5/12 - Dia Nacional do Médico de Família e Comunidade
Especialidade médica que cuida das pessoas ao longo da vida
A Medicina de Família e Comunidade (MFC) foi reconhecida oficialmente no Brasil como especialidade médica pela Associação Médica Brasileira (AMB) em 2002, e a partir de então tem se estabelecido como uma das mais importantes para consolidação da Atenção Primária à Saúde (APS) tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) como no sistema suplementar de saúde (planos e seguros de saúde).
Princípios e práticas da especialidade
Os princípios e práticas da MFC são centrados na pessoa (e não na “doença”), na relação médico e indivíduo, e na relação deste sujeito com sua família e com a comunidade em que vive.
A Medicina de Família e Comunidade é uma especialidade eminentemente clínica que também desenvolve, de forma integrada e integradora, práticas de promoção, proteção e recuperação da saúde dirigidas a pessoas, famílias e comunidades. Estes atributos a tornam uma disciplina estratégica para a ressignificação das bases estruturais da própria profissão médica, adquirindo papel fundamental na constituição dos novos paradigmas em Saúde. Além disso, a MFC tem potencial transformador tanto no âmbito da prática médica quanto na formação de recursos humanos, e no desenvolvimento de pesquisas, contribuindo para uma maior efetividade dessas áreas, inspiradas em bases mais humanas e comunitárias.
Aborda o processo saúde-adoecimento como um fenômeno complexo, relacionado à interação de fatores biológicos, psicológicos, socioambientais e espirituais, sendo, portanto, um processo influenciado fortemente pela estrutura familiar e comunitária do indivíduo.
O ensino, o cuidado e a pesquisa
Ainda há um longo caminho a percorrer para sua completa implementação, pois atualmente menos de 15% dos médicos que atuam na APS têm residência ou título de especialista em MFC.
Internacionalmente, em países como a Inglaterra, Espanha, Portugal, Holanda e Canadá, reconhece-se que médicos e outros profissionais de saúde que forneçam cuidados na Atenção Primária à Saúde (APS) têm que possuir idealmente uma formação específica na área; e, no caso do médico, o “padrão-ouro” de formação é a residência médica, que no Brasil tem duração de dois anos para a Medicina de Família e Comunidade, com um terceiro ano opcional (no exterior esse tempo varia entre três a cinco anos).
No Brasil, os primeiros programas de residência em MFC (antigamente chamada de Medicina Geral e Comunitária) iniciaram suas atividades em 1976, em Recife (Vitória de Santo Antão), Porto Alegre e no Rio de Janeiro. Em 1981, os programas foram credenciados oficialmente pela Comissão Nacional de Residência Médica, e em 1986 a área foi reconhecida como especialidade pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
Fortalecida pela implementação da Estratégia Saúde da Família (ESF) dentro do SUS a partir de 1994, a especialidade passou a ser denominada Medicina de Família e Comunidade, em 2002, e desde então os programas de residência médica se multiplicaram, incluindo a criação do programa vinculado à Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp).
Nos últimos 10 anos, houve um aumento exponencial de programas de residência em MFC oferecidos diretamente pelas secretarias municipais de saúde, fortalecidos pela política dos Mais Médicos.
Segundo orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) em conjunto com a Associação Mundial de Médicos de Família (WONCA), implantar Departamentos ou Unidades de MFC permite o direcionamento necessário para a inclusão da disciplina no espaço acadêmico como também permite a organização dos recursos que são necessários para articular a tríade ensino, cuidado ao paciente e programas de pesquisa.
Por Marcelo Demarzo
Professor do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo e coordenador do Ambulatório de Medicina Geral e Familiar (AMGF/Unifesp). Formado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP, 2000), doutorado em Patologia (USP, 2005), e pós-doutorado em Mindfulness e Saúde Mental (Universidad de Zaragoza, Espanha, 2013), especialista em Medicina de Família e Comunidade (HCFMRP-USP, 2003). Orientador permanente no Programa de Mestrado e Doutorado em Saúde Coletiva da Unifesp. Atuação em Mindfulness (Atenção Plena), promoção da saúde, saúde mental, medicina do estilo de vida, longevidade, Atenção Primária à Saúde (APS), e inovação tecnológica em saúde. Outras informações, clique aqui.
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