudos mostram também, que a forma mais eficaz de PrEP, graças à nanotecnologia, pode ser feita através de medicamentos injetáveis, com injeção intramuscular de aplicação mensal ou injeção subcutânea a cada seis meses. Claro que esses medicamentos injetáveis também têm sido utilizados para o tratamento convencional.  Mais!  O tratamento deixa a carga viral indetectável e as pessoas param de transmitir o vírus.  Casais sorodiferentes, onde um dos parceiros vive com HIV e outro não, não precisam mais do uso de preservativos quando a carga viral está indetectável pelo uso dos medicamentos.  É o assim chamado tratamento como prevenção.  

Vacinas contra HIV/AIDS

Não contamos ainda com uma vacina preventiva.  Obter uma vacina para uma infecção na qual não eliminamos o vírus espontaneamente é um desafio fabuloso.  Mas não desistimos.  Estratégias modernas como o uso das vacinas de RNA mensageira que foram desenvolvidas para a COVID estão sendo aplicadas.  Nos últimos anos, foi detectado que algumas raras pessoas produzem anticorpos capazes de neutralizar (paralisar) praticamente todos as cepas de HIV que conhecemos.  O primeiro desses anticorpos foi denominado VCR01.  Pois bem, estratégias modernas conseguiram em modelos animais uma vacina que nos faria produzir especificamente o VCR01, sendo mais uma inovação promissora em vacinologia no campo do HIV.

Conseguir a cura para uma quantidade significativa de pessoas seria mais um componente para avanço da ciência e para conseguirmos um mundo futuro sem HIV.  Observo que todas as pessoas vivendo com HIV desejariam não ser portadoras do vírus.  Dessa forma, mais do que uma contribuição à ciência, curar as pessoas é o correto a se fazer.

Ambulatório de AIDs

Escola Paulista de Medicina - EPM/Unifesp
Fax: (11) 5081-2821

Localização:
R. Loefgreen, 1588 - Vila Clementino
03572-020 São Paulo, SP
Telefone: (11) 5573-5081

 

 

 

 


ricardo diaz

Por Ricardo Sobhie Diaz

Professor Associado e Livre Docente, Chefe do laboratório de Retrovirologia da Disciplina de Infectologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - EPM/Unifesp. Mais informações: clique aqui

 

 

 

 

 

 

 

 

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