Doença de Parkinson: muito mais do que tremores
Mesmo não tendo cura, a doença pode e deve ser tratada
O dia 11 de abril é o Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson. Por que é importante lembrarmos desta data e porque trazemos este tema para discussão?
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A doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais prevalente na população depois da doença de Alzheimer e, apesar de não termos estatísticas nacionais confiáveis, provavelmente acomete cerca de 450 mil brasileiros. Há um estudo realizado em Minas Gerais que identificou que 3,3% dos indivíduos acima de 64 anos têm a doença. É uma condição que afeta, na maioria dos casos, pessoas acima dos 50 anos e nos estágios mais avançados pode levar a incapacitação física e dependência de cônjuges e familiares. É uma doença de caráter crônico e progressivo e embora exista tratamento para os sintomas da doença, não há cura.
Processo degenerativo
A DP é consequência da degeneração de neurônios que sintetizam e liberam o neurotransmissor dopamina no cérebro. A redução da dopamina cerebral faz com que conexões nervosas deixem de ser atividades levando ao aparecimento dos sintomas.
A razão pela qual os neurônios dopaminérgicos se degeneram ainda não é conhecida, embora o conhecimento molecular dos processos degenerativos tenha avançado muito nos últimos anos. Sabe-se que uma proteína denominada alfa-sinucleína se acumula no interior dos neurônios acometidos e possivelmente este acúmulo tem uma relação direta com o início do processo degenerativo. Cerca de 20 a 30% dos pacientes apresentam alterações genéticas que podem afetar o funcionamento da célula dopaminérgica e consequentemente degenerar a célula. Fatores ambientais também são suspeitos de terem um papel no processo da doença. É possível que toxinas ambientais possam interferir no metabolismo das células nervosas e desencadear o processo degenerativo. Do mesmo modo, não podemos deixar de considerar que o envelhecimento tenha um papel na gênese da doença, que embora não seja exclusiva de pessoas mais idosas, a faixa de maior risco de início dos sintomas da doença é entre os 50 e os 70 anos.
Desenho esquemático mostrando o fluxo de dopamina no cérebro em um neurônio normal e outro afetado pela doença de Parkinson. Imagem: Adaptada do Museu do Universo da Farmácia
Muito mais do que tremores
Os sintomas do Parkinson manifestam-se com a instalação gradual e progressiva de tremores, lentidão de movimentos e enrijecimento dos músculos. Com o passar do tempo pode afetar a locomoção, o equilíbrio e a agilidade dos movimentos do corpo.
O volume da voz pode ficar mais baixo e em alguns casos levar a dificuldade para engolir os alimentos e os líquidos. Quedas são relativamente comuns em fases mais adiantadas da doença. Ainda que não seja uma doença fatal, a qualidade de vida costuma ser significativamente comprometida.
Buscando ajuda médica
Apesar de todos os percalços dos pacientes no nosso sistema único de saúde, é possível tratar os pacientes de forma efetiva e, o acesso gratuito aos medicamentos tem sido fundamental para a população.
Embora não exista tratamento curativo ou mesmo que modifique a evolução da doença, o controle dos sintomas é obtido com medicamentos e medidas reabilitadoras. O índice de sucesso com estas medidas é alto e há uma melhora da qualidade de vida do indivíduo com Parkinson.
O neurologista é o médico especialista que atende os indivíduos com Parkinson e o tratamento é realizado com medicamentos, fisioterapia e fonoterapia. O papel da reabilitação é tão importante quanto o dos medicamentos e não deve ser negligenciado pelos médicos.
Há alguns centros especializados no Brasil dedicados ao atendimento dos parkinsonianos e no Hospital São Paulo, o hospital universitário da Unifesp (HSP/HU Unifesp) tem um ambulatório especializado em doença de Parkinson e transtornos do movimento. Atualmente, cerca de 500 pacientes com Parkinson estão em acompanhamento no serviço ambulatorial.
Amor, respeito e cuidado fazem parte do tratamento. Imagem: Shutterstock
Por Henrique Ballalai Ferraz
Professor Adjunto Livre Docente do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). Médico do Setor de Transtornos do Movimento da Disciplina de Neurologia da EPM/Unifesp. Presidente da Seção Panamericana da Sociedade Internacional de Doença de Parkinson e Transtornos do Movimento (2017 a 2019). Secretário Geral da Academia Brasileira de Neurologia (2002 e 2010). Outras informações, clique aqui.
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