Pesquisadores investigam autofagia celular no tratamento da Covid-19
Estudo avalia ação benéfica de agentes da Cannabis sativa
Por Valquíria Carnaúba
Alguns fármacos indicados para o combate à Covid-19 atuam por meio da modulação da autofagia celular, pois o coronavírus (SARS-CoV-2) se vale desse mecanismo para multiplicar seu material genético na célula hospedeira. A investigação sobre tal evidência está sendo conduzida por Soraya Soubhi Smaili, reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e por Gustavo José Silva Pereira, ambos docentes do Departamento de Farmacologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo.
Smaili e Pereira se uniram a um grupo de pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento (virologia, fisiopatologia pulmonar, farmacologia celular e molecular) da Unifesp, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), Universidade College London (Londres), Universidade de Salento e Universidade de Roma (Itália). A associação está permitindo que diversas pesquisas sejam feitas em caráter de colaboração, com intensa troca de informações.
Ambos os pesquisadores estão avaliando a ação benéfica - redução dos efeitos deletérios da covid-19 - de agentes oriundos da Cannabis sativa, como o canabidiol. Essas substâncias podem agir na indução do processo autofágico, a depender do tempo e da concentração de tratamento. Além disso, eles identificaram como atuam os fármacos sobre os receptores celulares denominados Two-Pore Channels (TPCs), responsáveis por modular a autofagia.
A produção viral será avaliada qPCR, técnica de análise laboratorial utilizada para fazer muitas cópias de uma determinada parte do DNA ou RNA produzidos pelo vírus. Os resultados serão comparados entre diferentes linhagens celulares comumente infectadas pelo Sars-CoV-2, incluindo células endoteliais pulmonares e vasculares. A autofagia, processo de degradação e reciclagem de componentes da célula, começou recentemente a ser mais discutida após debates mundiais sobre o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina para o combate à Covid-19. Entretanto, o tema já é estudado há muitos anos por inúmeros cientistas, que buscam respostas que expliquem sua relação com o câncer, doenças cardiovasculares e degenerativas.
Os resultados positivos poderiam viabilizar o uso de medicamentos que atuam pela autofagia celular, aumentando o leque de tratamentos possíveis para a doença. "O efeito do Sars-CoV-2 também será investigado em células neuronais, devido às evidências recentes do potencial neuroinvasor desse vírus. A identificação das vias de sinalização intracelular desencadeadas pela ativação ou inibição dos receptores de TPCs ou canabinoides na infecção viral por Sars-CoV-2 nos indicará o mecanismo de ação desses fármacos, e possíveis pontos de controle", explicam.
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