Pesquisa de genética psiquiátrica mostra padrões de expressão gênica associados à depressão, ansiedade e TDAH
Estudo foi desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Biologia Estrutural e Funcional da EPM
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Os transtornos de saúde mental estão entre as 10 principais causas de anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) em todo o mundo. Os transtornos depressivos e de ansiedade ocupam o quarto e o sexto lugar como principais causas de carga de doenças na população global entre 10 e 24 anos e o sexto e décimo quinto na população entre 25 e 49 anos.
Esses distúrbios são traços complexos, nos quais fatores de risco genéticos e ambientais contribuem para o desenvolvimento do traço. Eles são altamente hereditários, poligênicos e com arquitetura genética pleiotrópica. Dessa forma, a identificação de alterações moleculares associadas a transtornos de saúde mental fornece informações adicionais para a compreensão da fisiopatologia subjacente desses transtornos para validar ainda mais as avaliações diagnósticas e os tratamentos.
A alternativa encontrada por um estudo coordenado por Marcos Leite Santoro, professor do Departamento de Bioquímica da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), para superar essa limitação foi estudar os exossomos – pequenas vesículas carregadas de material genético que potencialmente contêm moléculas provenientes do sistema nervoso central.
A análise dessas vesículas – capazes de ultrapassar a barreira hematoencefálica (estrutura que protege o cérebro de patógenos e toxinas) e carregar pelo corpo pequenas moléculas de RNA (microRNAs) – mostrou ser possível encontrar padrões associados com depressão, ansiedade e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), abrindo caminho para, no futuro, aprimorar o acompanhamento de pacientes e oferecer tratamento precoce. Os resultados do estudo foram publicados na revista Translational Psychiatry.
“Apesar de ainda serem necessárias mais validações desses microRNAs, nosso trabalho indica que o material genético de moléculas carregadas pelo corpo pode ser identificado de forma pouco invasiva”, afirma Jessica Honorato Mauer, egressa do Programa de Pós-graduação em Biologia Estrutural e Funcional da EPM e primeira autora do estudo. “Não conseguimos ter certeza de que os exossomos analisados vêm do cérebro, mas sabemos que conseguem regular a expressão dos genes em vários tecidos e podem estar implicados em mecanismos que aumentam o risco para transtornos psiquiátricos.”
Imagem: Pollyana Ventura/Getty Images
Os pesquisadores envolvidos no estudo retiraram as vesículas extracelulares do soro sanguíneo de um grupo de 116 jovens participantes da Coorte Brasileira de Alto Risco para Condições Mentais (em inglês, Brazilian High Risk Cohort Study - BHRCS) em dois momentos (separados por três anos, ou seja, na adolescência e no início da idade adulta). Dessas vesículas extraíram os microRNAs, que foram sequenciados tanto para analisar a variação ao longo dos anos, quanto para identificar associações com transtornos específicos.
Próximos passos
Para expandir a análise e confirmar os resultados obtidos em outras fases da vida dos pacientes, a ideia dos pesquisadores é aumentar o tamanho amostral, tanto com os dados já disponíveis (há informações sobre mais de 700 jovens desde 2010) como com uma nova etapa de coleta, que inclui os mesmos indivíduos adultos e seus filhos.
Além da expressão de microRNAs, devem ser analisadas ainda outras informações para entender as doenças psiquiátricas de forma mais integrada, incluindo dados genômicos, transcriptômicos (RNAs expressos) e de metilação de DNA (relacionados com a modulação da expressão gênica) ao longo do tempo, além de fatores ambientais, como condição socioeconômica, exposição a abuso de drogas e a maus-tratos na infância e adolescência, bullying na escola e a pandemia de Covid-19.
O artigo Alterações no microRNA de vesículas extracelulares associadas a transtornos de depressão maior, déficit de atenção/hiperatividade e ansiedade em adolescentes pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41398-023-02326-4.
Fonte: Agência Fapesp
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