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Com a vida não se brinca, não deixe o tabaco tirar seu fôlego

Publicado: Sexta, 27 de Agosto de 2021, 00h00 | Última atualização em Sábado, 28 de Agosto de 2021, 23h05 | Acessos: 78815

29/08 - Dia Nacional de Combate ao Fumo

O Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado em 29 de agosto, tem como objetivo reforçar as ações nacionais de sensibilização e mobilização da população para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais causados pelo tabaco. Criado em 1986 pela Lei Federal nº 7.488, a data inaugura a normatização voltada para o controle do tabagismo como problema de saúde coletiva.

 

O tabagismo e seus danos à saúde

O tabaco é uma planta (Nicotiana tabacum) cujas folhas são utilizadas em diferentes produtos que têm o princípio ativo da nicotina1. Há diversos produtos derivados de tabaco como: cigarro, charuto, cachimbo, cigarro de palha, cigarrilha, tabaco para narguilé, rapé, fumo-de-rolo, dispositivos eletrônicos e outros.

O tabagismo é considerado a maior causa evitável isolada de adoecimento e mortes precoces em todo o mundo3.                           

Atualmente, o tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina que está presente nos produtos à base de tabaco. Dentro da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID-10), integra o grupo de transtornos mentais e comportamentais em razão do uso de substância psicoativa, sendo seu código F17.02.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. Mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto desse produto, enquanto cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo4.

O fumo ativo e a exposição passiva da fumaça que é liberada do cigarro está relacionada com, pelo menos, 50 tipos de doenças e vários tipos de câncer; particularmente, o tabaco está relacionado com doenças do aparelho respiratório como enfisema pulmonar, bronquite crônica, asma, infecções respiratórias e doenças cardiovasculares, como angina, infarto agudo do miocárdio, hipertensão arterial, aneurismas, acidente vascular cerebral e tromboses. Não se pode deixar de falar sobre outras doenças como úlcera do aparelho digestivo, osteoporose, catarata, doenças buco-dentais, impotência sexual no homem, infertilidade na mulher, menopausa precoce e complicações na gravidez, entre outras5.

Apesar dos efeitos diretos à saúde, o tabagista não é a única pessoa exposta a essas milhares de substâncias danosas presentes nos cigarros. O vapor liberado pela queima do cigarro espalha diferentes substâncias no ar, que atingem rapidamente os pulmões de outras pessoas à sua volta, podendo provocar danos a estes indivíduos de forma involuntária.

Apesar dos efeitos diretos à saúde, o tabagista não é a única pessoa exposta a essas milhares de substâncias danosas presentes nos cigarros. O vapor liberado pela queima do cigarro espalha diferentes substâncias no ar, que atingem rapidamente os pulmões de outras pessoas à sua volta, podendo provocar danos a estes indivíduos de forma involuntária. (Crédito: Active Pharmaceutica)

 

O risco do tabagista desenvolver doença cardíaca ou acidente vascular encefálico é duas a quatro vezes maior comparado com um não fumante. Em relação ao desenvolvimento do câncer de pulmão, a chance em relação a um não fumante no homem é 23 vezes maior e na mulher, 14 vezes maior. Em relação à morte por doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), o risco é de 12 a 13 vezes maior do que em um não fumante. No Brasil, 428 pessoas morrem por dia por causa da dependência à nicotina, correspondendo a 156.220 mortes anuais. Estima-se que o governo brasileiro tem um gasto de 56,9 bilhões de reais anuais em despesas médicas.  Os maiores números de mortes estão relacionados com as doenças cardíacas e a DPOC6.

 

Fumar não prejudica apenas os pulmões. Tais substâncias podem causar danos irreversíveis ao longo de todo o sistema digestivo (boca, laringe, esôfago, estômago e intestinos), no coração, no sistema nervoso central, além de interferir no metabolismo energético, na fertilidade e na gestação

(Crédito: Active Pharmaceutica)

 

Ações e queda no consumo

Deve-se ressaltar que no Brasil vem ocorrendo uma queda muito importante no número de fumantes devido às ações desenvolvidas pela Política Nacional de Controle do Tabaco (PCNT) que incluem ações estratégicas fundamentais educativas, legislativas e econômicas e priorizando o tratamento do fumante na rede do Sistema Único de Saúde (SUS)7,8,9.

O tratamento de tabagismo no Brasil é desenvolvido com base nas diretrizes do PNCT que estão sob a coordenação e gerenciamento da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco (Ditab) do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Em 2019, a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) mostrou que a prevalência de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 9,8%, sendo, 12,3 % entre homens e 7,7 % entre mulheres. Em 1990 a prevalência total de fumantes era 33,6%, o que atesta a grande diminuição de fumantes no país. Essa queda de fumantes é considerada uma das maiores no mundo e deve-se ao grande esforço do governo e das autoridades sanitárias, da contribuição dos profissionais das várias áreas da saúde e, principalmente, da compreensão da população sobre os malefícios do tabagismo.

 

Fumantes - Variação Temporal - Vigitel (2006 a 2019)

(Crédito: Inca)

 

Por que as pessoas fumam?

Os fatores mais associados ao tabagismo incluem prazer, hábito e dependências física e psicológica.

Em relação à dependência física, a pessoa ao inalar a fumaça do tabaco permite que a nicotina caia na circulação sanguínea e chegue às células cerebrais. A associação da nicotina com a célula cerebral faz com haja liberação de substâncias psicoativas como a serotonina, noradrenalina e dopamina, causando modificações no estado emocional e comportamental do usuário que podem induzir ao abuso e dependência. Outros fatores que também influenciam o início do tabagismo são as publicidades e o tabagismo no grupo familiar e social.

