Ir direto para menu de acessibilidade.
Início do conteúdo da página

O aluno com TDAH requer atenção do nosso modelo de educação

Publicado: Quinta, 21 de Julho de 2022, 00h00 | Última atualização em Segunda, 25 de Julho de 2022, 09h46 | Acessos: 108924

Transtorno pode interferir significativamente na aprendizagem escolar

Clique acima para ouvir o conteúdo deste artigo.

O Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) foi descrito em 1902 pelo inglês George Still. Trata-se de um distúrbio do neurodesenvolvimento que tem forte impacto na aprendizagem escolar. Sua prevalência é discutida em inúmeros estudos, variando de 2.7% a 31.1% (HORA et al., 2015). O  Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM-V) menciona que se observa um “padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade” no TDAH.

adhd kansas city psychologist
Fonte: Kauvery Hospital

O diagnóstico se baseia numa série de sinais que devem ser observados frequentemente nos diferentes ambientes que a pessoa frequenta, como escola, em casa ou outros locais. Tais sintomas devem ser identificados antes dos 12 anos e deve haver ao menos seis sintomas para crianças e cinco para adolescentes e adultos para que se defina qual é o tipo do transtorno (DSM-V).

São descritos três tipos de TDAH:

  • predominantemente desatento,
  • predominantemente hiperativo-impulsivo e
  • combinado.

No tipo predominantemente desatento, pode-se observar:

  1. Dificuldade em prestar atenção a detalhes ou errar por descuido em atividades escolares e profissionais;
  2. Dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
  3. Parece não escutar quando falam;
  4. Não segue instruções e não termina tarefas escolares, domésticas ou deveres profissionais;
  5. Dificuldade em organizar atividades e tarefas;
  6. Evita, ou reluta, em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante;
  7. Perde coisas necessárias para tarefas ou atividades;
  8. Distrai-se facilmente por estímulo alheios à tarefa;
  9. Esquecimento em atividades diárias.

No tipo predominantemente hiperativo-impulsivo, pode verificar-se que:

  1. Agita as mãos, os pés ou se mexe na cadeira;
  2. Abandona a cadeira em sala de aula ou em outras situações nas quais se espera que permaneça sentado;
  3. Corre ou escala em demasia em situações nas quais isto é inapropriado;
  4. Há dificuldade em brincar ou envolver-se silenciosamente em atividades de lazer;
  5. É agitado, como se estivesse com o motor ligado a duzentos por hora;
  6. Fala demais;
  7. Dá respostas precipitadas antes das perguntas terem sido concluídas;
  8. Tem dificuldade em esperar sua vez;
  9. Interrompe as pessoas ou intromete-se em assuntos de outros.

No tipo combinado, há tanto manifestações de desatenção quanto de hiperatividade e impulsividade.

É preciso descartar outros transtornos psíquicos que expliquem os sintomas observados.

A Lei Nº 14.254, de 30 de novembro de 2021 foi aprovada após muitos anos de luta de terapeutas, professores, pais e pessoas com TDAH e transtornos de aprendizagem. Ela dispõe sobre o acompanhamento integral para educandos com dislexia, TDAH ou outro transtorno de aprendizagem. Segundo a lei o acompanhamento integral envolve:  

  • identificação precoce do transtorno,
  • encaminhamento para diagnóstico,
  • apoio educacional na rede de ensino e
  • apoio terapêutico especializado na rede de saúde.

Foi uma grande vitória, no entanto, muito ainda precisa ser feito já que a formação docente nem sempre contempla de forma satisfatória as adaptações a serem feitas, a rede de saúde carece de serviços que atendam a esse público e, nas escolas, nem sempre há recursos materiais e humanos disponíveis.

Ouvir o aluno sobre seus sentimentos e necessidades deve ser uma prática constante, já que o próprio aluno deve ser o protagonista na construção de seu conhecimento e, muitas vezes, por experiência própria, ele já sabe o que funciona e o que não funciona com ele, principalmente quando está no Ensino Médio ou Superior.

