Farmacologia na EPM
Farmacologia na Escola Paulista de Medicina - EPM
A Farmacologia da Escola Paulista de Medicina foi iniciada em 1948 pelo Prof. Dr. José Ribeiro do Valle em um pequeno laboratório instalado em duas salas da Farmácia do Hospital São Paulo, que, já naquela época, unia as funções de assistência, ensino médico e pesquisa. Contando desde o início com o apoio e colaboração do Prof. Dr. José Leal Prado, na época professor de Química Fisiológica, os então chamados "Laboratórios de Farmacologia e Bioquímica" mudaram-se em meados de 1956 para modernas instalações construídas especificamente para o ensino acadêmico e para a pesquisa científica nas duas áreas, situadas no hoje denominado Edifício Leal Prado.
Com a organização oficial dos Departamentos, na EPM em 1965, os "Laboratórios" passaram a constituir o Departamento de Bioquímica e Farmacologia (DBF). A chefia do Departamento foi revezada entre seus fundadores Leal Prado (1965 a 1971) e Ribeiro do Valle (1971 a 1977) até a criação do Instituto Nacional de Farmacologia em 1978, quando também houve o desmembramento dos dois Departamentos.
Em 1972 a Pós-graduação em Farmacologia da Escola Paulista de Medicina (EPM) foi credenciada em duas áreas: Modo de Ação de Drogas e Endocrinologia Experimental/ Produtos Naturais. Estes Setores formaram as bases para a criação das Disciplinas de Farmacologia e de Farmacologia Celular em 1989, cujos laboratórios ocupam áreas do antigo Departamento de Bioquímica e Farmacologia, no Edifício Leal Prado e no Instituto Nacional de Farmacologia (INFAR, Edifício José Ribeiro do Valle).
O INFAR foi, de fato, o primeiro Instituto a funcionar na EPM. Sob a liderança de seu idealizador, Dr. José Ribeiro do Valle do Departamento de Farmacologia, o INFAR abriu as portas para os Departamentos de Bioquímica e Biofísica no edifício que recebeu o nome do seu fundador.
Atualmente o INFAR identifica o Instituto de Farmacologia e Biologia Molecular da EPM.
A partir de 1978, a Chefia do Departamento de Farmacologia passou sucessivamente aos professores: Zuleika Picarelli Ribeiro do Valle (1978-1979), Aron Jurkiewicz (1979-1983), Maria Lygia C. de Abreu (1983-1990), Neide Hyppolito Jurkiewicz (1990-1999), Antonio José Lapa (1999-2005), Rosana de Alencar Ribeiro (2005-2011), Catarina Segreti Porto (2011-2014), Caden Souccar (2014-2017), Lucia Lamerião Garcez do Carmo (2017-2018), Caden Souccar (2018-2020) e Miriam Galvonas Jasiulionis(2021- atual) .
Homenagem ao Prof. Dr. Ribeiro do Valle
José Ribeiro do Valle (In Memorian)
15/08/1908 - 19/12/2000
O Prof. Ribeiro do Valle faleceu em 19 de dezembro de 2000 após longa enfermidade. Na ocasião, a Diretoria da SBFTE e muitos outros farmacologistas, discípulos e amigos acompanharam o colega pioneiro até sua última morada. As manifestações à família foram muitas e carinhosas, uma retribuição póstuma do tratamento que o professor dispensou aos amigos em sua longa vida. Notava-se mais introspecção que tristeza.
O passamento trouxe aos que conheceram o comandante a oportunidade de repensar a sua contribuição como professor dedicado, como cientista perspicaz, como orientador-sem-peia, como planejador cuidadoso, como historiador erudito, como diplomata afável, como conselheiro experiente ou como amigo contador de estórias. Reassumindo a função de ajudante-de-ordens, ajudando a conduzir o carrinho mortuário morro abaixo, veloz como se tivesse pressa, mais freando que outra coisa, ouvia as palavras costumeiras do professor, sempre muito religioso, ao iniciar nossas viagens:“Deus na frente motorista! A estrada é longa, mas será segura”.
