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Uma pesquisa inédita da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) concluiu que a acupuntura, considerada uma das técnicas da Medicina Tradicional Chinesa, é uma terapia complementar eficaz à medicação na redução da intensidade da dor em pacientes com doença falciforme. O estudo também mostrou que a aplicação da técnica foi capaz de diminuir o consumo de analgésicos entre os(as) pacientes avaliados(as).
Essas conclusões estão na tese de doutorado de Stela Cezarino de Morais, orientada pela professora Maria Stella Figueiredo e coorientada pelo professor Ysao Yamamura (in memoriam). O trabalho foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Medicina (Hematologia e Oncologia) da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo.
O estudo foi realizado com 42 pacientes acompanhados(as) pelo Ambulatório de Anemia Hereditária da EPM/Unifesp que referiram dor durante a consulta de rotina. Eles(as) foram randomizados em dois grupos: 16 no grupo de medicação (GM), medicados(as) com analgésicos de acordo com intensidade de dor imediatamente e posteriormente em domicílio, e 26 no grupo de acupuntura (GA), submetidos(as) a uma sessão de 15 minutos de acupuntura imediatamente, seguido de medicação em domicílio.
Ambos os grupos receberam receita e amostras de analgésicos para levar para casa, além de um diário para registrar episódios de dor durante 14 dias. Nele, deveriam informar o nome e a quantidade de doses das medicações analgésicas utilizadas em cada dia, bem como a intensidade da dor referida de acordo com a escala numérica da dor. Uma comparação quantitativa da melhora da dor foi realizada em 15 minutos após a intervenção e, diariamente, ao longo dos 14 dias seguintes.
Comparado com o GM, o GA apresentou melhora expressiva da dor após 15 minutos da intervenção: 96,2% dos(as) pacientes tiveram redução da dor maior ou igual a dois pontos na escala da dor, descrita como desejável na literatura médica, contra 58,3%. Já ao final do primeiro dia em que foi feita a aplicação, a tendência de ter mais pacientes com redução da dor maior ou igual a dois pontos foi de 50% para o GA contra 20% para o GM. Também houve menor consumo de analgésicos pelo GA no período de até 14 dias.
“Além disso, dentro do grupo de acupuntura, quando analisamos o desfecho ‘ficar totalmente sem dor’, 14,3% dos(as) pacientes apresentaram essa condição previamente somente com medicações, enquanto que 95,2% deles(as) ficaram totalmente sem dor após a sessão de acupuntura”, descreve Morais.
A doença falciforme e a dor
A doença falciforme é uma alteração genética que causa a deformação das hemácias (glóbulos vermelhos do sangue), os quais assumem a forma de 'foice' (falcização). A morfologia achatada e tentacular permite, com maior facilidade, a adesão ao endotélio – tecido que reveste a parede interna dos vasos sanguíneos – e entre as próprias hemácias, facilitando a obstrução do fluxo sanguíneo principalmente nos vasos capilares.
De acordo com a pesquisadora, as manifestações clínicas, as quais ocorrem ao longo da vida dos pacientes, são decorrentes da isquemia tecidual pela vaso-oclusão, quando há obstrução do fluxo sanguíneo gerando sofrimento para os tecidos correspondentes, da lesão endotelial ou da hemólise crônica, caracterizada pela destruição precoce de hemácias.
"A dor é a característica mais comum do(a) paciente falciforme, sendo a sua frequência o principal fator na queda da qualidade de vida desses indivíduos. Nesse trabalho, valorizamos o sistema desenvolvido pelo professor Ysao Yamamura, que provoca alívio imediato da dor – o que dificilmente se obtém com medicações”, ela relata.
Dados do Programa Nacional da Triagem Neonatal, do Ministério da Saúde, estimam que três mil crianças nasçam com doença falciforme todo ano no Brasil. No Estado de São Paulo, a incidência da doença entre os(as) nascidos(as) vivos(as) é de uma criança para quatro mil.
Fonte: DCI/Unifesp