Instituto criado por oftalmologistas da EPM conquista Prêmio Champalimaud de Visão 2019
O prêmio é o maior do mundo na área de oftalmologia e acontece uma vez a cada dois anos
Moradores de regiões periféricas ou afastadas não contam com atendimento oftalmológico acessível e sofrem com uma cegueira que em 75% dos casos poderia ser prevenida ou curada, de acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia.
Foi essa constatação que motivou os docentes do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) a criar o Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia ou Instituto da Visão da Paulista (Ipepo) na década de 1980, com a missão de combater a cegueira evitável em São Paulo e em áreas rurais remotas e desassistidas.
Os médicos voluntários de todo o país atuam em campanhas comunitárias, mutirões e atendimentos de rotina nas periferias paulistanas e, desde 2005, examinam e operam moradores de regiões remotas da Amazônia, em expedições feitas duas vezes ao ano. Apenas nos últimos cinco anos, o Ipepo realizou mais de 2 milhões de consultas e 100 mil cirurgias oculares gratuitas em todo território brasileiro. Esses números garantiram a conquista do Prêmio António Champalimaud de Visão 2019 - maior prêmio do mundo na área de oftalmologia e que acontece uma vez a cada dois anos.
Os vencedores anunciados na última quarta-feira (4) são todos brasileiros. Ao lado do Ipepo, os outros dois projetos premiados são a Fundação Altino Ventura e o Serviço de Oftalmologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - o valor de um milhão de euros será repartido entre as três instituições.
O Instituto
Há dez anos, o Instituto da Visão optou por dar ênfase à Amazônia em sua atuação, por meio da Oftalmologia Humanitária - projeto de parceria entre a Universidade Federal do Amazonas, o Ipepo, a Fundação Piedade Cohen e a Marinha do Brasil -, médicos voluntários devolvem a visão de moradores das comunidades ribeirinhas desprovidas do serviço público de tratamento oftalmológico. Com o apoio da Marinha, a equipe viaja pelo trajeto majoritariamente fluvial por meio do Soares de Meirelles, embarcação de quatro andares que abriga os voluntários e os equipamentos de última geração, doados por empresas.
Rubens Belfort Junior, oftalmologista da EPM e atual presidente do Ipepo conta detalhes dessa iniciativa, e segundo ele não há diferença de tratamento entre os pacientes de São Paulo e os que viajam por oito horas de barco para entrar na fila do atendimento gratuito. "A gente tem apoio para isso, nossos cirurgiões são os mesmos que operam nos hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês. Então, é primeiro nível de medicina", afirma.
Além das cirurgias gratuitas que recuperam, em 30 minutos, a visão dos que há anos não enxergavam, são também doados cerca de 5.000 óculos de grau a cada expedição, graças à parceria do Instituto com a Lupas Leitor.
O Futuro do Projeto
Com o prêmio, o Ipepo pretende expandir os programas voltados à periferia da capital paulista, com ênfase na diabete ocular. Em relação à Amazônia, os planos são ainda mais ambiciosos. Além de aumentar as áreas de impacto, os docentes querem também investir no combate a uma doença pouco valorizada e muito comum no interior amazônico, o pterígio - doença que ocorre quando o tecido da conjuntiva (que cobre a parte branca dos olhos) cresce e fica menos vascularizado do que a córnea (parte transparente do olho).
Belfort acredita que a conquista possibilitará novas parcerias com instituições ainda maiores, o que é fundamental para que o projeto alcance, aos poucos, todos os pequenos municípios amazônicos e comunidades afastadas.