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Álvaro Lemos Torres - fundador e segundo diretor da EPM

Publicado: Quinta, 03 de Novembro de 2022, 14h34 | Última atualização em Quinta, 15 de Junho de 2023, 23h00 | Acessos: 14463

O busto do docente, localizado na famosa escadaria do Campus SP, é uma homenagem que completou 80 anos

Ouça acima o conteúdo deste artigo.

escadaria e busto lemos torres

Imagem: Loane Carvalho (ComunicaSP/Unifesp)

 

Você já deve ter visto em vários registros fotográficos ou até mesmo ao vivo o busto de bronze localizado na escadaria do Edifício Leitão da Cunha, prédio símbolo da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), né? Ele é uma obra do escultor Roque de Mingo que está localizada no Campus São Paulo da Unifesp e que foi feita em homenagem de amigos e alunos, em 28 de outubro de 1942. 

Mas… Você já se perguntou a história de quem a mesma representa? Aqui você vai saber a resposta para essa pergunta e ainda uma curiosidade pouco difundida sobre a famosa escadaria do Campus São Paulo. 

O docente representado no busto também tem vários registros no local que muita gente faz uma pausa para tirar uma selfie ou faz aquela foto emblemática com a turma do curso. E ele tem nome:  Álvaro Lemos Torres.

 

Corpo de Enfermagem, Álvaro Lemos Torres, Álvaro Guimarães Filho e Nicolau Rossetti

Corpo de Enfermagem, Álvaro Lemos Torres, Álvaro Guimarães Filho e Nicolau Rossetti (Arquivo iconógrafico do CeHFi/Unifesp) 

 

Trajetória antes de 1933

Álvaro Lemos Torres nasceu em 15 de abril de 1884, na cidade do Rio de Janeiro. Fez o Curso de Humanidades no Colégio Pedro II, então chamado Ginásio Nacional, onde se bacharelou em Ciências e Letras, em 1902. A partir de concessão legal, em março de 1903 fez exame para uma vaga no segundo ano do Curso de Medicina da Faculdade do Rio de Janeiro, tendo sido aprovado. Assim, foi possível terminar seu curso em 1907.

De 1908 a 1913, trabalhou em Avaré, no interior do Estado de São Paulo, onde foi diretor Clínico da Santa Casa, prestando serviços nesse estabelecimento sem qualquer remuneração. Ainda em 1908, foi nomeado médico da Estrada de Ferro Sorocabana, da qual se demitiu em 1916.

Em 1914, substituiu interinamente o Dr. Dorival Camargo Penteado, assistente do Butantã. Nessa ocasião foi encarregado da Sorologia Antiofídica e da classificação das peças do Museu relativas à Parasitologia.

Em 1916, entrou para o ensino médico como primeiro assistente do prof. Rubião Meira (Primeira Cadeira de Clínica Médica da Faculdade de Medicina), na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Mais tarde, chefiou a Segunda Enfermaria de Medicina, onde exerceu a investigação e o ensino de maneira mais plena.

Em 1919, por proposta do diretor clínico da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho, foi nomeado chefe da Quinta Enfermaria de Homens e Mulheres desse estabelecimento.

De 1919 a 1921, esteve nos Estados Unidos com uma bolsa da Fundação Rockfeller de onde trouxe os fundamentos de eletrocardiografia.

Em 1932, o Dr. Sinésio Rangel Pestana, então diretor dos Hospitais da Santa Casa de São Paulo, nomeou Lemos Torres para a Diretoria do Hospital São Luís Gonzaga, em Jaçanã.

Lemos Torres criou o primeiro serviço de atendimento pré-natal em São Paulo, a pedido do Dr. Silvio Maia, diretor da Maternidade de São Paulo e professor de Clínica Obstétrica. Lemos atendeu a mesma solicitação feita pelo professor Raul Briquet na Faculdade de Medicina, quando este substituiu o Dr. Silvio Maia.

 

De fundador a diretor da EPM

Em 17 de março de 1938, cinco dias depois de receber o pedido de demissão de Octávio de Carvalho, houve a tensa reunião da Congregação que julgou o mérito da questão e elegeu Álvaro Lemos Torres o segundo diretor da EPM. 

Em 1933, Álvaro Lemos Torres fazia parte do grupo composto por 33 fundadores que participou da fundação da Escola Paulista de Medicina (EPM). Infelizmente não participou da assinatura do Manifesto da EPM, uma vez que estava no exterior. 

A construção de um hospital-escola. além de ser um compromisso dos fundadores da EPM, registrado no Manifesto, era essencial para a expansão da "Escolinha". Enquanto Octávio de Carvalho angariava fundos junto ao poder público e à iniciativa privada. Lemos visitou diversos hospitais na Europa (Alemanha, França e Itália) e nos Estados Unidos (universidade de Columbia e Harvard, entre outras), tendo permanecido em alguns deles como estagiário, com o objetivo de conhecer em profundidade o funcionamento de seus serviços de assistência à saúde. O interesse de Lemos pelo tema não era recente, como mostra sua aula inaugural do ano de 1934, na qual havia defendido a integração entre prática clínico-cirúrgica e pesquisa científica.

