Ir direto para menu de acessibilidade.
Início do conteúdo da página

Quebre o silêncio, denuncie a violência sexual contra crianças e adolescentes

Publicado: Segunda, 17 de Maio de 2021, 19h34 | Última atualização em Segunda, 17 de Maio de 2021, 20h27 | Acessos: 40965

18/05 - Data propõe a mobilização e a informação da sociedade

O Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes encoraja fortemente a realização de ações, em todo o país, para alertar à sociedade para a necessidade do melhor enfrentamento da questão, promovendo ações de prevenção à violência sexual.

 

Este ano se comemoram os 21 anos da instituição do Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, por força da Lei 9.970/2000, estabelecida oficialmente, em memória da menina Araceli Crespo, que aos oito anos de idade teve sua vida roubada, tendo sido sequestrada, violentada e assassinada em 18/05/1973.

Família, sociedade civil e poder público devem estar engajados nesse movimento, nesta discussão e na promoção de ações, principalmente porque, de modo geral, as vítimas, não conseguem discernir, perceber o que é o abuso sexual. Destaca-se a necessidade e importância do trabalho em rede (Centros de Referência Especializados de Assistência Social – Creas), unidades públicas cuja função é a porta de entrada para o atendimento de indivíduos em situação de risco social ou cujos direitos foram violados.

 

Exposição às diversas formas de violência

A violência sexual, do âmbito da saúde coletiva, afeta milhões de pessoas em todo o mundo e estima-se que 24% das mulheres foram abusadas sexualmente durante a infância. O sexo feminino está altamente exposto a este tipo de agressão, independentemente de sua faixa etária. Trata-se de uma violência interpessoal não fatal, que provoca danos, irreparáveis, para a saúde das vítimas, traduzindo-se em consequências física e psicológicas, entre elas depressão, ansiedade, abuso de substâncias, transtornos/dificuldades alimentares, distúrbios do sono, disfunção sexual, transtorno de estresse pós-traumático, infecções sexualmente transmissíveis, ideações suicidas, lesões não suicidas e suicídios.

Diariamente nossas crianças e adolescentes estão expostos às mais diversas formas de violência, nos mais diversos cenários e territórios que frequentam, desde a mais tenra idade, e em todas as classes sociais e de diversas formas, desde o abuso sexual (quando a criança ou adolescente é utilizada por um adulto para praticar algum ato de natureza sexual) até a exploração sexual (quando o adulto utiliza a criança ou o adolescente com a intenção de troca ou obtenção de lucro financeiro, turismo sexual, pornografia, rede de prostituição e tráfico, por exemplo).

  

abuso crainças

Mais de 95 mil denúncias de violência contra crianças e adolescentes foram registradas em 2020. Desse total, mais de 14 mil corresponderam a abuso sexual, estupro e exploração sexual. Os registros ainda incluem violência física e psicológica. Os números foram atualizados em abril deste ano e fazem parte dos dados do Disque 100 – um serviço gratuito para denúncias de violações de direitos humanos. (Fonte: Brasil 61

 

 

Identificar e procurar ajuda

Não tem problema pedir ajudaA partir da identificação de violência sexual, antes mesmo de conversar com a vítima, é importante entrar em contato com profissional que possa colaborar e dar o encaminhamento correto de acordo com o caso, conforme a Lei nº. 13.431/2017, que normatiza e organiza o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e cria mecanismos para prevenir e coibi-la. Importante frisar que jamais se deve culpabilizar a vítima e devem ser identificadas todas as possíveis situações de risco a que possam estar expostas de alguma forma.

Quando há suspeita, a denúncia pode ser feita a partir do canal Disque 100, cuja ligação é gratuita, funciona ininterruptamente, todos os dias da semana, por 24 horas. A denúncia pode ser feita ainda na Polícia Militar, pelo número 190, ou Polícia Rodoviária Federal, pelo 191. O sigilo é garantido, e as ligações podem ser feitas por aparelhos fixos ou móvel.

 

Unifesp e sua função social 

Na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), preocupados com nossa função social, temos desenvolvido alguns trabalhos na Pós-graduação sobre violência sexual contra adolescentes e jovens, para além de gerar conhecimentos, poder contribuir com a sua aplicabilidade e melhorar o enfrentamento na nossa sociedade à esta questão tão dolorosa. Desta forma, recentemente estudamos os aspectos relativos aos estilos parentais de educação como influenciadores na possibilidade de ocorrência de abuso sexual, havendo fatores protetores (monitoria positiva) e outros de risco (negligência e formas punitivas).

