Muda viva de árvore generosa se transplanta, dizia Guilherme de Almeida. Era o Hospital São Paulo
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"Em 30 de dezembro de 1936 era lançada a estaca fundamental do Hospital São Paulo. Essa conquista foi possível graças às gestões e o prestígio de Octávio de Carvalho junto ao presidente da Caixa Econômica Federal, dr. Samuel Ribeiro, conseguindo inicialmente empréstimo de dez mil contos para construção do hospital.
Para conhecimento de todos, particularmente dos moços da geração atual, é oportuno transcrever a bela oração de Guilherme de Almeida, orador oficial dessa inesquecível cerimônia:
De armas vencidas e almas vencedoras, mal saía São Paulo de um desastre heróico que o devera abater, se fosse fraco, mas que só o exaltou porque é forte; já sua terra – terra ainda morna dos corpos que se esfriaram sobre ela, beijando-a - lançava-se há pouco mais de três anos, uma semente milagrosa: a da Escola Paulista de Medicina.
No seu famoso discurso inaugural, dizia então o seu admirável fundador, realizador e diretor, dr. Octávio de Carvalho, que estava firmado, com seus companheiros, ‘um pacto de honra de jamais abandonar o sagrado patrimônio, para melhor servir a São Paulo, este orgulho, esta jóia, esta maravilha de civilização contemporânea, em cujo solo germinam e prosperam todas as sementes puras, em cujo ambiente florescem os grandes ideais, em cujo seio em tempo algum deixaram de frutificar os grandes empreendimentos.
Tais palavras, exmas. senhoras e meus senhores, soam-nos agora iluminadas como o eco de uma profecia. Aí está, germinada e prosperada, a semente; aí está, florescido, o ideal, aí está, frutificado, o empreendimento! Aí está a Escola Paulista de Medicina – a árvore boa, em boa hora, sob um signo, numa boa terra e por boas mãos plantada.
Ora, dessa árvore já adulta um galho se cortou e para aqui, neste instante, se transplanta. É essa estaca inicial do Hospital São Paulo, que agora vai ser batida.
Aí está, germinada e prosperada, a semente; aí está, florescido, o ideal, aí está, frutificado, o empreendimento! Aí está a Escola Paulista de Medicina – a árvore boa, em boa hora, sob um signo, numa boa terra e por boas mãos plantada.
Muda viva de árvore enérgica e generosa – que hoje aqui se finca para amanhã trifurcar-se em três ramos e bracejar em doze andares de cimento e aço e abrigar seiscentos leitos entre a folhagem dos seus muros, dando assistência a indigentes, conforto a pensionistas e ensino a estudantes, e servindo anualmente a dezesseis mil enfermos internados e quatrocentos mil em ambulatórios...; muda viva de árvore enérgica e generosa, essa primeira estaca da primeira das três alas do futuro hospital é o eixo firme de toda uma poderosa, nítida simbologia. Olhai em torno dela! Quatro espécies de árvores abraçam estes quinze mil metros quadrados de gleba paulista: araucárias, eucaliptos, aricangas e cafeeiros. Parece de proposito, parece que foi um poeta simbolista que as plantou por aqui, intencionalmente... Araucárias de fuste reto, arqueando os braços, lá em cima, como para amparar um bem que lhes vai cair do céu: as araucárias emblemáticas das paisagens do Sul, refletidas, concentradas, inclinadas para “os pensamentos frios expostos ao contacto do Polo”; as araucárias que, aquém-Mantiqueira, fazem o nosso Cururama oposto ao Pindorama do além-Mantiqueira... E, entre araucárias, os eucaliptos longos, claros, ascensionais, civilizados, saudáveis: a árvore da floresta educada e útil plantada pelo homem: imagem fina de São Paulo de hoje... E, de vez em quando, entre araucárias e eucaliptos, as aricangas: a palmeira de Piratininga, cujas folhas deram palha para colmar e Colégio pobre e os pobres casebres do burgo de Anchieta; deram proteção aos primeiros lares paulistas... E, aí em baixo, sob araucárias e eucaliptos e aricangas, exilados das colinas roxa, dois ou três alegóricos cafeeiros: atestados do nosso trabalho perseverante e da nossa riqueza honesta.
E aqui, nesta porção de solo assim tão genuinamente paulista, nesta elevação de Vila Clementino, nesta altura mais alta do planalto, esta primeira estaca do Hospital São Paulo, que agora vai ser batida, parece, assim reta, rija, vertical, a espada de São Paulo, a espada do Apostolo-Soldado, que foi a Força e foi a Lei.
E vai essa espada cravar-se no chão, num gesto de posso forte e serena. Ela vai levar ao âmago desta terra a vontade tenaz e perfunrante do seu dono. E, como de uma sonda profunda, dela hão de jorrar todos os inumeráveis e inesgotáveis e inestimáveis bens que este chão amoroso esconde e reserva aos que realmente o amam.
Trata-se de um depoimento histórico da mais alta significação pois oriundo, mais do que do Poeta de São Paulo, de um insuspeito cidadão paulista."
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