Dia Internacional da Biodiversidade: momento de refletir sobre a nossa existência
Data trata da relação entre as espécies e a sua importante contribuição para a vida no planeta.
22/05 - Dia Internacional da Biodiversidade e o Cenário Brasileiro
A Organização Mundial da Saúde, visando conscientizar a população mundial sobre a necessidade de preservação da biodiversidade de todos os ecossistemas do planeta, consagrou o dia 22 de maio como o Dia Internacional de Biodiversidade, data em que foi aprovado o texto final da Convenção da Diversidade Biológica ocorrida na RIO-92. Segundo o texto final da Convenção da Diversidade Biológica, biodiversidade significa "a variabilidade de organismos vivos de todas as origens; compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas".
Atualmente sabe-se que para a sobrevivência das espécies (inclusive a espécie humana) é fundamental a preservação dos três níveis de biodiversidade: a diversidade das espécies, a diversidade genética e a diversidade dos ecossistemas.
No Brasil
O Brasil abriga a maior biodiversidade do planeta e os números de espécies da fauna e flora impressionam. Apenas como exemplo, dados do IBGE apontam que em nosso país foram catalogadas mais de 46.000 espécies da flora; entre 90 a 120 mil espécies de insetos (10% da diversidade mundial); a maior diversidade de peixes do mundo com mais de 4.388 espécies; a fauna mais rica do mundo para o grupo dos anfíbios; cerca de 1.924 espécies de aves e mais de 720 espécies de mamíferos (1).
Além disso, o país abriga também uma rica sociobiodiversidade, representada por mais de 200 povos indígenas e por diversas comunidades – como quilombolas, caiçaras e seringueiros, para citar alguns – que reúnem um inestimável acervo de conhecimentos tradicionais sobre a conservação da biodiversidade (2).
Espécies ameaçadas
É angustiante pensar que esta imensa diversidade biológica encontra-se ameaçada em um país que no ano de 2020 assistiu ao avanço de incêndios generalizados em diversos biomas, sem ações efetivas do governo para combater esse desastre ecológico sem precedentes.
Fonte: ICMBio
Somado às queimadas e desmatamentos no Pantanal, Cerrado e Amazônia, fomos engolidos em 2020 pela pandemia de Covid-19 que nos mostrou como a saúde humana está ameaçada pelas desigualdades socioeconômicas, o desequilíbrio ambiental e o descaso político. Segundo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a preservação e a gestão sustentável da biodiversidade são necessárias para mitigar as perturbações climáticas, garantir a segurança alimentar e de água e até mesmo prevenir pandemias. A quebra do equilíbrio proporcionado pela biodiversidade é um dos pontos que promove o aparecimento de zoonoses virais com potencial pandêmico. A relação entre espécies animais, vegetais e microrganismos, mantém vírus e outros microrganismos naturalmente controlados e contidos num ecossistema saudável (3).
Restaurar e preservar
A intensificação das ações para salvaguardar e restaurar a diversidade biológica é um dentre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas aos 193 países membros a ser alcançado até 2030. Relatórios recentes apontam que o Brasil se encontra cada vez mais longe do desenvolvimento sustentável. A análise dos dados oficiais, reunida no IV Relatório Luz da Sociedade Civil sobre a Agenda 2030, mostra que, mesmo antes da Covid-19, o país já retrocedia de forma sem precedente em relação aos indicadores aferidos (4).
Diante deste cenário de crises políticas, econômicas e ambientais é fundamental que os países, incluindo evidentemente o Brasil, revisem de imediato seus planos nacionais de combate às mudanças climáticas e de preservação e restauro da biodiversidade.
O descompromisso com a Agenda 2030 pode ser fatal para a sanidade do planeta e saúde humana, que já sofre com milhares de vidas perdidas devido à Covid-19.
Fonte: BureauVeritas
Referências:
(1) Retratos: a revista do IBGE. No. 6, dez 2017. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/3ee63778c4cfdcbbe4684937273d15e2.pdf Acessado em 14/05/2021.
(2) Biodiversidade Brasileira. Ministério do Meio-Ambiente. https://antigo.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-brasileira.html Acessado em 15/05/2021.
(3) BUSS, P.M; MAGALHÃES, D. P. As estreitas relações entre a pandemia e a biodiversidade. (2021) Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz. https://cee.fiocruz.br/?q=As-estreitas-relacoes-entre-a-pandemia-e-a-biodiversidade Acessado em 21/05/2021.
(4) IV Relatório Luz da Sociedade Civil da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável Brasil (2020).
Por Thaysa Paschoalin
Possui graduação em Ciências Biológicas Modalidade Médica pela Universidade Federal de São Paulo, doutorado em Microbiologia e Imunologia pela Universidade Federal de São Paulo e pós-doutorado pelo Departamento de Biofísica da Unifesp.
Atualmente é Biomédica contratada na Universidade Federal de São Paulo, chefe da Divisão de Biossegurança no Departamento de Gestão e Segurança Ambiental. Outras informações, clique aqui.
E-mail para contato: tpaschoalin @unifesp.br.
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