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Tiques incontroláveis: saiba mais sobre a síndrome de Tourette

Publicado: Quinta, 03 de Novembro de 2022, 00h00 | Última atualização em Sexta, 11 de Novembro de 2022, 09h50 | Acessos: 92658

A síndrome de Tourette é uma condição caracterizada por tiques incontroláveis que podem incluir tiques motores e vocais

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A chamada síndrome de Gilles de La Tourette, ou simplesmente síndrome de Tourette (ST), é um transtorno típico da infância e adolescência manifestando-se com tiques.  Vale mencionar que os tiques isolados podem aparecer em muitas crianças e adultos sem que se caracterize o diagnóstico de síndrome de Tourette.

 

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Imagem: Adobe Stock

 

Tiques e sintomas da síndrome de Tourette

Um estudo brasileiro, realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), revelou que tiques em crianças e adolescentes pode chegar a 2,27% da população.

Por definição, tique caracteriza-se por contrações musculares rápidas e estereotipadas que podem ser inibidas pela vontade do indivíduo. Entretanto, a maioria dos indivíduos relatam um desconforto ou “agonia” interna que é aliviada com o movimento estereotipado. Os movimentos chamados de tiques motores simples, manifestam-se por leves sacudidas da cabeça, movimentos da asa do nariz, elevações dos ombros ou careteamento. Há também os tiques sonoros ou vocais que se manifestam com ruídos na garganta ou nariz, como pigarro, fungadas e tosse. Os tiques podem ser mais complexos com movimentos sequenciais, parecendo haver um propósito. Do mesmo modo, as vocalizações podem se manifestar com monossílabos, gritos ou palavras. Um estudo brasileiro, realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), revelou que tiques em crianças e adolescentes pode chegar a 2,27% da população.

 

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Imagem: Internet

 

Os tiques nas crianças em idade pré-escolar e escolar na maioria das vezes são transitórios e desaparecem completamente à medida que a criança amadurece e atinge o final da adolescência. Uma pequena parcela dos indivíduos pode permanecer com tiques na idade adulta. É importante considerar que tique usualmente é uma condição benigna sem grandes repercussões na vida da criança. 

A síndrome de Tourette por sua vez, é uma condição duradoura que pode causar um impacto negativo na vida do indivíduo. Na ST os tiques são persistentes e tendem a ir mudando de característica com o passar do tempo. Podem ocorrer, por exemplo, um piscamento frequente, que pode ser substituído por uma sacudida de ombro ou um ruído na garganta e assim sucessivamente. Os tiques vocais ou sonoros são muito frequentes na síndrome. Algumas crianças, apresentam grunhidos, sons de pigarro ou de limpeza da garganta, enquanto outras têm compulsão para falar palavrões e xingamentos (chamados de coprolalia). Gestos obscenos (copropraxia) também podem ocorrer e são muito constrangedores para o próprio indivíduo.

  

Relação com outras doenças e tratamento

O tratamento dos tiques só é necessário quando causam algum tipo de desconforto ao indivíduo ou impactam o seu relacionamento social, que, diga-se, é a minoria dos casos.

Sintomas de transtorno obsessivo-compulsivos (TOC) e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) são frequentes acompanhando os tiques na síndrome de Tourette e, quando presentes, tendem a comprometer mais a vida do indivíduo do que propriamente os tiques.

O tratamento dos tiques só é necessário quando causam algum tipo de desconforto ao indivíduo ou impactam o seu relacionamento social, que, diga-se, é a minoria dos casos. Nos casos mais sérios, as crianças, particularmente as na idade escolar, podem se isolar do convívio das outras por serem rotuladas como “esquisitas” ou “diferentes” e ganhar apelidos constrangedores (“pisca-pisca”, “maluquinho”, etc). Aqui, a psicoterapia ou mesmo medicamentos podem ser necessários. Os medicamentos utilizados melhoram parcialmente os tiques e podem fazer com que o indivíduo se sinta mais confiante e seguro mesmo que os sintomas não tenham desaparecido completamente, mas por outro lado, podem ter efeitos colaterais e exigem um acompanhamento periódico com o neurologista ou neuropediatra.  

Formas mais resistentes de síndrome de Tourette exigem doses elevadas dos medicamentos e a combinação com a psicoterapia é o mais apropriado para a maioria dos casos. Quando estes tratamentos não devolvem a qualidade de vida do indivíduo ou não são suficientes para que o indivíduo não se constranja ou constranja aos que com ele convivem, a cirurgia cerebral pode ser indicada.

 

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Terapia de Estimulação Cerebral Profunda (Imagem: Medtronic)

 

A cirurgia para tratamento da síndrome de Tourette consiste no implante de eletrodos em estruturas intracerebrais (particularmente nos chamados de núcleos da base do cérebro) que são conectadas a um marcapasso para estimulação destas estruturas. Este tratamento chamado de estimulação cerebral profunda ou DBS, “deep brain stimulation”, pode trazer alívio para casos selecionados.

O ambulatório de Neurologia do Hospital São Paulo, hospital universitário da Universidade Federal de São Paulo (HSP/HU - Unifesp), atende a pacientes com tiques e síndrome de Tourette e tem especialistas treinados para o manejo destes casos. O ambulatório de Neurologia funciona na Rua Pedro de Toledo, 650 e atende a pacientes encaminhados pelo sistema CROSS - Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde do Sistema Único de Saúde (SUS).

 

Referência

Alves HL, Quagliato EMAB. The prevalence of tic disorders in children and adolescents of Brazil. Arq Neuropsiquiatr 2014;72:942-948. DOI: 10.1590/0004-282X20140174

Hallet M. Tourette syndrome: update. Brain Dev 2015;37:651-655. DOI: 10.1016/j.braindev.2014.11.005

Jankovic J. Treatment of tics associated with Tourette syndrome. J Neural Transm 2020; 127:843-850. DOI: 10.1007/s00702-019-02105-w

Stern JS. Tourette’s syndrome and its borderland. Pract Neurol 2018;18:262-270. DOI: 10.1136/practneurol-2017-001755

 

Henrique Ballalai FerrazPor Henrique Ballalai Ferraz

Professor Adjunto - Livre Docente do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). Médico do Setor de Transtornos do Movimento da Disciplina de Neurologia da EPM/Unifesp. Professor do Programa de Pós-graduação em Neurologia e Neurociências da Unifesp. Outras informações, clique aqui.

 

 

 

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