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História do Departamento de Medicina

Publicado: Terça, 24 de Novembro de 2020, 10h22 | Última atualização em Terça, 08 de Junho de 2021, 08h55 | Acessos: 7194

Departamento de Medicina

Breve história do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, 1951 a 2001

 

Preâmbulo

 

Precisamos descobrir o Brasil!

Escondido atrás das florestas, com a água

dos rios no meio, o Brasil está dormindo,

coitado. Precisamos colonizar o Brasil. 

Carlos Drummond de Andrade. Hino Nacional, in Brejo das Almas, 1934.

 

As primeiras Escolas de Medicina no Brasil foram criadas por D. João VI em 1808: a Escola de Cirurgia do Hospital Militar da Bahia em 18 de fevereiro (com dois professores) e a Escola de Cirurgia e Medicina do Hospital Militar do Rio de Janeiro, em 5 de novembro. A Escola Paulista de Medicina (EPM) foi a 11ª a ser criada no país; seu Manifesto de Fundação foi publicado a 1 de junho de 1933. Em 1933 Gilberto Freyre publica Casa Grande e Senzala; em 1934 é criada a Universidade de São Paulo.

A EPM instalou-se em sede definitiva à Rua Botucatu em 30 de setembro de 1936 e inaugurou o Pavilhão Maria Thereza em 19 de junho de 1937. A EPM foi reconhecida oficialmente em 31 de maio de 1938 e federalizada a 21 de janeiro de 1956. Transformou-se na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) em dezembro de 1994; é universidade especializada no campo de Ciências da Saúde. É a mais produtiva das universidades brasileiras, considerada a relação entre trabalhos publicados em periódicos de circulação internacional e o número de docentes. A EPM evoluiu de escola profissionalizante a universidade de pesquisa.

Quando a Escola Paulista de Medicina foi fundada não possuía de seu um único metro quadrado, mas foi grande o ideal e persistente a ação de seus fundadores: um grupo de cientistas e médicos com atuação destacada e idades variando de 27 a 54 anos. Na cerimônia do lançamento da estaca fundamental do Hospital São Paulo (1936) recitou o poeta Guilherme de Almeida: "Aí está, germinada e prosperada a semente; aí está, florescido o ideal; aí está, frutificado o empreendimento! Aí está a Escola Paulista de Medicina. A árvore boa, em boa hora, sob um bom signo, numa boa terra e por boas mãos plantada".

A Escola consolidou-se, cresceu e foi pioneira em vários aspectos: construiu o primeiro hospital-escola do país (Hospital São Paulo), criou o primeiro curso Biomédico no país (1966) e, em 1951, criando o Departamento de Medicina antecipou a estrutura departamental, que só veio a ser oficialmente implantada no ensino superior brasileiro em 1965.

 

Primórdios (1933-1950)

 O ensino de clínica médica na Escola Paulista de Medicina iniciou-se em 1936, para a 4a série do curso, com a disciplina de Clínica Propedêutica Médica, sob a regência de Jairo de Almeida Ramos (1900-1972). Este ensino completava-se com o da 1a Clínica Médica, sob a regência de Octávio de Carvalho (1891-1973) para a 5a série e, para a 6a série do curso, da 2a Clínica Médica sob regência de Álvaro de Lemos Torres (1884-1942). Octávio de Carvalho foi o primeiro Diretor da EPM (1933-1938), sendo sucedido na diretoria por Lemos Torres. Com a morte, acidental e precoce, de Lemos Torres em 1942 assumiu a direção da EPM, no período 1942-1952, Álvaro Guimarães Filho (catedrático de Clínica Obstétrica). A cátedra da 2a Clínica Médica, após concurso de títulos, foi assumida por José Barbosa Corrêa (1899-1948).

As primeiras aulas práticas de clínica médica realizaram-se no Hospital Humberto Primo (depois Matarazzo): doentes, previamente selecionados pelo corpo docente, ocupavam temporária e voluntariamente leitos em área especificamente cedida ao ensino, pela direção do hospital. Em junho de 1937 foi instalado, já no campus da Rua Botucatu, pavilhão provisório do futuro hospital-escola. O Pavilhão Maria Theresa de Azevedo, em seus 2 andares, abrigava 60 leitos. No final de 1940 o Hospital São Paulo já possuía 4 andares em funcionamento, e o "Maria Theresa" destinou-se a atendimento ambulatorial e pode acolher o Centro Acadêmico Pereira Barretto. Onde esteve o "Maria Theresa" ergue-se hoje o Edifício Octávio de Carvalho que abriga a Reitoria, anfiteatros, laboratórios de aulas práticas e Departamentos Administrativos.

Os "Estatutos da Escola Paulista de Medicina", aprovados por Assembleia Geral Extraordinária em 25 de julho de 1940, tendo caráter geral, deixaram ampla liberdade de ação aos fundadores e catedráticos, até a implantação do Regimento de 1965. O ensino de Medicina foi, nas primeiras 2 décadas de vida da EPM, a resultante de conjunto de individualidades (cátedras) mais do que o desenvolvimento de um projeto pedagógico. 

 

Criação do Departamento (1949-1951)

 

E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.

Carlos Drummond de Andrade. A máquina do mundo, in Claro Enigma, 1951.

 

Em 1950 realiza-se em São Paulo a primeira transmissão de televisão no Brasil. No ano de 1951 foram criados o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), a Associação Médica Brasileira e realizou-se a 1a Bienal de Artes Plásticas de São Paulo. O Ministério da Saúde é criado em 1953.

