Pé diabético: a simples ferida que pode virar um problema sério
Atenção vai desde a escolha da palmilha até o corte das unhas
Atualmente, 463 milhões de pessoas entre 20 a 79 anos de idade têm diabetes mellitus (DM) no mundo. Com a perspectiva de aumento de 51%, estima-se para o ano de 2045 que aproximadamente 700 milhões de pessoas com a doença.
O Brasil é o quinto país com o maior número de pessoas com a doença no mundo. Estima-se que atualmente 16,8 milhões de brasileiros tenham diabetes. Este cenário suscita medidas urgentes de controle e prevenção da doença, bem como de suas complicações; caso contrário, o país estará fadado a ter um número expressivo de pessoas com sequelas ou com a expectativa de vida reduzida.
Atlas IDF com dados brasileiros compilados em português - https://www.diabetes.org.br/profissionais/images/2018/poster-atlas-idf-2017.pdf International Diabetes Federation. IDF Diabetes Atlas, 9th edn. Brussels, Belgium: 2019. Available at: http://www.diabetesatlas.org
Mundialmente, a cada 20 segundos um membro inferior - pé ou perna - é amputado em decorrência das complicações do diabete (IWDF, 2019).
Pessoas com diabetes apresentam potencial para o surgimento de úlceras nos pés, as quais podem precipitar a amputação de um membro ou parte dele.
O “pé diabético”, ou melhor úlcera do pé diabético, é uma das complicações mais comuns inerentes ao diabetes de longa duração e com controle glicêmico inadequado.
Pé diabético: o melhor remédio é a prevenção
O que é
Pé diabético é uma complicação da diabetes caracterizada por uma ferida (úlcera) nos membros inferiores agravada por uma infecção, mas também pode englobar qualquer alteração de origem neurológica, ortopédica ou vascular que afete essa região do corpo.
Esse quadro costuma acontecer porque, com o passar do tempo, a diabetes leva a um problema chamado neuropatia. Essa situação causa um prejuízo aos nervos, resultando em deformações nos ossos e nos músculos dos pés e na redução da sensibilidade da pele.
Com isso, ao mesmo tempo em que os pés se tornam mais propensos a sofrer um machucado (bolhas, calos, traumas etc.), o paciente perde parte de sua capacidade de sentir dor, o que faz com que ele não perceba que tem uma ferida e, assim, não procure tratamento.
Além disso, as pessoas com diabetes tendem a apresentar problemas de circulação, o que dificulta a chegada do sangue até os membros mais distantes do coração, especialmente os pés. Em consequência, essa região recebe menos oxigênio, o que prejudica a cicatrização e pode levar à morte do tecido, conhecida como necrose ou gangrena.
Como esse quadro evolui de forma silenciosa, o paciente passa semanas ou meses com uma úlcera aberta, ou seja, uma porta de entrada para microrganismos causadores de infecções, principalmente as bactérias. Dessa forma, geralmente a lesão já está muito avançada quando a pessoa procura o médico, levando a um alto risco de amputação. (Fonte: MedPrev)
No paciente diabético essas lesões são indolores e aumentam de tamanho rapidamente se não forem visualizadas e tratadas precocemente..(Fonte da imagem)
Educação e assistência na Unifesp
O desempenho realizado tem conferido destaque e renome aos profissionais da Unifesp na área que atuam como consultores das Sociedades Brasileiras de Diabete (SBD), de Enfermagem em Dermatologia (Sobende) e de Estomaterapia (Sobest), apoiando as conferências, revisões de diretrizes/Guidelines, e pesquisas para a busca de evidências científicas para o melhor cuidado à pessoa com DM.
A atuação de professores da Escola Paulista de Enfermagem - Universidade Federal de São Paulo (EPE/Unifesp), graduandos, extensionistas e egressos da pós-graduação na educação, prevenção das complicações secundárias agudas e crônicas, tratamento, reabilitação e pesquisa sobre o diabetes mellitus (DM) ocorre há mais de 30 anos na Unifesp. Os cenários dessas atuações são: o Centro de Diabetes da Unifesp, os ambulatórios de especialidades, o Centro de Assistência e Educação em Enfermagem (CAEnf), a Liga Acadêmica de Educação em DM, o Projeto de Extensão Cuidar-te, as campanhas de detecção da doença pelas associações de Diabetes Juvenil (ADJ) e a de Atenção ao Diabetes (ANAD) e acampamento de crianças e adolescentes com DM1 em parceria com a ADJ, além da participação dos estagiários no Hospital São Paulo, hospital universitário da Unifesp (HSP/HU Unifesp) e nas unidades básicas de saúde do munícipio de São Paulo.
A atividade laboral de docentes, graduandos e pós-graduandos da EPE permitiu estimular a formação de profissionais da área e manejar corretamente a hiperglicemia crônica, decorrente do DM mal controlado ou tardiamente diagnosticado, fato esse que, se não monitorado, cursa para complicações crônicas como a retino, cardio, nefro, vasculopatias, além da degeneração progressiva das fibras nervosas afetando a integridade dos nervos sensitivos, motores e/ou autonômicos, causando complicações nas pernas e pés, que podem levar a amputação de extremidades inferiores por DM.
Referências
- National Institute for Health and Care Excellence. Diabetic foot problems: prevention and management.
- Gamba, MA.; Pedrosa, H.; Vilar, L.; Boulton, AJ.; Dompiere, NB.; Neri, E.; Medeiros, FVS. O papel da enfermagem na educação e nos cuidados com os pés dos pacientes com diabetes mellitus.
- Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019–2020. São Paulo: Ed Clannad; 2020; 397
- International Diabetes Federation. IDF diabetes atlas. 9th edn.
- Pedrosa, HC.; Vilar, L.; Boulton, AJM, eds. Neuropatias e pé diabético. Rio de Janeiro: Editora AC Farmacêutica, Grupo Editorial Nacional; 2014
- International Working Group on the Diabetic Foot. IWGDF Practical guidelines on the prevention and management of diabetic foot disease.
- Lucoveis, MDLS.; Rolim, LCSP.; Pedrosa, HC.; Sá, JR.; Armstrong, DG.; Paula, MAB.; Gamba, MA. Development and validation of a pocket guide for the prevention of diabetic foot ulcers. Br J Nurs. 2021
Autoras
- Mônica Antar - docente do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo (EPE/Unifesp) - CV
- Maria Gabriela Cavicchioli - enfermeira com mestrado em Enfermagem pelo Programa de Pós-graduação da EPE/Unifesp - CV
- Maria do Livramento Lucoveis - enfermeira com mestrado em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-graduação da EPE/Unifesp - CV
- Odete Monteiro - docente do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da EPE/Unifesp - CV