Para começar, adaptações podem e devem ser feitas para que o aluno desenvolva ao máximo o seu potencial de aprendizagem por meio de estratégias que o auxiliem como:

  • modificações no tipo de avaliação com seminários e atividades práticas,
  • provas com enunciados mais curtos e diretos,
  • com marcação dos aspectos mais importantes da questão em sublinhado ou negrito,
  • mudança no prazo para realizar as provas, com acréscimo ou fracionamento do tempo de prova e na variedade de formas que a escola lance mão para pensar no processo de ensino aprendizagem,
  • com atividades que permitam que o aluno seja ativo e possa deslocar-se na sala quando for necessário.

O professor pode ainda usar recursos para garantir que o aluno participe, como atividades em dupla, leitura compartilhada, tutoria entre outras.

O diagnóstico precoce e acompanhamento multiprofissional são essenciais para que aluno e família consigam compreender o quadro, comunicar a escola e modificar a rotina, tornando-a mais organizada.

ADHD
Fonte: Simply Psychology

Ouvir o aluno sobre seus sentimentos e necessidades deve ser uma prática constante, já que o próprio aluno deve ser o protagonista na construção de seu conhecimento e, muitas vezes, por experiência própria, ele já sabe o que funciona e o que não funciona com ele, principalmente quando está no Ensino Médio ou Superior.

Por fim, vale a pena repensar no modelo de monitoramento do desenvolvimento dos alunos que temos hoje. Um estudo recente sobre o desempenho de alunos americanos com TDAH durante a pandemia (LUPAS et al., 2021) revelou que esses alunos não tiveram piora em sua performance nesse período. Isto se deve aos programas de resposta à Intervenção que garantem monitoramento e intervenção constante para todos os alunos. No Brasil, estas iniciativas surgiram recentemente, mas ainda não são uma prática frequente. Esperamos que se chegue a este estado de vigilância constante do desenvolvimento que garanta intervenção precoce e educação de qualidade. Se isto ocorrer, não precisaremos de um dia ou mês para ficarmos atentos aos alunos com TDAH ou qualquer outro transtorno, pois este cuidado e atenção serão inerentes ao modelo educacional brasileiro.

 

Capa TDAHO ebook Acessibilidade para os Estudantes com Transtorno do Déficit de Atenção/hiperatividade: Orientações para o Ensino Superior faz parte da coleção de Materiais que foram produzidos por professores da Unifesp, e contou com a colaboração de professores externos. Clique AQUI para fazer o download.

 

 

 

 

 

 MARISA SACALOSKI

Marisa Sacaloski

Graduada em Fonoaudiologia e Pedagogia, especialização em distúrbios da comunicação humana, distúrbios da audição, psicopedagogia, violência doméstica contra a criança e o adolescente, libras e educação especial, mestrado e doutorado em Distúrbios da Comunicação Humana. Tem experiência nas áreas de Educação Especial, Libras, Psicopedagogia e Fonoaudiologia, com ênfase em Audição, atuando principalmente nos seguintes temas:educação especial e inclusiva, fonoaudiologia escolar, audiologia, triagem auditiva, transtornos e dificuldades de aprendizagem e inclusão social da pessoa com deficiência. Professora da Disciplina de Distúrbios da Comunicação Humana do Departamento de Fonoaudiologia - Escola Paulista de Medicina - EPM/Unifesp. Outras informações: clique aqui

 

 

 

 

Avaliação do Usuário

Estrela ativaEstrela ativaEstrela ativaEstrela ativaEstrela ativa
 
Categoria:

Insegurança alimentar atinge 12,5% da população em São Paulo

Inquérito conduzido por docentes da Unifesp revela disparidades socioeconômicas e destaca a...

Redução de morte súbita em pacientes com doença de Chagas com uso de CDI

Pesquisa publicada no JAMA Cardiology, com participação do docente da Unifesp Angelo Amato de...

Mortalidade por câncer supera a de doenças cardiovasculares em 727 municípios no Brasil

Pesquisa revela mudança nas principais causas de mortalidade no Brasil entre 2000 e 2019,...

Estudo revela novos fatores de risco para demência e abre caminhos para prevenção no Brasil

Publicado na revista The Lancet, estudo elaborado por uma comissão da qual a pesquisadora Cleusa Ferri da...

Fim do conteúdo da página