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No Dia Mundial de Combate ao Estresse é preciso falar sobre Resiliência

Publicado: Terça, 22 de Setembro de 2020, 17h32 | Última atualização em Terça, 22 de Setembro de 2020, 19h32 | Acessos: 40590

Procure descobrir suas estratégias ativas

É importante ter um dia de Promoção da Resiliência para o estresse ser visto de outra forma pelas pessoas.

O dia 23 de setembro foi escolhido para ser o Dia Mundial de Combate ao Estresse. Você já parou para pensar se é possível combatê-lo? Primeiro, precisamos refletir sobre a capacidade de viver sem ele. Hans Selye, o “pai” do conceito estresse e grande estudioso do assunto dizia que: “Não existe vida sem estresse”.

Em geral, as pessoas entendem estresse como um estímulo que traz desconforto, sofrimento e consequências negativas. No entanto, é algo tão plural, que é praticamente impossível ter uma definição simples. Alguns indivíduos podem viver uma situação extremamente difícil e sucumbir, enquanto outros viverão a mesma circunstância como se fosse um desafio a ser suplantado e se fortalecerão com a experiência. Estresse, portanto, não é um estímulo, mas sim como é interpretado e como se responde a ele, o que torna esse conceito mutável.

Essa definição nos remete a outro conceito fundamental que é resiliência, ou seja, a habilidade de se recuperar de um trauma ou de um estresse intenso, sem “quebrar”. A partir dessa compreensão, a relação pessoal com o estresse pode se transformar em algo positivo. Para facilitar a incorporação dessa nova ideia, daqui para frente a palavra estresse será substituída por desafio (sempre que possível).

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Quando enfrentamos os desafios do dia a dia, diversos hormônios são liberados com o propósito de nos dar energia, aumentar nossa atenção e nos ajudar a enfrentá-los da forma mais adaptativa. Uma vez que o desafio foi superado, a liberação desses hormônios volta ao normal. Esses hormônios como o cortisol, a adrenalina e a ocitocina, também mudam nosso comportamento, fortalecendo nossa memória para lembrarmos da situação e do que fizemos para enfrentá-la. Quando o mesmo desafio acontecer novamente, repetiremos nosso comportamento, se este tiver sido bem-sucedido. Assim, aprendemos como encarar a adversidade da melhor maneira possível, e isso nos fortalece.

A ocitocina, que também é liberada em situações desafiadoras, nos motiva a procurar apoio social em nossa família, nas nossas relações de amizade e de companheirismo, este tipo de assistência é uma das formas mais poderosas e eficientes de enfrentar os desafios mais difíceis. Além disso, o hormônio tem um efeito notadamente benéfico para artérias, mantendo-as relaxadas e auxiliando a frequência cardíaca a voltar ao normal.

 

Comportamento ativo e passivo

Existem várias maneiras de lidar com as dificuldades, algumas delas ativas, voltadas para resolução dos problemas, e outras passivas, como ficar inerte esperando que a situação se resolva sozinha.

O comportamento humano (e de vários outros animais, entre eles os ratos de laboratório) é composto por várias dessas estratégias e estas parecem estar diretamente relacionadas às consequências desses desafios na saúde mental. Um estudo realizado no Japão, com mais de 23.000 pessoas, de ambos os sexos e idades que variaram de 18 a 70+ anos, mostrou que as estratégias de enfrentamento ativas que envolvem busca por apoio social, verbalização das dificuldades e prática de esportes diminuem o risco para depressão, enquanto que as estratégias de passividade, como beber, fumar e deitar no sofá, aumentam este risco [1].

Outra forma positiva de enfrentar problemas e desafios é o otimismo e o Senso de Coesão, uma faculdade que envolve a capacidade de compreender, administrar e dar significado a esses contratempos que podem parecer intransponíveis à primeira vista. Este conceito foi elaborado por Aron Antonovsky enquanto conviveu com mulheres sobreviventes do Holocausto, em Israel. Este sociólogo percebeu que, apesar dos horrores vividos nos campos de concentração, muitas delas eram saudáveis, felizes e bem-ajustadas à nova (e muitíssimo difícil) vida [2] em um novo país, ainda que pobre e cercado por inimigos.

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Seja resiliente, acredite na sua força, no seu potencial, creia que é capaz e você será!  (Crédito: Resiliência Mag)

 

Infelizmente, a realidade atual em nosso país nos impõe a necessidade constante de enfrentar incontáveis desafios, muitos dos quais parecem insuperáveis e incapacitantes. A pandemia do coronavírus trouxe ainda mais dificuldades para uma situação econômica que já era desfavorável para uma grande parte da nossa população.

Procure descobrir suas estratégias ativas, mesmo quando se sentir de mãos amarradas. Contacte aquela pessoa em quem você confia e sabe que só quer te ver feliz. Imagine como enfrentar essas situações com coragem, com pensamento otimista e desfrutem a vitória.

 

Referências Bibliográficas

  1. Nagase Y, Uchiyama M, Kaneita Y, Li L, Kaji T, Takahashi S, Konno M, Mishima K, Nishikawa T, Ohida T (2009) Coping strategies and their correlates with depression in the Japanese general population. Psychiatry Res 168 (1):57-66. doi:10.1016/j.psychres.2008.03.024

  2. Antonovsky A, Sagy S (2017) Aaron Antonovsky, the Scholar and the Man Behind Salutogenesis. In: Mittelmark MB, Sagy S, Eriksson M et al. (eds) The Handbook of Salutogenesis. Cham (CH), pp 15-23. doi:10.1007/978-3-319-04600-6_3

 

 

Deborah SucheckiPor Déborah Suchecki

Professora Associada, Livre-Docente, no Departamento de Psicobiologia - Disciplina de Psicofarmacologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). Graduada em Biomedicina pela Universidade de Santo Amaro (1983), mestrado em Farmacologia (1987) e doutorado em Psicobiologia (1990) pela EPM/Unifesp. Pós-doutorado na Stanford University, entre 1990 e 1993, no Laboratório de Psicobiologia do Desenvolvimento, no Departamento de Psiquiatria e Ciências do Comportamento. Atua em pesquisa e docência em graduação e pós-graduação nas áreas de Psiconeuroendocrinologia e Neurobiologia da Vulnerabilidade e Resiliência ao estresse durante o desenvolvimento do sistema nervoso central e o desencadeamento de transtornos psiquiátricos.

 

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