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Estudo avalia efeito protetor do hormônio estrogênio contra infecção pelo coronavírus
Pesquisadores da Unifesp e da Santa Casa também investigam ação de fármacos que inibem autofagia celular
Por Valquíria Carnaúba
Por que o coronavírus afeta mais o gênero masculino? De que forma piora a saúde global de um paciente com covid-19? Essas são algumas das perguntas que movem hoje Rodrigo Ureshino, docente do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) e integrante do Laboratório de Endocrinologia Molecular e Translacional. Junto a um grupo de pesquisadores dos campi Diadema, São Paulo e Baixada Santista, e das Faculdades de Medicina e de Ciências Médicas da Santa Casa, o docente se envolveu no projeto Avaliação de Compostos com Potencial Terapêutico para SARS-CoV-2: Enfoque em Compostos com Atividade Estrogênica, Moduladores da Autofagia e CAa2.
O estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), se desenvolverá em duas linhas principais. Em uma delas, os pesquisadores partem do pressuposto que o gênero feminino está mais protegido contra o coronavírus devido ao estrogênio - designação genérica dos hormônios cuja ação está relacionada com o controle da ovulação e com o desenvolvimento de características femininas (como o estradiol).
"Sempre atuei no estudo de doenças neurodegenerativas, incluindo a neuroproteção estrogênica. Essa relação existe desde que surgiram estudos associando a falta de estrógenos à Doença de Alzheimer. A partir das evidências que apontam taxas de agravamento da doença e de mortalidade pela covid-19 mais altas para o sexo masculino, buscamos a correlação entre o estrogênio e uma maior proteção das mulheres em relação à doença", explica. Os pesquisadores investigarão a expressão da enzima conversora da angiotensina (ECA2), que age como receptora do vírus para a infecção, e cuja atividade pode ser modulada pelo estrogênio.
A outra frente de pesquisa vai avaliar a ação da hidroxicloroquina, fármaco utilizado no tratamento da malária, lúpus e artrite reumatoide, na modulação da autofagia em células humanas. De maneira simplificada, o coronavírus se utiliza da autofagia celular para espalhar seu material genético na célula. E a hidroxicloquina barra a multiplicação do vírus justamente inibindo a autofagia. A grande questão, nesse momento, é entender como a principal ferramenta desse medicamento para frear o coronavírus pode, por outro lado, ser prejudicial às mesmas células.
De acordo com Ureshino, a autofagia é um processo que garante a sobrevivência das células, e o estudo vem para entender melhor como isso ocorre. "Por meio desse processo, a célula degrada partes e componentes considerados 'danosos', assim como patógenos. Talvez, modulando a autofagia (associando esse fármaco a outros), encontremos algum benefício no uso dele", complementa.
O docente conta que os testes serão feitos em células de linhagem humanas, em um Laboratório de Biossegurança Máxima (NB3) da universidade, coordenado pelo docente Mario Janini, a partir de uma biblioteca de compostos com atividade estrogênica. "O vírus será cultivado em linhagens celulares que possam suportar a replicação viral, dentre elas células epiteliais brônquicas humanas (BEAS) e células epiteliais alveolares encontradas no tecido pulmonar (A549)", finaliza.
O grupo multidisciplinar é composto por pesquisadores dos departamentos:
- Departamento de Ciências Biológicas (Rodrigo Portes Ureshino)
- Departamento de Microbiologia Imunobiologia e Parasitologia (Luiz Mário Ramos Janini, Juliana Terzi Maricato e Carla Torres Braconi)
- Departamento de Medicina (Nancy Cristina Junqueira Bellei e Ricardo Sobhie Diaz)
- Departamento de Farmacologia (Soraya Soubhi Smaili e Gustavo José da Silva Pereira)
- Departamento de Biociências (Carla Máximo Prado)
- Departamento de Ciências Fisiológicas - Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa (Roberta Sessa Stilhano)
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