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Dia nacional de combate às drogas e ao alcoolismo

Publicado: Quinta, 20 de Fevereiro de 2020, 14h35 | Última atualização em Quarta, 31 de Agosto de 2022, 11h33

Por Maria Lucia Formigoni

O uso de álcool e outras substâncias para busca de prazer ou para amenizar o sofrimento acompanha a história da humanidade desde seus primórdios. Às vezes,  e para algumas pessoas, o uso pode gerar problemas como acidentes, desenvolvimento de dependência e danos ao organismo. No último século, houve uma enorme evolução do conhecimento científico sobre como estas substâncias afetam nosso corpo e a importância do contexto social em que são consumidas. Entretanto, ainda prevalece em grande parte da população o conceito ultrapassado e moralista que atribui à droga em si e ao caráter do usuário a responsabilidade pelos problemas associados ao uso. Este conceito errôneo leva a intervenções inadequadas e ineficientes.

20 de fevereiro: Dia Nacional de “combate” às drogas e ao alcoolismo... uma velha e ineficaz forma de abordar o tema


A experiência proibicionista do álcool (Lei Seca) vigente nos Estados Unidos entre 1920 e 1933 demonstrou-se não só ineficaz como forma de reduzir os problemas do uso excessivo de álcool, mas gerou graves problemas como a estigmatização dos dependentes e o fortalecimento do mercado ilegal e de organizações criminosas. Ficou claro que não é possível “por decreto” mudar os desejos, hábitos e concepções das pessoas. Em sentido contrário, observamos boa efetividade das ações de conscientização da população sobre os riscos do consumo de tabaco, a importância do uso de cinto de segurança e de preservativos para prevenção da disseminação da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outras IST(Infecções Sexualmente Transmissíveis).


Na primeira década do século XXI o Brasil desenvolveu uma das políticas sobre drogas mais avançadas do mundo, cientificamente embasada e discutida de forma democrática com profissionais de diversas áreas e representantes da população. Levantamentos nacionais, pesquisas científicas e processos de capacitação de profissionais das áreas de saúde, educação, assistência social, direito e segurança, assim como de lideranças comunitárias e religiosas foram realizadas sob a coordenação de docentes de diversas universidades federais com patrocínio da Secretaria Nacional de Política sobre Drogas. Foram obtidos dados importantes para embasar programas de prevenção, detecção precoce e intervenções terapêuticas e sociais.


A ciência mostra que o desenvolvimento de dependência de álcool ou de outras drogas é resultado de uma soma de fatores de vulnerabilidade, incluindo aspectos biológicos, psicológicos e sociais e que as intervenções mais efetivas são aquelas que os levam em consideração, desenvolvendo projetos terapêuticos individualizados. Ou seja, não há panaceias ou soluções aplicáveis a todos.


A estigmatização dos dependentes de álcool ou outras drogas só os afasta dos tratamentos e joga neles a responsabilidade por problemas sociais dos quais eles são mais frequentemente vítimas do que causadores. A internação em ambientes sem equipes multidisciplinares de profissionais adequadamente treinados é inapropriada e na maioria das vezes inefetiva. Neste cenário é desalentadora a mudança proposta em 2019 na política de drogas do país, na contra-mão do que indica a ciência, assim como a priorização de patrocínio para intervenções sem evidências de efetividade em detrimento de projetos de pesquisa e capacitação de profissionais.


Pioneirismo do Departamento de Psicobiologia no estudo de álcool e outras drogas de Abuso

O Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina foi criado na década de 1970 pelo Prof. Elisaldo L. A. Carlini, uma das maiores autoridades no assunto do país. Por meio de seu Programa de Pós-Graduação se titularam diversos pesquisadores de todo o país e tem sido desenvolvidos estudos sobre os múltiplos aspectos envolvidos nesta questão, com uma abordagem multidisciplinar envolvendo médicos, biomédicos, biólogos, psicólogos, farmacêuticos e assistentes sociais e estabelecendo colaborações com educadores, filósofos, antropólogos e juristas de instituições parceiras. Estudos básicos tem sido realizados sobre os efeitos de álcool e outras substâncias psicoativas no cérebro e suas consequências no funcionamento geral do organismo, assim como levantamentos epidemiológicos e avaliação da efetividade de programas de prevenção, intervenções breves presenciais e virtuais ou tratamentos farmacológicos e não farmacológicos para pessoas com dependência ou outros problemas associados ao uso de substâncias.

Saiba mais e reflita: A neurociência já demonstrou que a dependência de álcool e outras drogas é essencialmente uma doença do cérebro, mas com imensa influência do meio-ambiente. Dentre as pessoas que utilizam álcool cerca de 30% apresentam problemas associados ao uso. Cerca de 40% das pessoas dependentes de álcool apresentam transtornos mentais como depressão e ansiedade, muitas vezes antecedentes ao uso.

Conheça algumas das produções da Unidade de Dependência de Droga (UDED) na área

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UDED

A Unidade de Dependência de Drogas (UDED) é um setor da Disciplina Medicina e Sociologia do Abuso de Drogas (DIMESAD) do Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina - Unifesp constituído por uma equipe multidisciplinar coordenada pela Profa. Dra. Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni. A UDED tem como objetivos o desenvolvimento de pesquisas, a promoção de assistência e a formação de recursos humanos na área de abuso e dependência de drogas.

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