Os desafios da osteoporose no Brasil
A fratura do quadril representa a consequência mais dramática da osteoporose
No dia 20 de outubro celebramos o Dia Mundial de Combate à Osteoporose. Frequentemente negligenciada, a osteoporose é um grave problema de saúde em todo o mundo.
A doença é caracterizada pela redução da densidade e da qualidade do tecido ósseo que resultam em aumento do risco de fraturas, habitualmente em decorrência de traumas mínimos, quedas da própria altura ou mesmo na ausência de trauma. No Brasil, tem sido estimado que 10 milhões de indivíduos tenham osteoporose com elevada prevalência de fraturas do quadril (1-3).
(Imagem: Internet)
Essas estimativas colocam a osteoporose como doença de grande apelo para a saúde pública, especialmente quando se considera o progressivo envelhecimento da população. Estudos populacionais realizados em nosso país demonstraram que 15,1% das mulheres e 12,8% dos homens com mais de 40 anos relataram fraturas por fragilidade (2). As fraturas vertebrais foram observadas em 29% dos residentes da cidade de São Paulo com mais de 65 anos (4) . Os dados também mostram elevadas taxas de incidência de fraturas em nosso país. A incidência da fratura vertebral padronizada por idade foi de 40,3 e 30,6 por 1000 pessoas/ano em mulheres e homens brasileiros, respectivamente (5) .
Fratura do quadril
A fratura do quadril representa a consequência mais dramática da osteoporose. Estima-se que o número de fraturas de quadril por ano na população brasileira será triplicado até o ano de 2050. Temos atualmente no Brasil cerca de 121.700 fraturas de quadril por ano, número que deve aumentar para 160.000 fraturas anuais em 2050 (2, 6). De acordo com estudos realizados pela Federação Internacional da Osteoporose, os elevados custos do tratamento da fratura de quadril no Brasil causam sobrecarga ao sistema saúde e serão particularmente afetados pelo crescente incremento da população idosa em nosso meio.
Imagem: Arquivo Pessoal
Fatores de risco e a importância do diagnóstico
O diagnóstico precoce da osteoporose faz a diferença uma vez que podemos iniciar tratamentos muito efetivos para reduzir o risco de fraturas.
A doença é mais comum entre as mulheres, especialmente após a menopausa. Outros fatores de risco incluem sedentarismo, tabagismo, baixo peso, uso de bebidas alcoólicas e medicamentos com cortisona. Algumas doenças, tais como o diabetes, artrite reumatoide, doenças inflamatórias intestinais, hipertiroidismo, hipogonadismo, menopausa precoce, desnutrição e doenças hepáticas também são consideradas fatores de risco para o desenvolvimento da osteoporose. Quando os fatores de risco estão presentes, o adequado rastreamento da osteoporose está recomendado.
O diagnóstico precoce da osteoporose faz a diferença uma vez que podemos iniciar tratamentos muito efetivos para reduzir o risco de fraturas. É importante reconhecer os fatores de risco para osteoporose e dessa forma, identificar pessoas que podem se beneficiar de exames diagnósticos como a densitometria óssea. O exame permite a identificação da doença antes do aparecimento das fraturas. Todos os esforços que possam promover a conscientização da população para os riscos da doença e o engajamento dos profissionais de saúde nas estratégias de prevenção primária e secundária serão necessários para alcançarmos os melhores desfechos, mudar o cenário da doença e trazer qualidade de vida e independência aos indivíduos com alto risco de fraturas.
A densitometria óssea possibilita o diagnóstico por imagens, semelhante às dos raios X e que consegue detectar precocemente sinais de perda de espessura óssea e mineral. (Imagem: internet)
Referências
1. Zerbini CA, Szejnfeld VL, Abergaria BH, McCloskey EV, Johansson H, Kanis JA. Incidence of hip fracture in Brazil and the development of a FRAX model. Arch Osteoporos. 2015;10:224.
2. Pinheiro MM, Ciconelli RM, Martini LA, Ferraz MB. Clinical risk factors for osteoporotic fractures in Brazilian women and men: the Brazilian Osteoporosis Study (BRAZOS). Osteoporos Int. 2009;20(3):399-408.
3. Pinheiro MM, Ciconelli RM, Jacques Nde O, Genaro PS, Martini LA, Ferraz MB. The burden of osteoporosis in Brazil: regional data from fractures in adult men and women--the Brazilian Osteoporosis Study (BRAZOS). Rev Bras Reumatol. 2010;50(2):113-27.
4. Lopes JB, Danilevicius CF, Takayama L, Caparbo VF, Menezes PR, Scazufca M, et al. Prevalence and risk factors of radiographic vertebral fracture in Brazilian community-dwelling elderly. Osteoporos Int. 2011;22(2):711-9.
5. Domiciano DS, Machado LG, Lopes JB, Figueiredo CP, Caparbo VF, Takayama L, et al. Incidence and risk factors for osteoporotic vertebral fracture in low-income community-dwelling elderly: a population-based prospective cohort study in Brazil. The São Paulo Ageing & Health (SPAH) Study. Osteoporos Int. 2014;25(12):2805-15.
6. Clark P, Cons-Molina F, Deleze M, Ragi S, Haddock L, Zanchetta JR, et al. The prevalence of radiographic vertebral fractures in Latin American countries: the Latin American Vertebral Osteoporosis Study (LAVOS). Osteoporos Int. 2009;20(2):275-82.
Por Charlles Heldan de Moura Castro
Professor Adjunto da Disciplina de Reumatologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) e coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências aplicadas à Reumatologia da Disciplina de Reumatologia da EPM/Unifesp. Outras informações, clique aqui.
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