Por que é importante ter um Dia Mundial de Luta Contra o Câncer?
Celebração ocorre em 8 de abril
Primeiramente, porque o câncer, no cenário epidemiológico atual, permanece como a segunda maior causa de morte no mundo. A reversibilidade dessa condição depende de ações de prevenção, de detecção precoce e da oferta de serviços com alta tecnologia agregada, incluindo regimes terapêuticos contemporâneos e mais eficazes para o controle e/ou cura das mais de cem doenças designadas como câncer (1).
A importância de celebrar o Dia Mundial de Luta Contra o Câncer, 8 de abril, é demarcada pela necessidade premente de reconhecer que o câncer mata precocemente milhões de pessoas a cada ano, e que movimentos de conscientização e educação sobre o câncer podem gerar mudanças de comportamentos individuais, bem como mobilizar a sociedade para exigir investimentos governamentais eficazes contra a doença (2).
A luta contra o câncer exige um conjunto complexo e articulado de atividades urgentes em todos os níveis de atenção em saúde!
É um problema inquestionável de saúde pública internacionalmente reconhecido sob diferentes aspectos, incluindo o dos indicadores epidemiológicos, o da complexidade tecnológica e de recursos humanos capacitados para as ações nos níveis primário, secundário e terciário de atenção e do alto custo financeiro incluído nessas ações, além de ser fundamental considerar as múltiplas repercussões individuais e familiares (3).
Os países com rendas mais baixas têm resultados populacionais significativamente piores para o câncer e as pessoas são mais propensas a sofrerem dificuldades financeiras pelo processo de adoecimento, como, por exemplo, gastos extras, perda do trabalho ou renda, e pelas mortes prematuras (até 69 anos), agravando o ciclo da pobreza, inclusive nas gerações subsequentes (3,4).
No mundo e mesmo dentro de um próprio país, como muito apropriadamente pode-se citar o Brasil, têm-se desigualdades sociais marcantes e persistentes, que se refletem no acesso ao rastreamento de diferentes tipos de câncer, ao diagnóstico, ao tratamento e aos cuidados paliativos eficazes. Desconsiderar o impacto do e no sistema de saúde nessa equação é impossível.
No Brasil, o paciente com câncer tem direito a tratamento pelo SUS, sistema universal e gratuito de atenção à saúde, considerado o maior programa de inclusão social do mundo. (Crédito: Roche)
Assim, o Sistema Único de Saúde (SUS), não efetivamente preparado para a complexidade da assistência oncológica em todos seus níveis de atenção, ainda precisa considerar, para ser efetivo, as vulnerabilidades sociais de seus usuários e as políticas ineficazes de saneamento básico e de distribuição de rendas, acrescidas de iniciativas pouco eficientes de controle de poluição atmosférica e de atividades laborais de risco, além de outros agravos socioecológicos; todos, de certa forma, envolvidos na carcinogênese (5).
O Dia Mundial de Luta contra o Câncer ganha uma nova dimensão em tempos de Pandemia da Covid-19.
Apesar da ampla orientação dos órgãos reguladores da saúde, nacionais e internacionais, para que nenhum tratamento de doença crônica fosse interrompido, a condição atual de pandemia da Covid-19 certamente agravará o cenário, como já aclamado por algumas projeções que vislumbram prejuízos no rastreamento de vários tipos de câncer, diminuindo incidência de diagnósticos precoces e aumentando a mortalidade por câncer em anos futuros (6,7).
Na contemporaneidade, alguns questionamentos são inevitáveis: Qual o tamanho do represamento diagnóstico de câncer? Qual a perda qualiquantitativa da assistência oncológica para a população do SUS? Quanto será necessário investir em projetos e recursos para mitigar os prejuízos da pandemia da Covid-19 no combate e controle do câncer?
Certamente, nunca se fez mais necessário na história recente da humanidade destacar o Dia Mundial de Luta Contra o Câncer!
Referências
- World Health Organization. Projections of mortality and causes of death, 2016 to 2060. Disponível em: https://www.who.int/healthinfo/global_burden_disease/projections/en/.
- World Health Organization. WHO report on cancer: setting priorities, investing wisely and providing care for all. Geneva: World Health Organization; 2020. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.
- World Health Organization. Chronic Diseases and Health Promotion. World Health Organization, Geneva; 2018. Disponivel em: <http://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/cancer>.
- Vaccarella J, Lortet-Tieulent R, Saracci DI, et al. [Eds]. Reducing social inequalities in cancer: evidence and priorities for research. Lyon, France: International Agency for Research on Cancer. IARC Scientific Publications; 168; 2019.
- Paulista JS, Assunção PG, Lopes Lima FT. Acessibilidade da população negra ao cuidado oncológico no Brasil: Revisão Integrativa. Rev. Brasileira De Cancerologia [Internet]. 2020;65(4):e-06453.
- Paim MDL, Nogueira-Rodrigues A, Fagundes TP, et al. COVID-19 threatens to cause collateral delay in cancer diagnosis. Sao Paulo Med. J. In press 2020.
- Galassi A, Augustinho Teixeira TO, De Domenico EBL, et al. COVID-19 Pandemic: preparing to care for patients with cancer from the perspective of low- and middle-income countries. Clinical Journal of Oncology Nursing. 2020 Oct;24(5):586-590. DOI: 10.1188/20.cjon.586-590.
Por Edvane Birelo Lopes de Domenico
Professora associada, livre-docente do Departamento de Enfermagem Clínica e Cirúrgica da Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo (DECC/EPE/Unifesp). Líder do Grupo de Pesquisa - GEPEBE: Grupo de Estudo em Prática e Educação Baseadas em Evidências, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Tutora de Enfermagem do Programa de Residência Multiprofissional em Oncologia do Hospital São Paulo, hospital universitário (HSP/HU Unifesp). Coordenadora do Programa de Extensão Universitária Acolhe-Onco: interdisciplinaridade no cuidado integral ao paciente com câncer. Outras informações, clique aqui.
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