Em 1951, por iniciativa de Jairo Ramos, foi criado na EPM o Departamento de Clínica Médica, fato ímpar, pois em instituição de caráter privado e como consequência da formulação de um projeto pedagógico mudavam-se "as regras do jogo universitário"; apenas em 1965 lei federal instituiria o sistema departamental na universidade brasileira. A proposta inicial de criação do Departamento vinha de 1949; o processo levou dois anos para amadurecer.

Em 1949 na reunião realizada a 23 de março a Congregação da EPM analisou o documento "Estudo da organização do Departamento de Clínica Médica", elaborado por Jairo Ramos. Antes de ceder a palavra a Jairo Ramos para que expusesse o documento, o Presidente da Congregação (Álvaro Guimarães Filho, diretor da EPM) informou que o Conselho Técnico Administrativo já havia discutido "a possibilidade de a Escola Paulista de Medicina aplicar em sua organização escolar a criação de Departamentos, de conformidade com o que fora estabelecido pelos Decretos Federais 20.445 de 22 de janeiro de1946 e 21.321 de 18 de junho de 1946". O CTA achou, porém, "de toda a conveniência que o assunto fosse estudado e resolvido pela Congregação". Os citados decretos federais implantaram reformulação que Raul Leitão da Cunha, ministro da Educação e Saúde do Governo Provisório de José Linhares (outubro de 1945 a janeiro de 1946), fizera em diversos organismos do Ministério. A reformulação concedia autonomia à Universidade do Brasil (hoje UFRJ), modificando seu estatuto, e desenhava o modelo de constituição futura das universidades federais. O Estatuto da Universidade do Brasil (constituída inicialmente por 6 institutos e 14 faculdades, dentre elas a Faculdade Nacional de Medicina) estabelecia em seu artigo 59 que "O regimento de cada uma das escolas e faculdades estabelecerá a organização didática e administrativa das mesmas em Departamentos, formados pelo agrupamento das cadeiras afins ou conexas." Feitos estes esclarecimentos pelo Diretor, Jairo Ramos com a palavra considerou que "acontecido o infausto falecimento do Professor José Barbosa Corrêa e ficando vaga a Segunda Cadeira de Clínica Médica (com substituição interina por Horácio Kneese de Mello) deveria haver preenchimento definitivo da cátedra. Argumentou, entretanto, Jairo Ramos que "havia chegado o momento oportuno para a Escola Paulista de Medicina resolver sobre se havia ou não conveniência da criação de seus Departamentos, iniciando pela Clínica Médica". Lembrou que a organização dos Departamentos na Universidade do Brasil resultara do agrupamento de cadeiras, sob a presidência de um titular, e na criação do Conselho Departamental, "órgão que pouco poderia influir na melhoria do ensino Médico". Considerou ainda que "pelos estudos anteriores parece haver conveniência, para maior eficiência do ensino, da estruturação do Departamento em outros moldes, que serão a seguir apresentados". Neste momento o Diretor interrompe para informar que tendo ido ao Rio de Janeiro teve oportunidade de trocar idéias com o Diretor do Departamento de Ensino Superior do Ministério da Educação (Jurandyr Lodi), o qual aconselhou que a Escola Paulista de Medicina estudasse muito bem o assunto em apreço, principalmente com referência ao futuro, pois, "o que se pretendia era uma inovação no ensino médico, e traria conseqüências que deveriam ser bem ponderadas". Visitando igualmente o Presidente do Conselho Nacional de Educação (Cesario de Andrade) este ponderou que "aquelas idéias iriam alterar o Regimento Interno e que, portanto, necessitavam ser submetidas ao Conselho Nacional de Educação". Retomando a palavra Jairo Ramos apresenta então sua "Proposta-Consulta ao Ministério da Educação sobre a criação do Departamento de Clínica Médica". O Departamento a ser criado viria substituir três cadeiras curriculares (Clínica Propedêutica Médica, Primeira Clínica Médica e Segunda Clínica Médica), ficaria sob a chefia de um único professor titular e seria integrado por professores adjuntos, assistentes e instrutores. O Departamento, nesta proposta inicial, compreenderia as seguintes especialidades: Cardiologia, Endocrinologia, Gastroenterologia e Nutrição, Hematologia, Laboratório Clínico e Radiodiagnóstico. O Departamento teria "no mínimo seis professores adjuntos, um para cada disciplina". Após análise das vantagens que a criação do Departamento traria para o ensino e a pesquisa na EPM o documento foi aprovado, por unanimidade, pela Congregação.

A diferença entre a proposta aprovada na EPM e a prevista no estatuto da Universidade do Brasil era que esta entendia o Departamento como um agrupamento de cátedras ao passo que a proposta de Jairo Ramos previa a criação de um departamento-tronco de onde surgiriam divisões/especialidades. Nesta época já haviam sido fundadas sociedades nacionais de especialidades: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia em 1937, Sociedade Brasileira de Cardiologia em 1943, Sociedade Brasileira de Patologia Clínica em 1944, Colégio Brasileiro de Radiologia em 1948, Federação Brasileira de Gastroenterologia em 1949, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e Sociedade Brasileira de Hematologia, ambas em 1950.

Desde sua fundação a estrutura da EPM baseava-se em cátedras: o quadro 1A enumera as Cátedras então existentes (1951), de acordo com as áreas de atuação. Para efeito de comparação o quadro 1B elenca os Departamentos da UNIFESP em 2001.