Em 17 de março de 1938, cinco dias depois de receber o pedido de demissão de Octávio de Carvalho, houve a tensa reunião da Congregação que julgou o mérito da questão e elegeu Álvaro Lemos Torres o segundo diretor da EPM. 

O processo de criação da Escola de Enfermagem, anexa à Escola e ao hospital, com o objetivo de profissionalizar o serviço assistencial oferecido pela EPM foi concluído em março de 1939, por iniciativa de Álvaro Guimarães Filho - que já havia criado o curso de Enfermagem Obstétrica, com 17 leitos, em outubro de 1938 - e do diretor Lemos.

A gestão do segundo diretor da Escola significou uma mudança de rumo, em direção à excelência da aplicação prática dos ensinamentos médicos. Com a criação do curso de Enfermagem e, sobretudo, a inauguração dos primeiros cinco andares do Hospital São Paulo (HSP), em 1940, a Escola Paulista de Medicina pôde, enfim, encher o peito na defesa do tripé ensino, pesquisa e assistência, princípio que passou a nortear a instituição.

Foi em sua gestão que a Escola promoveu o primeiro concurso para professor catedrático. Em 20 de março de 1939, José Ribeiro do Valle assumiu a cadeira de Farmacologia.

Em 1942, uma tragédia abalou a comunidade médico-científica paulista e brasileira. Esportista apaixonado, Lemos apreciava a equitação. Na ensolarada tarde de 18 de janeiro, fazia uma cavalgada pela Sociedade Hípica, na companhia do embaixador José Carlos de Macedo Soares, quando o cavalo tropeçou subitamente, levando o professor ao solo. Desta queda veio a falecer.

 

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Imagem: Arquivo iconógrafico do CeHFi/Unifesp

 

 

Álvaro Lemos Torres por José Inácio Lobo, texto do docente para o livro comemorativo dos 40 anos de fundação da EPM

A sua objetividade, o seu rigor no julgamento não o impedia de ser, como de fato foi, um verdadeiro esteta, pois além de apreciador das artes, se dedicava à escultura, com resultados plásticos de invejável requinte.

“Lemos Torres foi um espírito eminentemente objetivo, que, no julgamento dos fatos, não se deixava dominar por preconceitos ou por motivos emocionais. Refutava as afirmações que entendia errôneas com a mesma sinceridade e com a mesma firmeza com que aceitava as objeções que lhe pareciam justas. O rigor da crítica por vezes desagradava o contendor, mas, a absoluta probidade mental com que exercia lhe granjeou o respeito e admiração dos seus discípulos e colegas.

Esteve várias vezes nos Estados Unidos, inclusive como bolsista da Fundação Rockfeller, e mais tarde, na Europa, estagiando nos principais serviços de Cardiologia e Clínica Médica. Dentre os grandes nomes da medicina estrangeira com que efetivamente estudou e trabalhou há de citar-se os de White, Levine e Wilson nos Estados Unidos, o de Lewis na Inglaterra, e mais tarde, o de Volhard e Becker na Alemanha. 

Sem contar numerosos estudos pessoais sobre os assuntos de sua preferência, há que assinalar a descoberta que fez de um novo sinal de derrame pleural, que recebeu a designação de sinal de Lemos Torres.

A sua objetividade, o seu rigor no julgamento não o impedia de ser, como de fato foi, um verdadeiro esteta, pois além de apreciador das artes, se dedicava à escultura, com resultados plásticos de invejável requinte." 

 

Uma pausa para a fotografia

 

Escadaria A Escadaria B Escadaria C Escadaria D

(Clique na imagem para ampliar)

A escadaria constitui-se em um lugar da memória da Escola Paulista de Medicina, já que quase todas as imagens oficiais reunindo autoridades internas ou convidados foram feitas nesse espaço, desde a década de 1930 até o presente. A disposição dos retratos não é aleatória, mas posada: a centralidade condiz com a importância de sua figura. A hierarquia do conjunto vai do centro para os lados. 

 

Fontes:

A Escola Paulista de Medicina – dados comemorativos de seu 40º aniversário (1933-1973) e anotações recentes. José Ribeiro do Valle. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977,

A Universidade da Saúde (1933 - 2003) Escola Paulista de Medicina - 70 anos. pgs. 16-31

Memórias do Cuidar - 70 anos da Escola Paulista de Enfermagem 

Imagens: Acervo iconográfico do CeHFi/Unifesp

 

Este artigo faz parte do "Memórias do Campus São Paulo" - clique aqui para acessar outras postagens e conhecer este projeto.

 

 

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