Maio, mês de conscientização do Lúpus
Maio é o mês do Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES)
Por Emília Sato
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é considerado o protótipo de doença autoimune, ou seja, ela é causada por uma desregulação do sistema imunológico, que passa a produzir anticorpos contra células ou componentes celulares do próprio indivíduo. Quando esses autoanticorpos encontram seus antígenos na circulação sanguínea ou nos tecidos, provocam um processo inflamatório com consequente lesão da célula ou órgão acometido. Por isso, o LES pode acometer praticamente qualquer órgão ou sistema, com manifestações muito variadas, que contribui para a dificuldade de diagnóstico nos casos com manifestações menos típicas.
Além da predisposição genética, outros fatores como o hormônio feminino, a radiação ultravioleta, infecções virais e até medicamentos podem servir de gatilho para o desenvolvimento da doença. Por isso, tem etiologia multifatorial e o peso de cada fator é variável em diferentes pacientes.
O LES afeta predominantemente mulheres jovens, mas, pode ocorrer em qualquer gênero e idade. Tem evolução crônica, caraterizada por períodos de atividade da doença e períodos de remissão.
Manifestações
As principais manifestações são os comprometimentos cutâneo (lesões em pele, geralmente em área exposta ao sol, e, articulares (artrite, geralmente não deformante), que ocorrem em mais de 80% dos pacientes ao longo da evolução da doença. Outros comprometimentos frequentes são a diminuição de células sanguíneas, causando anemia, leucopenia e/ou plaquetopenia; a inflamação de membranas que recobrem o pulmão (pleuris) e o coração (pericardite) e a inflamação de vasos sanguíneos (vasculite). Ao longo da doença cerca de 50-60% dos pacientes podem ter inflamação nos rins (nefrite), que requer diagnóstico e tratamento precoce, para impedir a perda da função renal. Comprometimento do sistema nervoso central pode causar convulsões, psicoses, lesão de nervos cranianos ou da medula espinhal, enquanto o envolvimento dos nervos periféricos podem ocasionar queixas como alteração da sensibilidade ou perda de força em membros (polineurites). Comprometimento do pulmão, coração e do sistema digestório também podem acontecer. Nas fases ativas (inflamatórias) do LES podem ocorrer febre, emagrecimento, cansaço e outras queixas inespecíficas. Estas manifestações podem ocorrer concomitante ou sequencialmente.
Infelizmente, não há um único exame que permita o diagnóstico de todos os casos de LES. Assim, o conjunto de exames, que incluem anticorpos antinucleares (FAN), anti-DNA, anti-Sm, dosagem de complemento, além de exames comuns como o hemograma, exame de urina e de função renal são importantes para o diagnóstico do LES.
Tratamento
O tratamento de uma doença tão heterogênea, não é feita com receita única, e dependerá do órgão comprometido e de sua gravidade. Nos pacientes com comprometimento de vários órgãos, o envolvimento mais grave deve nortear a escolha da medicação. De modo geral a hidroxicloroquina (tão comentado nesta pandemia) deve ser prescrita a todos os pacientes com lúpus, desde que não haja contraindicação. Os corticoesteróides são um excelente medicamento para o tratamento da fase aguda, mas, devem ser utilizados na menor dose e pelo menor tempo possível, para se evitar efeitos colaterais.
Para se conseguir o controle da atividade do lúpus, frequentemente, utilizamos medicamentos com ação anti-inflamatória crônica como o metotrexato e a leflunomida, e os imunossupressores como azatioprina, micofenolato de mofetila ou sódico, ciclosporina, tacrolimus e ciclofosfamida. Mais recentemente, algumas terapias biológicas tem mostrado ser benéfica em situações específicas, como o belimumabe (indicado para o controle da doença, na falta de resposta aos medicamentos já mencionados, ou, na impossibilidade de reduzir corticoesteróides para doses aceitáveis) e o rituximabe (indicado nos casos mais graves, refratário ao uso de imunossupressores).
Diversos outros medicamentos biológicos e pequenas moléculas com ação na resposta imune tem sido estudado em pacientes com LES, trazendo esperança de termos novos medicamentos, mais eficazes e seguros para o tratamento de pacientes com LES no futuro. Vale ressaltar que o tratamento de um paciente com LES deve ser individualizado e específico para a atividade daquele momento. No futuro, esperamos ter uma medicina mais personalizada, onde após análise genética de susceptibilidade, possamos analisar também características de metabolismo de drogas para que possamos optar pelo tratamento mais eficaz e seguro.
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