A grande maioria dos fumantes começa a fumar na fase da adolescência, mas é possível que em torno de 20% iniciem o tabagismo após os 20 anos. Ao longo deste percurso até a idade mais avançada muitos fumantes continuam a fumar, pois aprendem a relaxar com muita rapidez pelo efeito que a nicotina libera, pela dependência do hábito ou comportamental, além do fator emocional. Mas muitas pessoas acreditam que o fumante fuma por que quer e que não para por que não quer, infelizmente esta é uma informação totalmente distorcida, um dos mitos que necessita ser corrigido se quisermos, realmente, ajudar ao fumante.

 

PrevFumo - programa de assistência da Unifesp

O PrevFumo apresenta uma taxa de sucesso de 50% nos últimos 15 meses. O tratamento é gratuito, baseando-se nas normas do Inca, órgão do Ministério da Saúde responsável por regulamentar o tabagismo no Brasil. 

O Núcleo de Prevenção e Cessação do Tabagismo (PrevFumo) foi criado em 1988 pela EPM/Unifesp e HSP/HU Unifesp com a finalidade de auxiliar fumantes que desejam parar de fumar. A equipe do PrevFumo é composta por médicos pneumologistas, psicólogos, fisioterapeutas e enfermeiros. A cada dois meses há disponibilidade de horário para dez novos grupos. Todos os pacientes realizam teste de função pulmonar (espirometria).

O tratamento não farmacológico constitui-se de técnicas cognitivo-comportamentais abordadas em reuniões de grupo com a duração de oito sessões semanais de 90 minutos cada uma. Já a terapia farmacológica, que é fornecida pelo governo, disponibiliza adesivos de nicotina e bupropiona, medicamento via oral para diminuir a vontade de fumar.

Os interessados em participar do programa devem agendar um horário para avaliação individual e realização de teste de função pulmonar pelos telefones (11) 5572-4301 ou (11) 5576-4848 (ramal 17004). O ambulatório está localizado na Rua Botucatu, n.º 989 - Vila Clementino, São Paulo/SP.

 

Nunca é tarde para deixar o cigarro

- Como deixar o cigarro? O primeiro passo é preciso querer parar de fumar, conscientizando-se dos malefícios que o cigarro provoca no organismo e/ou ter alguma outra razão para deixar de fumar. No PrevFumo, temos observado várias causas que os fumantes dizem do porquê querem parar de fumar: doença própria causada pelo cigarro, doença em amigo ou parente, dar exemplo a filho ou neto para não fumar, ajudar ao cônjuge a deixar de fumar, economizar dinheiro. O segundo passo, se não consegue parar sozinho, é procurar uma equipe especializada em tratamento de cessação de tabagismo. Tratar com uma equipe especializada tem maior porcentagem de sucesso na cessação do tabagismo. (Crédito da imagem: Box - Renan Monteiro)

 

Referências Bibliográficas

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Secretaria de Atenção à Saúde. Glossário temático: fatores de proteção e de risco de câncer. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
  2. Brasil. Décima Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças  e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10 - 1997).
  3. Drope, J.; Schluger, N.; Cahn, Z.; Hamill, S.; Islami, F.; Liber, A.; Nargis, N.; Stoklosa, M. The Tobacco Atlas. Atlanta: American Cancer Society and Vital Strategies. 2018. 
  4. World Health Organization. Tobacco. 
  5. U.S. Department of Health and Human Services. The Health Consequences of Smoking: A Report of the Surgeon General. Atlanta: U.S. Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention, National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion, Office on Smoking and Health, 2004. 
  6. Pinto, M; Bardach, A; Palacios, A; Biz, A; Alcatraz, A; Rodriguez, B; Augustovski, F; Pichon-Rivieri, A. Carga de doença atribuível ao uso do tabaco no Brasil e potencial impacto do aumento de preços por meio de impostos. Documento técnico IECS N° 21. Instituto de Efectividad Clínica y Sanitaria, Buenos Aires, Argentina. Maio de 2017. 
  7. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer, Coordenação de Prevenção e Vigilância, Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco de Câncer, 2005 – Deixando de Fumar sem Mistérios – Manual do Coordenador, Rio de Janeiro.
  8. Fiore, MC,; Jaén, CR; Baker, TB, et al. Treating Tobacco Use and Dependence: 2008 Update. Clinical Practice Guideline. Rockville, MD: U.S. Department of Health and Human Services. Public Health Service.
  9. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Ciência e Tecnologia. Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde – BRATS, ano V, n. 12, 2010.

 

 

rosangela vicentealdo

Por Rosangela Vicente

Coordenadora do Núcleo de Apoio a Cessação de Tabagismo (PrevFumo) da Disciplina de Pneumologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). Possui graduação em Psicologia (Universidade Ibirapuera, 2000). Atua como psicóloga no Centro de Reabilitação Pulmonar da Disciplina de Pneumologia (EPM/Unifesp). Outras informações, clique aqui

Aldo Agra de Albuquerque Neto

Pneumologista na Unidade de Reabilitação Pulmonar da Universidade Federal de São Paulo, Médico assistente do ambulatório de DPOC e coordenador do Núcleo de Cessação de Tabagismo - PrevFumo. Outras informações, clique aqui. 

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