 

Quadro 1A: Cátedras existentes na Escola Paulista de Medicina em 1951, de acordo com a área de atuação

Área Básica

Área Clínica

Área Cirúrgica

Anatomia

Clínica Propedêutica Médica

Clínica Propedêutica Cirúrgica

Histologia e Embriologia

1a Clínica Médica

Técnica Operatória e Cirurgia Experimental

Física Biológica

2a Clínica Médica

Clínica Cirúrgica

Química Fisiológica

Terapêutica Clínica

Clínica Ginecológica

Fisiologia

Tisiologia

Clínica Obstétrica

Microbiologia

Gastroenterologia Clínica

Clínica Oftalmológica

Parasitologia

Endocrinologia e Nutrição

Clínica Ortopédica e Cirurgia Infantil

Patologia geral

Clínica Dermatológica e Sifiligrafia

Clínica Otorrinolaringológica

Farmacologia

Medicina Legal

Cirurgia Plástica

Anatomia e Fisiologia Patológicas

Higiene

Clínica Urológica

 

Clínica Pediátrica

 
 

Clínica Neurológica

 
 

Clínica Psiquiátrica

 

 

Quadro 1B: Departamentos existentes na UNIFESP em 2001, de acordo com a área de atuação

Área Básica

Área Complementar

Área Clínica

Área Cirúrgica

Biofísica

Patologia

Medicina

Cirurgia

Bioquímica

Diagnóstico por Imagem

Dermatologia

Oftalmologia

Farmacologia

Medicina Preventiva

Pediatria

Ortopedia e Traumatologia

Fisiologia

Psicobiologia

Psiquiatria

Otorrinolaringologia

Micro/Imuno/Parasitologia

Informática em Saúde

 

Ginecologia

Morfologia

   

Obstetrícia

   

Neurologia e Neurocirurgia

   

Enfermagem

 

Tendo sido a "Proposta-Consulta" aprovada pelo Ministério da Educação, a Congregação da Escola Paulista de Medicina aprovou, em sua 64a Reunião a 23 de outubro de 1950, o anteprojeto para a criação de Departamentos na EPM: "Além de Cadeiras isoladas e disciplinas autônomas poderá o ensino ser ministrado em Departamentos nos quais serão englobadas duas ou mais Cadeiras e disciplinas afins ou complementares". O anteprojeto já previa em um de seus artigos a criação do Departamento de Clínica Médica: "Fica desde já criado o Departamento de Clínica Médica, autorizado a funcionar pelo parecer número 355 da Comissão de Ensino Superior. O Departamento de Clínica Médica, compreendendo o ensino e a investigação será inicialmente composto: a) da Cadeira de Propedêutica Médica e da segunda Cadeira de Clínica Médica; b) das seguintes disciplinas: Cardiologia, Gastroenterologia, Endocrinologia, Nutrologia, Doenças pulmonares não tuberculosas, Hematologia e Afecções renais médicas; c) dos Serviços de Laboratório Clínico e Radiodiagnóstico".

A criação do Departamento preservava Cátedras existentes (quadro 1A) e assim durante certo tempo conviveram, em período de transição, a Cátedra de Doenças do Aparelho Digestivo (Felipe Figliolini) e a Secção de Gastroenterologia do Departamento de Clínica Médica (Wladimir Gomes Ferraz); a Cátedra de Endocrinologia e Nutrição (José Ignácio Lobo) e a Secção de Endocrinologia do Departamento de Clínica Médica (Luciano Décourt). A atual Disciplina de Pneumologia foi neste primeiro momento denominada de Secção de Moléstias Pulmonares não Tuberculosas, pois coexistiu com a Cátedra de Tisiologia (Décio Queiroz Telles).

O citado parecer 355 autorizando o funcionamento do Departamento vem transcrito na íntegra (respeitada a grafia original), por resumir visão externa sobre a proposta e sobre o ensino de clínica médica.

O parecer destaca que a formação do Departamento não significava a criação de um simples consórcio de interesses de alguns catedráticos (com a manutenção de autonomia individual) mas sim a introdução do conceito de departamento como local onde se trabalha em conjunto para fins comuns de ensino e pesquisa. Criavam-se a um tempo as bases para o desenvolvimento das disciplinas/especialidades e a integração de esforços para o ensino de medicina. O novo Departamento incorporou duas cadeiras (Propedêutica Médica e 2a Clínica Médica) e passou a contar com 6 Disciplinas e 2 Serviços (quadro 2). Não foi incorporada, como inicialmente proposto, a cátedra de Octávio de Carvalho (1a Clínica Médica). Finalmente, em sua 65a Reunião (26 de dezembro de 1950), a Congregação é informada que fora aprovado pelo Conselho Nacional de Educação o regulamento para o funcionamento do Departamento de Clínica Médica (parecer 434).

 

Comissão de Ensino Superior e Legislação

Parecer número 355

Determinou o Exmo. Sr. Ministro que o Conselho Nacional de Educação opinasse sôbre a proposta da Congregação da Escola Paulista de Medicina para a criação, no referido estabelecimento, de um Departamento de Clínica Médica.

O Departamento que se pretende criar constituir-se-á das cadeiras de Propedêutica Médica e de Clínica Médica, devendo ser chefiado por um único professor catedrático e incluir vários professores adjuntos, assistentes e instrutores.

Dêsse Departamento farão parte, como ramos especializados da Clínica Médica, a Cardiologia, a Endocrinologia, a Hematologia, a Gastro-enterologia e Nutrologia, além de serviços de pesquizas clínicas e de Roentgodiagnóstico.

A organização proposta obedece, em linhas gerais, a que foi adotada nas Universidades do Brasil, Bahia e Recife.

A proposta, ora em exame, apresenta como inovação merecedora de destaque o fato de ser o conjunto didático destinado ao ensino da Clínica Médica orientado por um professor titular, auxiliado por vários professores adjuntos especializados, ocupando-se cada um da parte que lhe fôr atribuída nos programas.