No silêncio do féretro, o ranger do carrinho lembrou-me outra metáfora costumeira que dividia com o Tatão, primo, colega marista e amigo de infância: “É (foi) um carro de boi! Não recusa(va) trabalho e não vê (via) peso! ‘Tá (‘tava) mais para morrer na canga que deitar no cambão!”. Mais adiante, na virada da aléia, o peso aumentando, desculpou-se: “Dessa vez subi no carro. Não dá para ajudar no empurro!”. Como professor, sua maior aula foi a sua vida. Aos amigos, carinho e entusiasmo.
Aos jovens, que sempre o rodeavam, transmitia segurança e confiança no livre pensar, na independência científica e na atuação autônoma, qualidades capazes de fazê-los resistir aos modismos imediatistas de tecnocratas deslumbrados. Até seu desligamento, há 9 anos, o professor acompanhou o cientificismo crescente da nossa sociedade, norteando os que estavam ao alcance de sua voz com atitudes e opiniões serenas, em geral figurativas, indutoras da formação humanística complementar à capacitação científica moderna. “O cérebro implica inteligência e o coração caridade. Já foi dito que um grande coração servido por curta inteligência é tão desastroso quanto uma inteligência fulgurante apoiada num coração fraco”.
O corpo repousa no Cemitério São Paulo, na capital, mas seus exemplos frutificam no país. Quem privou com ele e com seus ensinamentos forma sua equipe de assistentes voluntários. Seu exemplo humanístico calou fundo e sempre há de influenciar os que puderem expressar receptores afins.
Feliz o homem que não segue as máximas dos ímpios, nem trilha a senda dos maus, nem convive com os insolentes mas se deleita na Lei do Senhor e nela medita dia e noite! É semelhante à árvore plantada à beira do regato, que dá fruto no devido tempo e cujas folhas jamais fenecem...”Discursos e Lembranças, J. R. Valle, 1977.
José Ribeiro do Valle nasceu em Guaxupé, Minas Gerais. Fez o curso ginasial no Colégio Arquidiocesano de São Paulo e o superior na Faculdade de Medicina de São Paulo, por onde se formou em 1932. Dois anos mais tarde foi levado à Escola Paulista de Medicina pelas mãos de Otto Bier e André Dreyfus, inaugurando o ensino da Farmacologia e a experimentação animal naquela Escola. Com o tempo e perseverança, foi laureado, ainda em vida, por seus pares, quase todos seus ex-alunos, como Professor Emérito da Escola Paulista de Medicina, atual Universidade Federal de São Paulo. Antigo assistente chefe do Instituto Butantã, fez estágio e treinamento em muitos centros internacionais: Universidade do Texas, da Califórnia, de Chicago; Clínica Mayo; Memorial Hospital, New York; Instituto de Biologia e Medicina Experimental de Buenos Aires. Fellow da J.S. Guggenheim Memorial Foundation nos Estados Unidos (1946-1948). Membro de várias associações científicas nacionais e estrangeiras e titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo. Assessor científico de todos os órgãos nacionais relacionados com a Farmacologia e com o desenvolvimento de medicamentos, tais como a extinta Central de Medicamentos (CEME), a Comissão de Produtos Naturais do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), a Comissão Estadual de Entorpecentes, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP). Orientou vários pesquisadores em estágios e teses de doutoramento, influenciando com sua personalidade afável a vida acadêmica de renomados colegas e ex-orientandos, entre eles A. Porto, J. Leal Prado, S.B. Henriques, L.C.U. Junqueira, A.C.C. Lavras, H.A. Paraventi, Z.P. Picarelli, A.C.M. Paiva, T.B. Paiva, J.G. Sá Scheffer, G. Rodrigues de Lima, E.X. Albuquerque, E.A. Carlini, Neide e Aron Jurkiewicz, G. Aucélio, M. Lygia C. de Abreu, A.J. Lapa.
A obra científica de Ribeiro da Valle está publicada em mais de duas centenas de artigos científicos e 10 livros. Foi Professor conferencista do CNPq, Presidente do Comitê Assessor da área de Farmacologia do CNPq e do Conselho de Pós-graduação da Escola Paulista de Medicina. Recebeu a comenda de Oficial da Ordem do Rio Branco e o Prêmio Astra de Medicina e Saúde Pública (1976) e a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (1994). Após sua aposentadoria compulsória idealizou e construiu o Instituto de Farmacologia (INFAR) da UNIFESP do qual foi Diretor por 10 anos e que hoje leva o seu nome.
Por: Prof. Dr. Antonio José Lapa