Reflexões sobre a história da Nefrologia e um alerta sobre a Doença Renal Crônica
11/03: Dia Mundial do Rim
Sempre é tempo de se perguntar: você sabe como está a sua creatinina? Sabe como os seus rins estão funcionando? Se a resposta é não, pergunte ao seu médico, ou procure um nefrologista.
Em 2006, a Sociedade Internacional de Nefrologia (ISN) criou o Dia Mundial do Rim, celebrado na segunda quinta-feira do mês de março, com ações voltadas para a prevenção da Doença Renal Crônica (DRC) em todas as nações do mundo. Desde então, a campanha de prevenção no Brasil, coordenada pela SBN, tem destaque internacional. No seu primeiro ano, o Dia Mundial do Rim foi celebrado no dia 9 de março, e por esse motivo muitos atribuem à essa data o Dia do Nefrologista.
De fato, o nefrologista tem em todos os dias do ano uma importância fundamental no cuidado de pacientes acometidos com doenças muitas vezes de elevada gravidade e complexidade. Além da prevenção e do tratamento da DRC, o nefrologista dedica-se ao cuidado da lesão renal aguda, da hipertensão, dos distúrbios hidroeletrolíticos e do metabolismo ácido-base, do diagnóstico, tratamento e prevenção dos cálculos renais, das infecções urinárias, de doenças hereditárias, bem como de uma série de outras alterações que podem acometer o rim, órgão fundamental para o bom funcionamento de todas as outras funções orgânicas.
Na semana em que se comemora o Dia Mundial do Rim, é tempo de relembrarmos a nossa história e de alertamos sobre as doenças renais. Dois importantes instrumentos diagnósticos devem ser utilizados na identificação das doenças renais e eles devem ser de conhecimento geral: o exame de urina e, principalmente, a dosagem de creatinina, através da qual se calcula a taxa de filtração glomerular, uma forma de se medir a função renal.
O início da Nefrologia e marcos históricos das doenças renais
Apesar do termo nefrologia ter sido eventualmente utilizado no século XIX, a Nefrologia como especialidade médica começa a sua história a partir da década de 40 do século passado, alcançando imensurável avanço entre as décadas de 50 e 70 com a realização do primeiro transplante renal e com o advento de estratégias de depuração sanguínea por circuitos de circulação extracorpórea, a hemodiálise.
Nos tempos contemporâneos, o uso de avançados modelos computacionais para o preparo de banhos de diálise e a incorporação de aparelhos ultramodernos que recebem prescrição médica através de sinais de Bluetooth, demonstram o quanto essa ciência secular avançou e se apropriou dos tempos para se reinventar e manter-se como uma das especialidades clínicas mais fascinante.
Por muitas décadas o desfecho inexorável das doenças renais era o óbito.
O reconhecimento das doenças renais como uma síndrome clínica, entretanto, remontam da medicina Hipocrática, o que pode ser comprovado pelo seguinte aforisma: bolhas na superfície da urina indicam doença dos rins e sofrimento prolongado. No ano de 1827 os aforismas ganham verniz científico, com a documentação da associação entre edema, proteinúria e alterações na morfologia renal feita pelo médico inglês Richard Bright. Esse marco histórico germinou a semente da Nefrologia Clínica como a conhecemos hoje.
O primeiro sucesso na tentativa de filtração artificial do sangue através de uma máquina de hemodiálise foi conseguido pelo holandês Willem Kolff, em 1943. Seis anos mais tarde essa técnica foi usada no Brasil pela primeira vez, pelo professor Tito Ribeiro de Almeida, no Hospital das Clínicas de São Paulo.
(Crédito: Pinterest)
Outro marco relevante na Nefrologia é a realização do primeiro transplante renal em 1954, na cidade de Boston, pelos professores Joseph Murray e John Merril. As primeiras experiências com transplante renal no Brasil ocorreram em 1964, no Hospital do Servidor Público Estadual no Rio de Janeiro, e em 1965 no Hospital das Clínicas de São Paulo, através da equipe do professor Emil Sabbaga.
No transplante renal, um rim saudável de uma pessoa viva ou falecida é doado a um paciente portador de insuficiência renal crônica avançada. Através de uma cirurgia, esse rim é implantado no paciente e passa a exercer as funções de filtração e eliminaçãode líquidos e toxinas. Seus próprios rins permanecem onde eles estão, a menos que estejam causando infecção ou hipertensão. (Fonte: SBN)
No Hospital São Paulo, Hospital Universitário da Universidade Federal de São Paulo (HSP/HU-Unifesp), o primeiro transplante foi realizado em 1976. Entretanto, foi a partir de 1998, com a inauguração do Hospital do Rim (HRim), na Unifesp, que o Brasil consolidou o maior programa público de transplante no mundo.
A história da Nefrologia brasileira se confunde com a da própria história da Nefrologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp).
Ela tem início na década de 50, quando o professor Oswaldo Ramos liderou a criação da Disciplina de Nefrologia da EPM, a partir da seção de metabolismo e nutrição do Departamento de Medicina. O marco histórico da especialidade, como a conhecemos hoje, data de 2 de agosto de 1960, quando grandes expoentes da medicina brasileira dedicados ao estudo das doenças renais, incluindo Oswaldo, se reúnem para fundar a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). A partir de então, a Nefrologia nacional solidificou dois dos mais importantes programas de saúde pública: a diálise e o transplante.
Doença Renal Crônica
A Doença Renal Crônica (DRC) é a incapacidade dos rins realizarem suas funções normais. Os sinais e sintomas geralmente só aparecem quando já se perdeu 75% da função renal. Por isso, a maioria dos pacientes descobre a doença somente quando atingem o estágio 4. Graças aos avanços terapêuticos, a insuficiência renal pode ser compensada através de tratamentos que substituem a função dos rins, filtrando o sangue e eliminando o excesso de água e eletrólitos. Tudo através dos procedimentos dialíticos (hemodiálise e diálise peritoneal). (Fonte: Pró Renal)
Com o avanço do conhecimento sobre os fatores de risco para a DRC, que tem como principais etiologias o diabetes e a hipertensão, a Nefrologia mundial passou a investir atenção e esforços em programas de prevenção. Para se ter noção da dimensão desse problema, é estimado que 19 milhões de brasileiros tenham algum grau de alteração de função renal.
Campanha de 2021
O tema do Dia Mundial do Rim em 2021 é “Vivendo bem com a doença renal”. O objetivo é o de conscientizar e orientar o paciente com doença renal crônica (DRC) quanto aos próprios sintomas, para que possa participar, de forma mais efetiva, na rotina da vida cotidiana. Embora medidas eficazes de prevenção e progressão da DRC sejam importantes, os pacientes com doença renal – incluindo aqueles que dependem de diálise, e os transplantados renais – devem sentir-se apoiados, junto aos seus familiares e acompanhantes, especialmente durante pandemias e outros períodos críticos. A inclusão dos pacientes com DRC na vida cotidiana é o foco principal desta campanha, tendo como objetivo final, o de viver bem com a doença renal. (Fonte: SBN)
Por Lúcio Roberto Requião Moura
Médico especialista em Nefrologia. Professor Adjunto da Disciplina de Nefrologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). Presidente da Sociedade de Nefrologia do Estado de São Paulo - 2021/2022. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Nefrologia Clínica, Transplante Renal, Doenças Glomerulares e Doença Renal Crônica. Outras informações, clique aqui.
Redes Sociais