A nova organização terá assim um sentido mais pedagógico que o estabelecido no regime ora em vigor nas referidas Universidades.

Com efeito, a estruturação delineada para o Departamento a ser criado oferece as seguintes vantagens:

Uniformidade na Orientação geral do curso disto resultando maior eficiência no ensino que será distribuído racionalmente nos três últimos anos do curso médico.

Ensino de Clínica Médica nas suas várias partes ministradas por professores especializados, obedecendo a programas previamente traçados, de modo a estabelecer-se perfeita conexão entre os assuntos a serem tratados em determinado período letivo.

Evitar-se com essa prática que os alunos deixem a Faculdade sem conhecimento indispensável ao exercício da clínica médica, no que diz respeito a Cardiologia, a Endocrinologia, a Gastro-enterologia, a Nutrologia, etc.

Permitir que os alunos se familiarisem com as pesquizas de laboratórios e os exames Roentgológicos, e assim possam adquirir uma consciência mais perfeita dos valiosos subsídios que os mesmos prestam ao clínico para o justo diagnóstico.

Além disso, esse contacto com o laboratório estimula o espírito dos alunos para a pesquiza científica, que tanto relevo empresta aos estudos médicos e concorrem para o progresso da ciência.

No campo profissional propriamente dito, a organização proposta subordina-se ao conceito de que o estudo da disciplina de que ela é objeto exige mais uniformidade de ação por parte dos mestres e maior coordenação e aproveitamento dos elementos de que os mesmos dispõem na fase atual dos conhecimentos científicos.

 

Quadro 2. Disciplinas e Setores do Departamento de Medicina em três momentos de sua história: criação (1951), reformulação (1967) e cinquentenário (2001)

1951

1967

2001

Cardiologia

Cardiologia

Cardiologia

Endocrinologia

Endocrinologia

Endocrinologia

Gastroenterologia

Gastroenterologia

Gastroenterologia

Moléstias Pulmonares

Pneumologia

Pneumologia

Propedêutica Médica

Propedêutica Médica

Clínica Médica (1993)

Hematologia

Hematologia

Hematologia e Hemoterapia (1983)

 

Doenças Infecciosas e Parasitárias

Doenças Infecciosas e Parasitárias

 

Nefrologia

Nefrologia

   

Reumatologia (1977)

   

Medicina de Urgência (1995)

   

Geriatria (1999)

Serviço de Laboratório

Patologia Clínica

Setor de Patologia Clínica

   

Setor de Oncologia Clínica (1996)

Serviço de Radiologia e Radioterapia

Radiologia Clínica

Setor de Radioterapia

   

Radiologia: Departamento em 1985

 

Dermatologia

Transformada em Departamento (1989)

 

Medicina Legal

Incorporada ao Departamento de Patologia (1988)

 

A inauguração oficial do Departamento deu-se a 9 de junho de 1951, ano do 18o aniversário de fundação da EPM, que atingia assim sua maioridade. A Congregação havia eleito Jairo Ramos para a direção do Departamento. Por entendimento havido entre Jairo Ramos e Octávio de Carvalho a Cadeira de primeira Clínica Médica passaria a funcionar na sexta série, ficando assim o Departamento responsável pelo ensino nas quartas e quintas séries.

O exemplo de criação do Departamento de Clínica Médica logo frutificou. Em sua 73a Reunião, realizada a 1 de dezembro de 1952, a Congregação examina proposta, subscrita pelos catedráticos Alípio Corrêa Netto, José Maria de Freitas e Antonio Bernardes de Oliveira, de criação de novo departamento. Após exposição da proposta e discussões é aprovada a criação do "Departamento de Clínica Cirúrgica e não de Cirurgia". Em 1953 o Departamento de Clínica Cirúrgica agrupava as Disciplinas: Cirurgia Vascular, Cirurgia Torácica, Urologia, Anestesiologia, Gastroenterologia Cirúrgica, Cirurgia Plástica, Técnica Operatória e Cirurgia Experimental, Toco-Ginecologia, Neurocirurgia, Otorrinolaringologia, Oftalmologia e Ortopedia. Em 1965 o Departamento, a exemplo do que ocorria com o Departamento de Clínica Médica, passa a denominar-se Departamento de Cirurgia. A composição inicial do Departamento foi-se modificando ao longo de 4 décadas e as Disciplinas de Toco-Ginecologia; Neurocirurgia (juntamente com a Neurologia), Otorrinolaringologia, Oftalmologia e Ortopedia transformaram-se em Departamentos. Em 2001 o Departamento de Cirurgia é composto das seguintes Disciplinas: Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva Cirúrgica; Cirurgia Cardiovascular; Cirurgia Pediátrica; Cirurgia Plástica; Cirurgia Torácica; Cirurgia Vascular; Gastroenterologia Cirúrgica; Técnica Operatória e Cirurgia Experimental; Urologia.

O Departamento de Bioquímica e Farmacologia (DBF), formalmente constituído em 1965, há anos atuava informalmente e desde 1956 ocupava prédio próprio (o atual Edifício José Leal Prado). Nascera o DBF da decisão dos professores de Farmacologia (José Ribeiro do Valle) e de Bioquímica (José Leal Prado) de trabalharem juntos na organização de um único local para pesquisa e ensino destas disciplinas.

