Câncer de Mama Masculino: uma realidade pouco discutida
Doença em homens geralmente está ligada a fatores genéticos
O câncer de mama, tumor maligno que ataca o tecido mamário, ocorre principalmente em mulheres, mas os homens também podem ter a doença. É importante mencionar que muitas pessoas não sabem que os homens têm tecido mamário e podem desenvolver o câncer de mama. Embora pouco frequente, sua incidência vem aumentando e a idade média de ocorrência é de 65 a 70 anos. É extremamente raro e corresponde a menos de 1% de todos os cânceres no homem. A proporção de número de casos é de 100 casos femininos para um masculino.
Principais riscos
Os principais fatores de risco são a idade (quanto maior a idade, maior o risco) e história familiar de câncer (principalmente câncer de mama, de ovário e de intestino). De fato, algumas mutações germinativas hereditárias (mutações que o paciente herda dos pais), como as mutações dos genes BRCA2, BRCA1, pTEN, P53, CHEK2, aumentam muito o risco de câncer de mama masculino. Se o câncer hereditário na mulher corresponde a 10% de todos os casos, no sexo masculino a forma hereditária chega a 40% dos casos. Em relação ao uso de anabolizantes, como a testosterona, aumenta muito o risco da ginecomastia, condição benigna caracterizada pelo aumento da glândula mamária no homem. Entretanto, pode também aumentar o risco de câncer de mama masculino. Alinham-se ainda como fatores de risco, anormalidades cromossômicas (Síndrome de Klinefelter), estrógenos exógenos, obesidade e alcoolismo.
Como identificar
Os sintomas do câncer de mama no homem são semelhantes ao do sexo feminino.
O principal sintoma é o nódulo de consistência endurecida e indolor. Outro sintoma é a saída de sangue pelo mamilo (fluxo papilar patológico). Nos casos mais avançados, o paciente pode também apresentar aumento dos gânglios linfáticos na axila (adenomegalia axilar).
Para realizar o diagnóstico utiliza-se a mamografia, a ultrassonografia e a biópsia percutânea com agulha grossa (denominada de core biopsy). Este tipo de biópsia em geral é feita guiada pela ultrassonografia e com anestesia local.
Uma vez estabelecido o diagnóstico de câncer de mama, nos casos de tumores volumosos e/ou metástase nos gânglios linfáticos (linfonodos) axilares, o mastologista solicita os exames de estadiamento, que visam estabelecer se a doença está localizada somente na mama/axila ou se já se propagou para outras regiões do corpo. Esta propagação da mama para outros órgãos é denominada de metástase. Os principais locais de metástase são os ossos, pulmões e pleuras, e o fígado.
Tratamento
Se o diagnóstico é precoce, o prognóstico após o tratamento do câncer de mama masculino é excelente, com taxa de cura de 90 a 95% nos casos iniciais. Nódulo palpável na mama ou na axila e saída de sangue pelo mamilo são sinais de alarme e o paciente deve imediatamente procurar o mastologista para que seja feito o diagnóstico e o tratamento.
É semelhante ao da mulher. Quando não há metástases em órgãos distantes, o tratamento começa com a cirurgia, que é a retirada da mama (mastectomia) associada a retirada do primeiro gânglio linfático axilar que drena a mama (linfonodo sentinela). A retirada do linfonodo sentinela é importante para estabelecer se a doença está restrita na mama ou se já começou a se propagar para outros órgãos.
Se o câncer se propagou para a axila, só a cirurgia não é suficiente para o controle da doença. Nestes casos, após a cirurgia, indica-se a quimioterapia. Os medicamentos quimioterápicos têm como mecanismo de ação destruir as células que porventura estejam na circulação sanguínea ou em outros órgãos distantes da mama. Indica-se também quando há comprometimento dos gânglios linfáticos, a radioterapia; a radiação tem como objetivo destruir células mamárias tumorais que não foram totalmente retiradas na cirurgia, diminuindo o risco da recorrência local da doença.
O câncer de mama masculino comumente expressa receptores de hormônios sexuais femininos (estrogênio e progesterona) e indica-se nestes casos medicamentos que bloqueiam estes receptores ou que inibem a produção de estrogênios pelo tecido gorduroso (tratamento denominado endocrinoterapia). Por fim, nos casos de câncer de mama no homem, deve-se sempre ser realizado o aconselhamento genético. Como referido anteriormente, algumas mutações germinativas hereditárias (isto é, o paciente herdou a mutação da mãe ou do pai) aumentam muito o risco de câncer de mama no homem, em particular a mutação do gene BRCA2. O gene BRCA 2 em condições normais é um gene supressor de tumor, isto é, evita que a célula normal se transforme em uma célula maligna. Se o gene BRCA 2 sofrer mutação, perde esta função e a transformação da célula normal para maligna não é reprimida. A avaliação genética é feita no paciente com câncer e se presente, preconiza-se a pesquisa da mutação encontrada em todos os familiares, masculinos e femininos. Vale lembrar que esta mutação também aumenta muito o risco de câncer nas mulheres.
Autores
Afonso Celso Pinto Nazario
Professor Livre-Docente da Disciplina de Mastologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de Sâo Paulo (EPM/Unifesp). Coordenador do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Ginecologia da EPM/Unifesp. Vice-coordenador da Câmara de Pós-graduação e Pesquisa da EPM/Unifesp. Titular da Academia Brasileira de Mastologia. Outras informações, clique aqui
Vanesssa Monteiro Sanvido
Médica com residência em Mastologia (EPM/Unifesp, 2012), Mestrado em Ciências (2014) e Doutorado em Ciências pela EPM-Unifesp (2020). Pós-doutorado em andamento pela EPM-Unifesp. Possui experiência na área de Medicina, com ênfase em Mastologia, principalmente nos seguintes temas: câncer de mama, diagnóstico, biópsia percutânea, tratamento cirúrgico, reconstrução mamária, tratamento sistêmico e afecções benignas. Outras informações, clique aqui
Serviço
Ambulatório de Mastologia da Escola Paulista de Medicina - EPM/Unifesp
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