Covid-19 e o uso de bebida alcoólica: artigo inédito analisa possíveis impactos no consumo populacional
Autores de diversas instituições internacionais avaliam, em artigo, dois possíveis cenários
Por Matheus Campos
O isolamento social, combinado à falta de perspectiva e medo, comumente gera sentimentos como solidão e ansiedade, que podem ser gatilhos para o aumento e a frequência do consumo de bebidas alcoólicas. A OMS (Organização Mundial da Saúde), em artigo, recomendou inclusive que os governos limitem a venda das bebidas durante a quarentena, bem como solicitou que as regulações já existentes, como idade mínima e proibição da publicidade, sejam reforçadas.
Paralelo a isso, um artigo recentemente publicado no periódico científico Drug and Alcohol Review, feito numa parceria entre diversas instituições internacionais, oriundas da Rússia, África do Sul, Alemanha, Canadá, EUA e Brasil - aqui representado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) -, sugere que a pandemia de Covid-19 pode alterar de maneira importante os padrões de consumo de álcool da população.
Possíveis cenários
Com base em uma pesquisa bibliográfica realizada para determinar os impactos de crises de saúde pública vivenciadas no passado e uma revisão sistemática dos efeitos de crises econômicas no consumo de álcool, dois cenários principais - com previsões opostas sobre o impacto da atual pandemia do novo coronavírus nos padrões de consumo de álcool – foram discutidos pelos autores.
O primeiro cenário prevê um aumento no consumo de algumas populações, principalmente dos homens, devido ao sofrimento resultado da pandemia. Um segundo cenário prevê o resultado oposto, com um nível reduzido de consumo, tendo base na diminuição da disponibilidade física do álcool e financeira para a compra.
“Com as atuais restrições à disponibilidade de álcool em diversos países (mas não no Brasil) postula-se que, no futuro imediato, o cenário predominante provavelmente será o segundo, enquanto o sofrimento experimentado no primeiro pode se tornar mais relevante no futuro a médio e longo prazo”, analisa a professora Zila Sanchez, do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) e co-autora do artigo.
"Supondo que essa pandemia esteja de fato associada a uma redução no consumo de bebida alcoólica nos países que estão impondo limites para a venda durante o isolamento social, como recomendado pela OMS, esse efeito não pode ser extrapolado para o Brasil, em que aparentemente há facilidade de compras de bebidas online e um estímulo ao consumo em lives feitas por influenciadores digitais", ressalta Zila.