 

Consolidação do Departamento (1952-1965)

No período de 1952 a 1954 Jairo Ramos foi Diretor da EPM. Com um ano de existência o Departamento passa por momento de turbulência. Em sua 73a Reunião (1 de dezembro de 1952) a Congregação examina correspondência encaminhada por Octávio de Carvalho ao Diretor da EPM (neste momento Jairo Ramos) na qual faz críticas à atuação do Departamento de Clínica Médica, que estaria tirando autonomia de sua Cadeira de Clínica Médica e sendo ineficiente no ensino. Por ser tanto Diretor da EPM como chefe do Departamento, Jairo Ramos retira-se e a Congregação, presidida pelo Vice-Diretor (Flávio da Fonseca), após análise de relatório, que incluía a opinião dos alunos sobre o curso, e amplos e demorados debates considerou, por unanimidade, improcedente a denúncia de Octávio de Carvalho. Nesta época, residindo no Rio de Janeiro, Octávio de Carvalho era substituído oficialmente em suas ausências por Heribaldo do Carmo Loverso, mas na realidade, quem conduzia o curso da Cadeira de primeira Clínica Médica era Antonio José Gebara. Em 1961, por ter atingido a idade limite, Octávio de Carvalho foi aposentado e sua Cadeira incorporada ao Departamento de Clínica Médica. Antonio José Gebara veio a falecer em fevereiro de 1962.

Quatro anos após a implantação do Departamento Jairo Ramos preparou documento, fazendo balanço do realizado e projetando o futuro; o documento relata a estrutura, atuação e propostas do Departamento de Clínica Médica; curiosamente o documento traz título em inglês, Department of Internal Medicine, possivelmente preparado para a Fundação Rockefeller (que após a federalização concedeu auxílio importante ao Departamento). A introdução deste documento é parcialmente transcrita a seguir (respeitada a grafia original); o documento contém capítulos específicos para cada Secção incluindo organização, atividades didáticas, atividades clínicas e de investigação e trabalhos publicados. Além dos assistentes nomeados o documento informa que as secções contavam com outros assistentes, não identificados por Jairo Ramos. Assim sendo o Departamento contava, neste momento que antecede a federalização da EPM, com o total de 57 docentes: 1 catedrático, 7 chefes de secção, 14 assistentes com responsabilidades específicas (quadro 3) e 35 "outros assistentes". Em 1955 criou-se, no Departamento, o Serviço de Metabolismo e Nutrição (chefiado por Magid Iunes), que daria origem à Disciplina de Nefrologia.

 

Department of Internal Medicine

Prof Jairo Ramos

A Escola Paulista de Medicina, instituição particular de ensino médico, sediada em São Paulo e reconhecida pelo Governo Federal do país, propôs ao Departamento Nacional de Educação uma modificação do ensino de Clínica Médica, no sistema departamental, criado há quatro anos.

O Departamento de Clínica Médica é dirigido por um professor catedrático (Professor Jairo Ramos) e compreende as seguintes secções: Propedêutica Médica, Cardiologia, Gastroenterologia, Moléstias Pulmonares não Tuberculosas, Endocrinologia, Hematologia e Metabolismo e Nutrição, cada qual, provida de um corpo docente.

Tal procedimento, na organização do ensino, tem como objetivo torna-lo mais condensado, ao mesmo tempo que mais completo, dada a melhor seleção da matéria pelos especialistas-chefes das diversas secções. Nestas condições, além de melhorar o ensino das várias especialidades permite também pela limitação do tempo aplicado às atividades do ensino médico escolar, que cada equipe especialisada disponha de tempo suficiente para levar a cabo trabalhos de pesquisa clínica, cursos de especialisação, conferências, etc. dentro de um programa de aperfeiçoamento do tipo post-graduação.

Tal sistema, elástico na sua organisação, poderá ser ampliado com a creação de novas secções, desde que o Departamento disponha de melhor equipamento e material humano, não só para o ensino, como e, principalmente, para a pesquisa clínica.

O aperfeiçoamento do corpo docente do Departamento de Clínica Médica tem sido objeto de importante e contínua preocupação da direção da Escola; por esta razão já foram enviados vários dos seus membros aos centros mais adiantados do exterior, onde pudessem adquirir conhecimento e orientação experimentada para a melhoria do ensino e da pesquiza clínica.

 

Quadro 3. Estrutura do Departamento de Clínica Médica em 1955
Chefe do Departamento: Jairo Ramos

Secção

Chefe

Sub-secção/função

Assistentes

Clínica Propedêutica Médica

Sílvio dos Santos Carvalhal

   

Gastroenterologia

Wladimir da Prússia Gomes Ferraz

 

Hélio Pucci*

   

Chefe de Clínica

Moacyr Pádua Vilela

   

Chefe de Clínica

Thomaz Imperatriz Pricoli

   

Endoscopia per-oral

Silvio Campos Lindemberg

       

Cardiologia

Horácio Kneese de Mello*

   
   

Chefe de Clínica

José Landulfo

   

Hemodinâmica

Silvio Borges*

   

Eletrocardiografia

Cantidio de Moura Campos Filho*

Metabolismo e Nutrição

Magid Iunes*

   
   

Estágio McGill University

Osvaldo Ramos*

   

Laboratório Central do HSP

Antoine Younes

Moléstias pulmonares

Italo Domingos Le Vocci*

 

Otavio R. Ratto*

Hematologia

Marcelo Pio da Silva

 

Renato Pasqualin

     

Luiz Gonzaga Murat*

Endocrinologia

José Ignácio Lobo

 

Luciano Decourt

     

Alvaro Marcondes da Silva

 

