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Açaí beneficia a realização de cirurgias intraoculares

Publicado: Segunda, 25 de Setembro de 2017, 10h31 | Última atualização em Segunda, 27 de Julho de 2020, 18h11 | Acessos: 25647

Patente da Unifesp, corante desenvolvido a partir de fruta brasileira é eficaz, seguro e mais barato que os convencionais

Acai oftalmologia

Facilitar os procedimentos cirúrgicos intraoculares, por meio de uma técnica natural, barata e acessível, que permite visualizar os tecidos microfinos do olho de forma eficaz e segura. Foi com esse objetivo que pesquisadores do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) – Campus São Paulo desenvolveram um corante feito à base da antocianina, substância encontrada na fruta brasileira, o açaí. 

“O composto, criado a partir de uma matéria-prima da flora brasileira, fica até vinte vezes mais barato do que os convencionais. Além disso, é um antioxidante, possivelmente mais seguro do que os corantes químicos utilizados hoje em dia. Tal resultado, ao ser levado para a saúde pública, é um ganho tanto para os pacientes quanto para os profissionais que dependem das cirurgias vitreorretinianas”, comenta Maurício Maia, coordenador do estudo e professor associado do departamento. 

O corante é aplicado na parte interna dos olhos para facilitar a visualização das membranas e dos tecidos transparentes que irão passar por alguma intervenção. A técnica, denominada cromovitrectomia, é usada principalmente em cirurgias de retina (camada mais interna do globo ocular responsável pela formação da imagem) e do vítreo (conteúdo gelatinoso que preenche quase todo o espaço intraocular). “A retina, por exemplo, apresenta estruturas extremamente finas, algumas delas possuem cerca de um milímetro, dividida por 100 partes. É extremamente difícil a identificação intra-operatória, mesmo com microscópios de alta resolução. Os corantes, assim, são fundamentais para facilitar a visualização e realização da cirurgia”, coloca Maia. Os procedimentos operatórios citados são necessários para doenças que comprometem o fundo dos olhos, como retinopatia diabética, buraco macular, membrana epirretiniana, síndrome da tração vitreomacular, deslocamento da própria retina ou do vítreo, entre outros. Patologias com potencial, inclusive, de resultar em cegueira total.

Os corantes utilizados atualmente são a idocianina verde – mais tóxica –, triancinolona e o azul brilhante, cujo custo varia entre R$ 200 a R$ 500. Tais substâncias não são capazes de colorir todas as estruturas necessárias para a cirurgia, sendo preciso usufruir mais de uma dose. No entanto, quando aplicadas em excesso, correm o risco de causar atrofias nas camadas da retina. “Nossa busca se concentrou, portanto, em um produto menos tóxico e mais eficiente”, pontua.

A pesquisa iniciou-se no ano 2010 e analisou mais de vinte opções de corantes naturais de conhecimento indígena – urucum, açafrão, pau-brasil, beterraba, entre outros –, utilizados para pintar a pele das tribos. Foram feitos testes laboratoriais de pH, de cor e de adesão da antocianina às membranas intraoculares. O açaí, no caso, manifestou capacidade de tingimento superior, deixando os tecidos mais visíveis, além de não trazer prejuízos aos olhos dos pacientes. O produto mostrou afinidade na coloração da membrana limitante interna (localizado na parte central da retina onde estão as células responsáveis pelos detalhes e cores da visão) e do vítreo. As moléculas antioxidantes que originam a cor roxeada da fruta, as antocianinas, podem ser, assim, substitutas dos atuais corantes sintéticos. 

“Esta descoberta é um exemplo para a ciência de que ideias criativas, utilizando o financiamento público e a universidade brasileira, podem resultar em benefícios para toda a sociedade. A novidade de se utilizar um fruto nacional, extremamente popular no nosso país, para beneficiar os pacientes, é extremamente importante. Acreditamos que essa conquista precisa ser divulgada para demonstrar a competência que o Brasil possui no desenvolvimento de novas ideias e de tecnologias criativas”, justifica Maia.

O estudo é financiado com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de uma parceria público-privada. Em 2010, o corante natural foi patenteado e é de direito da Unifesp.

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