Ir direto para menu de acessibilidade.
Início do conteúdo da página

Insegurança alimentar atinge 12,5% da população em São Paulo

Publicado: Quinta, 07 de Novembro de 2024, 08h29 | Última atualização em Quinta, 07 de Novembro de 2024, 08h29 | Acessos: 2901
Inquérito conduzido por docentes da Unifesp revela disparidades socioeconômicas e destaca a vulnerabilidade das mulheres e população negra nas áreas periféricas da cidade
 
Imagem da capa do Inquérito escrito I Inquérito sobre a Situação Alimentar do Município de São Paulo e uma figura com o mapa de São Paulo, um prato e uma colher
Imagem: capa do Inquérito

 

O I Inquérito sobre a Situação Alimentar do Município de São Paulo, liderado pelos(as) professores(as) Daniel Bandoni e Luciana Y. Tomita, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o professor José Raimundo Sousa Ribeiro Junior, da UFABC, revela dados alarmantes sobre a fome e a insegurança alimentar na capital paulista. O estudo, conduzido entre maio e julho de 2024, traz um diagnóstico abrangente e expõe desigualdades que afetam diferentes grupos populacionais, especialmente nas periferias da cidade.

Segundo o levantamento, aproximadamente 1,4 milhão de pessoas (12,5% da população) vivem em domicílios onde foi constatada insegurança alimentar grave ou situação de fome, caracterizada pela ruptura nos padrões de alimentação por falta de recursos financeiros. Outras 1,5 milhões (13,5%) estão em insegurança alimentar moderada, com redução da quantidade de alimentos, e cerca de 2,8 milhões (24,5%) enfrentam insegurança leve, com incerteza ou preocupação constante em relação ao acesso futuro a alimentos.

A professora Luciana Tomita destaca a gravidade da situação: "Esses dados revelam que mais da metade da população paulistana convive com a insegurança alimentar, desde a preocupação com a próxima refeição até a situação de fome, especialmente nas áreas mais vulneráveis da cidade. A insegurança alimentar grave, em particular, reflete a insuficiência de políticas públicas para garantir o direito humano à alimentação adequada". 

 

Desigualdades socioespaciais e grupos mais afetados

O inquérito sobre a situação alimentar revela que 72% das pessoas vivendo em insegurança alimentar grave estão concentradas nas periferias da cidade, como as regiões “Leste 2” e “Sul 2”, que abrigam, respectivamente, 446 mil e 297 mil pessoas nessas condições. No entanto, mesmo áreas mais centrais, como "Oeste 1" e "Sul 1", registram um contingente significativo de moradores(as) afetados(as), totalizando 185 mil pessoas.

As desigualdades de gênero e raça também emergem como fatores determinantes para a insegurança alimentar. Quando a pessoa de referência no domicílio é mulher, a ocorrência de insegurança alimentar grave é 1,8 vezes maior do que nos domicílios liderados por homens. A disparidade é ainda maior quando se considera a cor da pele: domicílios liderados por pessoas pretas têm 60,7% de insegurança alimentar, contra 44,3% nos liderados por pessoas brancas. A combinação de gênero e raça agrava o cenário: em lares com mulheres pretas à frente, a proporção de insegurança alimentar grave é 2,1 vezes maior do que em lares liderados por homens brancos.

 

Políticas públicas e acesso insuficiente aos programas sociais

O estudo aponta que os auxílios sociais disponíveis, como o Bolsa Família, o auxílio-gás e ações de doação de alimentos não têm sido suficientes para alcançar os domicílios em insegurança alimentar moderada e grave. Além disso, observa-se que muitos desses lares dependem de empregos precários, como trabalho doméstico informal ou temporário, e enfrentam dificuldades econômicas que agravam sua vulnerabilidade alimentar.

"A pesquisa indica que as ações assistenciais precisam ser ampliadas para atender de maneira mais eficaz esses grupos. É fundamental fortalecer as redes de assistência e garantir que programas como restaurantes populares, cozinhas solidárias e banco de alimentos sejam acessíveis àqueles(as) que mais precisam", ressalta a professora.

A pesquisa avaliou a frequência de consumo de determinados alimentos como arroz, feijão, verduras e legumes, leite e derivados, carnes, frios e embutidos, refrigerante e suco artificial, bolacha doce e salgados, salgadinhos; macarrão instantâneo e lanches como refeição. A frequência semanal de consumo de arroz em mais de cinco vezes na semana foi 90,7% dos domicílios e o feijão 77%. Mas, entre os domicílios em situação de fome, a frequência foi menor, 82,8% reportaram consumir arroz e 70,0% feijão mais de cinco vezes na semana. A desigualdade no consumo de verduras, legumes e frutas também foi observada, sendo menos frequente entre os domicílios com restrição alimentar. Enquanto 55,2% dos domicílios em segurança alimentar consumiram verduras e legumes mais de cinco dias da semana, os domicílios em insegurança alimentar reportaram frequência de consumo cada vez menor, chegando a 21,5% entre aqueles domicílios em situação de fome. O mesmo foi observado para o consumo de frutas: seguros (52,1%), insegurança leve (35,1%), moderada (22,9%) e grave (20,9%). Enquanto que 74,7% dos domicílios em segurança consumiram carnes mais de cinco dias na semana, aqueles em insegurança moderada e grave consumiram, respectivamente, 50,6% e 34,2%.

A insegurança alimentar impacta diretamente a saúde e o bem-estar das famílias, especialmente das crianças e adolescentes que vivem nesses lares. Segundo o levantamento, a privação de alimentos não se restringe aos adultos, afetando também os membros mais jovens das famílias. Esse cenário exige ações integradas que envolvam diferentes setores da sociedade para garantir o direito à alimentação adequada e melhorar as condições de vida das populações mais vulneráveis.

O I Inquérito sobre a Situação Alimentar do Município de São Paulo evidencia a urgência de ações mais abrangentes e eficazes para combater a fome e garantir o acesso regular a alimentos para toda a população. A contribuição da Unifesp para esse diagnóstico é um passo importante para orientar políticas públicas voltadas à segurança alimentar e à redução das desigualdades sociais.

Com dados que expõem as desigualdades socioeconômicas e regionais da cidade, o estudo reforça a importância de um esforço coletivo para garantir que o direito humano à alimentação seja efetivamente assegurado, promovendo a saúde e o bem-estar de todos(as) os(as) cidadãos(ãs) paulistanos(as).

 

Fonte: DCI/Unifesp

Estrela inativaEstrela inativaEstrela inativaEstrela inativaEstrela inativa
 
Categoria:

Insegurança alimentar atinge 12,5% da população em São Paulo

Inquérito conduzido por docentes da Unifesp revela disparidades socioeconômicas e destaca a...

Redução de morte súbita em pacientes com doença de Chagas com uso de CDI

Pesquisa publicada no JAMA Cardiology, com participação do docente da Unifesp Angelo Amato de...

Mortalidade por câncer supera a de doenças cardiovasculares em 727 municípios no Brasil

Pesquisa revela mudança nas principais causas de mortalidade no Brasil entre 2000 e 2019,...

Estudo revela novos fatores de risco para demência e abre caminhos para prevenção no Brasil

Publicado na revista The Lancet, estudo elaborado por uma comissão da qual a pesquisadora Cleusa Ferri da...

Fim do conteúdo da página