O auxílio que o Departamento recebeu da Fundação Rockefeller permitiu a instalação de laboratório de pesquisa e, fundamentalmente, propiciou estágios no exterior para jovens docentes e pagamento do "tempo integral geográfico" para docentes seniores. Neste regime de trabalho docentes mantinham consultório para atendimento de clientela particular no HSP. Bolsas, para estágios nos EUA, foram também concedidas pela Fundação Kellog e/ou pelo American College of Physicians. Estagiaram no exterior: Sílvio Borges (1948-1950) e Cantídio de Moura Campos Filho (1949-1952) no Instituto Nacional de Cardiologia do México, de onde trouxeram "elementos para desenvolverem a pesquisa clínica e experimental de hemodinâmica e eletrocardiografia, respectivamente"; Italo Domingos Le Vocci (1947-1948) também no Instituto Nacional de Cardiologia do México e Octávio Ribeiro Ratto (1954) no Departamento de Fisiologia da Universidade da Pennsylvania; Hélio Pucci nas universidades Cornell e Philadelphia e Sílvio Campos Lindemberg em Los Angeles com o endoscopista Schindler (1948-1949); Magid Iunes nas universidades de Minnesota, Michigan e Pittsburgh no período de 1952-1954; Oswaldo Luiz Ramos na Universidade McGill; Luiz Gonzaga Murat na Marquette University School of Medicine, estudando a coagulação com AJ Quick.

Criavam-se no Departamento núcleos de pesquisa clínica e bases para a estruturação dos programas de Residência Médica (iniciados em 1957) e de pós-graduação stricto sensu (credenciados na década de 1970).

O programa de Residência Médica desempenhou papel fundamental na formação dos docentes, no desenvolvimento e diferenciação do Departamento e na formação de especialistas; foi e tem sido, mais do que a graduação ou a pós-graduação stricto sensu, o elo de união do Departamento. Na década de 1960 a Residência Médica na EPM era composta basicamente de dois ciclos: o clínico e o cirúrgico, com 10 vagas anuais em cada um. A partir de 12 de novembro de 1970 a Comissão de Residência da EPM passa a registrar em atas suas atividades e decisões (Ata da 1a Reunião da Comissão de Residência da EPM). O quadro 4 lista os Programas de Residência coordenados pelo Departamento em 2001: são 13 dos atuais 36 programas oferecidos pela UNIFESP. O primeiro ano (R1) de todos os programas do Departamento é de rodízio por diferentes Disciplinas, enfermaria geral e pronto-socorro. A admissão (com pré-opção) é novo vestibular, dado que o processo seletivo é aberto a todos os médicos formados no país. Em 2001 foi, pela primeira vez, concedido o Prêmio Jairo Ramos a Residente, do Departamento, que se destaque ao final do R1. Concedido pelo Departamento o prêmio (R$ 9000,00 em 2001) é patrocinado pela família Jairo Ramos, com fundos provenientes de direitos autorais da venda do livro Atualização Terapêutica. Além dos programas de residência médica o Departamento em 2001 oferece 24 programas formais de Especialização (com 99 vagas anuais para médicos e 163 para outros profissionais).

 

Quadro 4: Programas de Residência Médica e de Pós-Graduação stricto sensu no Departamento de Medicina em 2001

Programa

Residência*

Pós-Graduação

Cardiologia

3 anos/4 vagas anuais

mestrado e doutorado

Clínica Médica

3 anos/3 vagas anuais

 

Doenças Infecciosas e Parasitárias

3 anos/3 vagas anuais

mestrado e doutorado

Endocrinologia e Metabologia

3 anos/4 vagas anuais

mestrado e doutorado

Gastroenterologia

4 anos/2 vagas anuais

mestrado e doutorado

Geriatria e Gerontologia

3 anos/2 vagas anuais

 

Hematologia-Hemoterapia

3 anos/3 vagas anuais

mestrado e doutorado

Medicina baseada em evidências

 

mestrado profissionalizante

Medicina Interna e Terapêutica

 

mestrado e doutorado

Nefrologia

3 anos/3 vagas anuais

mestrado e doutorado

Oncologia

3 anos/2 vagas anuais

 

Patologia Clínica

3 anos/2 vagas anuais

 

Pneumologia

3 anos/3 vagas anuais

mestrado e doutorado

Radioterapia

3 anos/2 vagas anuais

 

Reumatologia

3 anos/3 vagas anuais

mestrado e doutorado

 

Desde a criação do Departamento de Medicina até sua aposentadoria (31 de dezembro de 1965), Jairo Ramos foi a liderança do Departamento e a história das Disciplinas é contada dentro da história do Departamento. Em cada Disciplina atuavam especialistas de excelência na medicina brasileira. Neste período, apesar da nucleação de grupos de pesquisa e da formação de recursos humanos (gestação do futuro), a vocação do Departamento foi o ensino profissionalizante de excelência. As Disciplinas foram consolidadas em torno de seus programas de Residência. Mas os eventos mais importantes eram os coordenados pelo Departamento, e não os de iniciativa das Disciplinas. As principais atividades eram: as desenvolvidas nas enfermarias gerais (de homens e de mulheres) que culminavam com as visitas semanais de Jairo Ramos; os simpósios sobre temas médicos relevantes ou de assuntos de cultura geral (com frequência com a participação de convidados de fora da EPM) e a reunião clínica semanal das quintas feiras, com a discussão de casos clínicos.

