Janeiro Roxo – Mês de conscientização e combate à hanseníase
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está em segundo lugar em número de casos (perdendo apenas para a Índia), concentrando 90% dos registros nas Américas.
Desde 2016, o Ministério da Saúde oficializou o mês de janeiro para a conscientização sobre a hanseníase e a cor roxa para pontuar as campanhas educativas sobre a doença que ainda é vista com muito preconceito e desinformação.
A hanseníase, anteriormente conhecida por lepra, teve seu nome alterado no Brasil no ano de 1976. Essa mudança ocorreu por uma iniciativa do médico dermatologista Abrahão Rotberg, professor da Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal São Paulo (EPM/Unifesp), e teve por finalidade reduzir o preconceito em torno desta doença que, por muitos anos, teve seus pacientes sofrendo rejeição e exclusão social.
Entenda a doença
Trata-se de uma doença infectocontagiosa milenar e os seus primeiros registros datam de 600 a.C. Proveniente do extremo Oriente, se espalhou para o restante do Oriente, África e depois Europa. Não há menção da doença entre os ameríndios (habitantes da América antes da chegada dos europeus).
Sua história no Brasil, portanto, se inicia durante o período de colonização, porém não se sabe exatamente a data dos primeiros casos. Ainda hoje continua sendo uma doença presente em muitas partes do planeta, sendo que o Brasil tem o segundo maior número de casos no mundo, sendo mais prevalente nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste.
Essa infecção é causada por uma micobactéria denominada Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen, este segundo nome em homenagem a Armauer Hansen, cientista norueguês responsável por identificá-la no ano de 1873. Acomete homens e mulheres em igual proporção, em qualquer idade e afeta principalmente pele e nervos periféricos (superficiais).
Foto histopatológica com o bacilo na cor fúcsia. (Crédito: Acervo do Departamento de Dermatologia/Unifesp)
Transmissão
Para que haja contaminação é necessária uma exposição prolongada à bactéria e, dentre os infectados, apenas uma pequena parcela realmente adoece e desenvolve sintomas. Sua transmissão ocorre através das vias aéreas superiores, por contato com gotículas de saliva ou secreção nasal.
Os primeiros sintomas podem levar de 2 a 7 anos para aparecerem. Portanto, trata-se de uma doença crônica de evolução lenta. A transmissão se dá por meio do convívio próximo e prolongado com uma pessoa doente que não esteja em tratamento (iniciado o tratamento, não é mais transmitida).
Após o contato com o bacilo, o indivíduo pode ou não desenvolver a doença. Isso irá depender da predisposição genética de cada um. Sabe-se que 90% da população mundial nasce com a imunidade inata (macrófagos e células apresentadoras de antígeno) capaz de combater o bacilo e por causa disso não desenvolvem a doença. No entanto, 5 a 10% da população nasce parcialmente capaz de combater o bacilo e, consequentemente, são suscetíveis ao adoecimento. (Fontes: SBDRJ e USP)
Diagnóstico clínico e classificação
A hanseníase pode aparecer de diversas formas dependendo do organismo. Pode se manifestar como mancha esbranquiçada, avermelhada ou amarronzada, única ou múltiplas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs classificação da hanseníase em Paucibacilar (quando há até cinco lesões e um tronco nervoso acometido) - Hanseníase Indeterminada (HI) e Hanseníase Tuberculóide (HT) - e Multibacilar (quando há mais de cinco lesões e/ou mais de um tronco nervoso acometido) - Hanseníase Dimorfa ou Borderline (HD) e Hanseníase Virchowiana ou Lepromatosa (HV).
As manifestações clínicas da doença estão diretamente relacionadas ao tipo de resposta imunológica ao M. leprae. Temos então, as seguintes formas clínicas da doença:
Indeterminada
Hanseníase Indeterminada (HI): forma inicial, evolui espontaneamente para a cura na maioria dos casos e para as outras formas da doença em cerca de 25% dos casos. Geralmente, encontra-se apenas uma lesão, de cor mais clara que a pele normal, com diminuição da sensibilidade. Mais comum em crianças. (Fonte: Opas/OMS)
Crédito: Acervo do Departamento de Dermatologia/Unifesp
Principais sinais e sintomas da hanseníase
A doença pode se apresentar como formas mais leves ou mais graves.
A sensibilidade pode estar diminuída, ou seja, na região não há distinção entre o calor e o frio. Posteriormente há a diminuição da sensibilidade dolorosa (“não dói”) e da sensibilidade tátil (“não é sensível ao toque”). Além disso, pode haver: áreas com diminuição de pelos e suor; dor; sensação de choque e formigamento nos braços e pernas; e, diminuição da força muscular.
Outras lesões podem aparecer na pele, tais como: caroços e lesões avermelhadas ou acastanhadas pelo corpo; bolhas e feridas em mãos e pés. O nariz pode ficar entupido, sangrar ou com sensação de ressecamento.
O aspecto da lesão, a quantidade de bacilos, as regiões da pele anestesiadas e com lesões, e o comprometimento de nervos podem variar bastante. As lesões são bastante distintas entre si e podem ser confundidas com outras doenças de pele, por isso é imprescindível não se autodiagnosticar ou automedicar e sempre consultar um médico na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima à sua casa se tiver qualquer suspeita de estar com hanseníase.
Crédito: Agência Brasil
Como é feito o tratamento
É fundamental que as pessoas que residem na mesma casa do paciente sejam avaliadas pelo médico. Caso necessário, serão também tratadas.
O tratamento da hanseníase é gratuito, fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e está disponível na UBS. Além disso, o tratamento é ambulatorial, ou seja, não precisa de internação hospitalar, e é feito com antibióticos em comprimidos, com duração média entre 6 a 12 meses, com acompanhamento na UBS. Logo no início do tratamento a doença não é mais transmitida, evidenciando a necessidade de diagnosticar e tratar rapidamente o paciente, tanto para prevenir complicações, quanto para evitar a transmissão. Não se deve fazer qualquer tipo de isolamento ou algo parecido.
A hanseníase é uma doença curável, porém pode ser transmitida e deixar sequelas se o diagnóstico demorar muito para ser feito. As melhores formas de prevenção do surgimento de novos casos e de evitar as sequelas são: o diagnóstico e tratamento adequado dos pacientes, o exame das pessoas que convivem e conviveram nos últimos anos com o paciente, especialmente as que moram na mesma casa e/ou tenham contato muito próximo. Desconhecimento sobre a doença faz surgir preconceitos que só dificultam o adequado controle da hanseníase.
Crédito: USP
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