Morre Professor Elisaldo Carlini, um dos maiores cientistas brasileiros
Especialista reconhecido nacional e internacionalmente
Por: Renato Conte
É com pesar que o Campus São Paulo, e as diretorias da Escola Paulista de Medicina e Escola Paulista de Enfermagem, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), informam o falecimento, no dia 16/9/2020, aos 90 anos, do médico, professor emérito e pesquisador Elisaldo Luiz de Araújo Carlini, considerado o maior nome da ciência brasileira no assunto relacionado ao Cannabis medicinal.
Reconhecido como um dos maiores especialistas em entorpecentes do Brasil, e um dos mais respeitados internacionalmente, tendo estudado os efeitos da maconha e de outras drogas em nível experimental durante toda sua vida profissional.
Foi homenageado e condecorado duas vezes pela Presidência da República por seu trabalho como pesquisador, citado 12 mil vezes em pesquisas científicas nacionais e internacionais. Foi presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e membro do Conselho Econômico Social das Nações Unidas (ECOSOC/ONU).
Titulado Doutor honoris causa de inúmeras universidades, dentro e fora do país, e realizou estudos de pós-doutorado na Universidade de Yale. Teve mandatos como membro do Expert Advisory Panel on Drug Dependence and Alcohol Problems, da Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, foi pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Sua trajetória e carreira como intelectual, cientista e militante pela legalização da maconha medicinal mostram a grandeza do professor Carlini, tendo vivido a pesquisa e a vida acadêmica em dedicação exclusiva, até o último instante.
Por toda sua contribuição e credibilidade, está circulando o PL 399/2015 que traz a possibilidade de cultivo e produção de remédio à base de Cannabis em nosso país e, em abaixo-assinados é pedido que a Lei tenha o nome de Lei Elisaldo Carlini, prestando devida homenagem ao pioneiro nos estudos sobre a Cannabis para controle de epilepsia no Brasil.
Formado em Medicina pela Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) em 1956, instituição na qual foi professor emérito, professor do Departamento de Farmacologia e criou o Departamento de Psicobiologia da EPM, além de ter fundado e dirigido o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid). Foi membro do Departamento de Medicina Preventiva da EPM e contribuiu para a formação do Instituto de Ciências Ambientais Químicas e Farmacêuticas, Campus Diadema da Unifesp. Foi orientador de diversos programas de pós-graduação, tendo formado gerações de pesquisadores (as) e cientistas. Até seu falecimento estava atuando como orientador de mestrado e doutorado do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp.
Biografia
Filho de Francisco Araújo Carlini e Ana Ferreira Goyos Carlini, nasceu em 9 de junho de 1930. Aos 7 anos mudou-se para o extremo norte do estado de São Paulo num lugarejo chamado Pirajá, um lugar absolutamente sem recursos. Fez o primário na escola rural e aos 11 anos muda-se para São José do Rio Preto onde termina o curso ginasial.
Aos 15 anos muda-se para São Paulo, onde consegue emprego de office boy na empresa White Martins e faz o curso científico noturno no Colégio Estadual Caetano de Campos. Em 1952, entra na Escola Paulista de Medicina, graduando-se em 1957. Desde o 2º ano do Curso Médico faz estágio no Departamento de Bioquímica e Farmacologia, sendo orientado pelos professores José Ribeiro do Valle e José Leal Prado.
A partir de 1958, fica trabalhando na disciplina de Farmacologia e, em 1960, ganha bolsa da Fundação Rockefeller no Departamento de Bioquímica da Tulane University, EUA (1960) e no Departamento de Farmacologia da Yale University, EUA (1961-1964). Retorna ao Brasil em 1964, assume a chefia da Seção de Fisiologia Animal do Instituto Biológico de São Paulo (por 6 meses).
No início de 1965, passa a chefiar a disciplina de Farmacologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Em 1970, retorna à Escola Paulista de Medicina com o título de Professor Adjunto, onde fundou o Departamento de Psicobiologia e chefiou a disciplina de Psicofarmacologia.
Em 1978, é aprovado no concurso para professor titular. Continua exercendo as atividades em regime de dedicação exclusiva como chefe da disciplina de Psicofarmacologia e Chefe do Departamento de Psicobiologia até 1995, quando assume o cargo de Secretário Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, onde permanece até março de 1997.
Retorna à Universidade Federal de São Paulo (antiga Escola Paulista de Medicina) onde, como professor aposentado, exerce atividades de pesquisa e ensino para a pós-graduação em tempo integral e dedicação exclusiva até o presente. Tem próximo de 3 centenas de trabalhos científicos publicados, cerca de 50% em revistas internacionais. Orientou cerca de 17 teses de mestrado e 24 teses de doutorado, participando de dezenas de bancas em concurso público para docentes universitários e dezenas de bancas para defesa de teses de mestrado e doutorado.
Orientou teses de mestrado e doutorado, pesquisas no campo de plantas brasileiras com ação no sistema nervoso central e também desenvolvendo pesquisas sobre substâncias psicoativas e principalmente exercendo trabalhos de levantamentos a nível nacional sobre o consumo ilícito destas drogas.
O velório e sepultamento ocorreu no dia 17 de setembro, no cemitério Congonhas, onde reuniu familiares e amigos.
Fonte: Cebrid
Foto: Acervo Unifesp
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