Símbolo deste período da história do Departamento é o livro Atualização Terapêutica, cuja primeira edição foi lançada em 1957, editada por Felício Cintra do Prado (1900-1983, catedrático de Terapêutica Clínica), Jairo Ramos e José Ribeiro do Valle (1908-2000, catedrático de Farmacologia). A origem do livro foi apostila, idealizada por José Ribeiro do Valle e Felício Cintra do Prado, para curso de revisão e atualização terapêutica, patrocinado pela Associação Paulista de Medicina. Sua primeira edição recebeu auxílio financeiro do Conselho Nacional de Pesquisas, o que permitiu que seu preço de venda fosse consideravelmente reduzido. Com o falecimento de Jairo Ramos (1972) e de Felício Cintra do Prado (1983), a 13a edição (1985) é de responsabilidade de José Ribeiro do Valle e Oswaldo Luiz Ramos. A partir da 14a edição (1988) e até a 19a edição (1999), o livro é editado por Oswaldo Luiz Ramos (1928-1999), que conta com a colaboração de Hanna A. Rothschild. É talvez o livro médico de maior tradição no país. Vem, no dizer de Oswaldo Ramos, "socorrendo o médico brasileiro no angustiante desafio de decidir qual a terapêutica mais adequada para as principais síndromes médico-cirúrgicas, além de resumir as bases etiofisiopatogênicas e o quadro clínico destas síndromes". Em nome da homogeneidade de orientação todos os editores de secções e a maioria dos autores são Professores da EPM. Sua 20a edição (2001) é editada por Durval Rosa Borges e Hanna A. Rothschild. As 5 primeiras edições lançadas no mercado foram devidas à Editora Luso-Espanhola Brasileira Ltda; da 6a edição em diante ficaram as edições a cargo da Editora Artes Médicas Ltda, ambas de São Paulo.

 

Jairo Ramos (1900-1972)

Nascido em 24 de abril de 1900, Jairo Ramos formou-se médico pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo em 1924. Iniciou carreira docente como Assistente da 2a Medicina de Homens da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Assistente cardiologista da Clínica Obstétrica da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Livre Docente desta Faculdade, em fevereiro de 1933 participa de comissão que elaborou os estatutos de sociedade civil com a finalidade de criar nova escola médica na cidade de São Paulo: é um dos signatários do Manifesto de Fundação da EPM. Assume na EPM em 1936 a Cátedra de Clínica Propedêutica. Em 1951 cria o Departamento de Clínica Médica e o conduz até sua aposentadoria compulsória, em dezembro de 1965. Exerceu a Diretoria da EPM (cumulativamente com a diretoria do Hospital São Paulo) de abril de 1952 a junho de 1954.

Jairo Ramos presidiu a Associação Paulista de Medicina (APM) por dez anos, em eleições sucessivas; a primeira em 1945, a última em 1955. Durante suas gestões promoveu reforma estatutária que permitiu a reunião, na APM, das várias sociedades médicas existentes no Estado de São Paulo. Conseguiu a doação de terreno e o financiamento para construir o edifício de 15 andares que ainda hoje abriga a APM, na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio. Fundou a Revista Brasileira de Medicina, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (que presidiu) e foi um dos fundadores da Associação Médica Brasileira e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.

Em capítulo introdutório da 1a edição do livro Atualização Terapêutica registra: "Há quem diga que a terapêutica é que iguala os médicos. Frase maliciosa e não real. A terapêutica sintomática iguala todos os médicos; ao contrário, a terapêutica específica distingue o bom do mau médico. Distingue os médicos que preferem um prévio e seguro diagnóstico a uma terapêutica apressada e meramente sintomática". Paraninfo, assim expressou-se a uma turma de médicos recém-formados: "Aprendam a perdoar, saibam orientar, façam por ensinar, cuidem de construir, pratiquem sua arte com nobreza, labutem com o propósito de dignificar a sociedade, de proteger o homem comum, e de enobrecer a carreira que adotaram".

Em 1967 Jairo Ramos recebeu o título de Professor Emérito da Escola Paulista de Medicina. Faleceu em 1972.

 

Transição (1964-1966)

 

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

João Cabral de Melo Neto. Tecendo a manhã, in Educação pela pedra, 1966.

 

Quando a EPM foi federalizada (1956) e posteriormente transformada em estabelecimento isolado de ensino superior de natureza autárquica (setembro de 1964) estavam ainda em vigor os "Estatutos da Escola Paulista de Medicina" de 1940. Foi apenas em 1965 que a EPM teve, pronto e aprovado pela Congregação em sua reunião de 21 de janeiro de 1965 e, posteriormente, pelo Conselho Federal de Educação, seu primeiro Regimento. Regimento, e não Estatuto, por tratar-se, à época, de estabelecimento isolado de ensino superior, e não de universidade. Com a transformação da EPM em universidade, em 1994, a UNIFESP teve seu primeiro Estatuto, aprovado em 1995 pelo Ministério da Educação e do Desporto.

O Regimento de 1965 em seu capítulo V trata dos Departamentos. O artigo 46 define Departamento como sendo a "unidade na qual se entrosam as atividades de docentes e pesquisadores de matérias afins, para a execução e desenvolvimento de planos de ensino e de pesquisa". A Congregação usou no texto do Regimento, deliberadamente, o termo matéria e não disciplina, após discussão específica deste artigo 46. Apenas dez anos depois o Regimento de 1975 reconhece a existência de disciplinas: seu artigo 66 define Departamento como "unidade didático-científica, administrativa e de distribuição de pessoal, encarregada do ensino e da pesquisa em determinado ramo do saber, e compreenderá disciplinas afins". O artigo 47 do Regimento de 1965 reconhecia 12 Departamentos:

  1. Biofísica e Fisiologia
  2. Bioquímica e Farmacologia
  3. Cirurgia
  4. Medicina
  5. Medicina Preventiva
  6. Microbiologia e Parasitologia
  7. Morfologia
  8. Neurologia
  9. Patologia
  10. Pediatria
  11. Psiquiatria
  12. Tocoginecologia

A origem desta estrutura departamental, com os 12 departamentos incorporando as cátedras ainda existentes, vem de relatório preparado por comissão nomeada pela Congregação da EPM, em abril de 1964, e composta por Jairo Ramos, José Maria de Freitas e Otto Guilherme Bier. O relatório foi apreciado e aprovado na reunião de 6 de outubro de 1964 da Congregação. No item 5 deste relatório encontramos a informação que "são mantidos os Departamentos de Clínica Médica (Medicina) e de Clínica Cirúrgica (Cirurgia), com a atual estruturação". Pela primeira vez, em documento oficial, aparece o Departamento com sua denominação atual de Departamento de Medicina.