É necessário, mais do que nunca, garantir o direito que nossas crianças e adolescentes tem de desenvolver plenamente sua sexualidade, com proteção e em segurança.

Avaliamos questões relativas à revelação do episódio e o porquê muitas vezes esta revelação não se torna eficaz, apesar de as vítimas procurarem socorro: por questões de estigmas, preconceitos e desinformação e tentativas de proteger o perpetrador, o adulto ao qual recorrem, muitas vezes, ou não acredita na revelação ou prefere guardar para si a revelação, não procurando medidas protetivas. Avaliamos também a eficácia de intervenção nesta população, com o uso da musicoterapia, que já é técnica terapêutica validada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e encontramos que ela facilita a comunicação de sentimentos e revelação do abuso, sendo grande auxiliar para lidar com a raiva, vergonha e culta. Além de favorecer o vínculo terapêutico, é terapia menos confrontadora, ajudando na formação da autoestima e na autoconfiança.

É imperativo, ainda, orientar precocemente, as crianças e adolescente contra a violência sexual. As famílias, os serviços públicos de justiça, de saúde e de educação e o sistema judiciário não podem negligenciar as vítimas, tendo a obrigatoriedade de tomar atitudes de prevenção e redução de danos.

 

É necessário, mais do que nunca, garantir o direito que nossas crianças e adolescentes tem de desenvolver plenamente sua sexualidade, com proteção e em segurança.

(Crédito: Assunção)

 

Referências

Landi CA. Violência sexual contra adolescentes e adultos jovens e estilos parentais. [Mestrado] Programa de Pós-Graduação Saúde Coletiva, Universidade Federal de São Paulo, 2019, 86f.

Silva FC. Violência sexual: por que não revelar? [Doutorado] Programa de Pós-Graduação Saúde Coletiva, Universidade Federal de São Paulo, 2020, 305f.

Monge AB. Violência sexual: revelação, prevenção e redução de danos na adolescência. [Doutorado] Programa de Pós-Graduação Educação e Saúde na Infância e Adolescência, Universidade Federal de São Paulo, 2020, 136f.

Suzuki DC. Adolescente vítima de abuso sexual e musicoterapia: uma revisão sistemática. [Mestrado] Programa de Pós-Graduação Saúde Coletiva, Universidade Federal de São Paulo, 2019, 72f.

 

maria

 

Por Maria Sylvia de Souza Vitalle

Professora adjunta e chefe do Setor de Medicina do Adolescente do Departamento de Pediatria, Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). Docente permanente do Programa de Pós-graduação Educação e Saúde na Infância e Adolescência do Departamento de Educação da Escola de Filosofia Ciências e Letras da Unifesp. Membro do Departamento de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo, Membro do Conselho Executivo da Confederación de Adolescencia Y Juventud de Iberoamérica, Portugal e Caribe/CODAJIC. Membro da International Association for Adolescent Health/IAAH. Líder do Grupo de Pesquisa Atenção Integral e Interdisciplinar ao Adolescente, registrado no Diretório de Pesquisa do CNPq. Outras informações, clique aqui

 

 

 

Avaliação do Usuário

Estrela ativaEstrela ativaEstrela ativaEstrela ativaEstrela ativa
 
Categoria:

Insegurança alimentar atinge 12,5% da população em São Paulo

Inquérito conduzido por docentes da Unifesp revela disparidades socioeconômicas e destaca a...

Redução de morte súbita em pacientes com doença de Chagas com uso de CDI

Pesquisa publicada no JAMA Cardiology, com participação do docente da Unifesp Angelo Amato de...

Mortalidade por câncer supera a de doenças cardiovasculares em 727 municípios no Brasil

Pesquisa revela mudança nas principais causas de mortalidade no Brasil entre 2000 e 2019,...

Estudo revela novos fatores de risco para demência e abre caminhos para prevenção no Brasil

Publicado na revista The Lancet, estudo elaborado por uma comissão da qual a pesquisadora Cleusa Ferri da...

Fim do conteúdo da página