O artigo 48 deste Regimento de 1965 estabelece que cada Departamento será dirigido por um Conselho constituído:

  1. pelos professores catedráticos e associados
  2. por um ou dois representantes dos Assistentes
  3. por um representante dos Instrutores
  4. por um representante do corpo discente.

É fase de transição: as cátedras são reagrupadas em departamentos e estes passam a ser dirigidos por um Conselho. O Conselho tem como membros natos os professores catedráticos e os professores associados. Professores associados "serão escolhidos por concurso de títulos e trabalhos, no qual só poderão inscrever-se os portadores de título de docente livre" (artigo 79 do mesmo Regimento). Deixa de haver o poder individual do catedrático pois o "Departamento será chefiado por um professor catedrático ou associado, eleito pelo Conselho do Departamento com mandato de três anos" (artigo 49). Com a reestruturação cada Departamento pode contar com dois ou mais catedráticos. O Departamento de Clínica Médica, desde sua criação até este momento, havia sido individualmente chefiado por Jairo Ramos, seu único catedrático

A 10 de abril de 1965 o Departamento de Clínica Médica realiza a 1a Reunião de seu Conselho e inicia o registro, em atas, de suas decisões; até este momento as informações sobre o Departamento estão disponíveis nas atas do Conselho Técnico Administrativo e da Congregação. Apenas em setembro deste mesmo 1965 a direção da EPM solicita, formalmente, a constituição dos Conselhos de departamento, após a aprovação do Regimento da EPM pelo Conselho Federal de Educação. O Conselho do Departamento de Medicina ficou constituído por 11 membros:

Diretor: Jairo Ramos (professor catedrático);

Membros natos: como ainda não haviam sido realizados concursos para professores associados foi decidido que em seu lugar seriam membros natos os "livre docentes integrados no ensino do Departamento": Horácio Kneese de Mello, Sílvio dos Santos Carvalhal, Italo Domingos Le Voci, Octávio Ribeiro Ratto, Oswaldo Luiz Ramos e Moacyr de Pádua Vilela;

Representantes: foram eleitos dois representantes dos Assistentes (Marcello Pio da Silva e Mansur Gebara), um representante dos Instrutores de Ensino (Rogério de Freitas Guimarães) e solicitada indicação, ao Centro Acadêmico Pereira Barretto, de um aluno (Arnaldo José Ganc). Jairo Ramos presidiu o Conselho do Departamento até sua aposentadoria; em seus impedimentos, e de acordo com o Regimento, dirigia o Conselho o docente mais antigo (Horácio Kneese de Mello).

Neste momento de instalação de seu Conselho o Departamento era constituído por 8 Secções (quadro 5).

 

Quadro 5: Secções e respectivos chefes Departamento de Clínica Médica em 1965

Chefe do Departamento: Jairo Ramos

Secção

Chefe

Cardiologia

Horácio Kneese de Mello

Endocrinologia

Luciano Décourt

Gastroenterologia

Wladimir da Prússia Gomes Ferraz

Hematologia

Marcello Pio da Silva

Metabolismo e Nutrição

Magid Iunes

Patologia

Sílvio dos Santos Carvalhal

Propedêutica

Mansur Gebara

Pulmão

Italo Domingos Le Voci

 

Além das secções o Departamento contava com serviços auxiliares de Radioterapia (Camillo Segreto), Raio X (Feres Secaf e Antonio Clemente Filho) e Laboratório Central (Humberto Delboni Filho), e mantinha atividades no Serviço de Porta (embrião do futuro pronto socorro) coordenadas por Aluízio Corsi; o Internato era supervisionado por Octávio Ribeiro Ratto.

Nesta sua primeira reunião o Conselho criou 3 comissões (Científica, Didática e Administrativa) que durante o primeiro semestre de 1965 fizeram balanço circunstanciado das atividades do Departamento e sugeriram projetos a serem desenvolvidos.

O "Estatuto do Magistério Superior Federal" (Lei 4881-A) de 6 de dezembro de 1965 reduz a idade para a aposentadoria compulsória de 70 para 65 anos, em seu artigo 53: "O ocupante de cargo de magistério superior será aposentado compulsoriamente ao completar 65 anos de idade". O parágrafo único deste artigo 53 estabelecia, porém que "No caso de aposentadoria compulsória, a Congregação ou colegiado equivalente, atendendo ao mérito do professor, por 2/3 de seus membros, em votação secreta, poderá mantê-lo no exercício do cargo até os 70 anos de idade, ficando livre ao interessado aceitar ou não a prorrogação do exercício". Jairo Ramos foi compulsoriamente aposentado, por já ter completado 65 anos e a Diretoria da EPM à época ter optado por não submeter à Congregação a manutenção no cargo dos Catedráticos com 65 anos ou mais. Isto significou que dos fundadores da EPM foram aposentados, simultaneamente, todos os que em junho de 1933 tinham 33 ou mais anos de idade. À mesma época, e também por aposentadoria de seus catedráticos, ficam vagas as cátedras de Terapêutica Clínica (Felício Cintra do Prado), de Tisiologia (Décio Queiroz Telles) e de Doenças Infecciosas e Parasitárias. A cátedra de Terapêutica Clínica foi extinta e a de Tisiologia absorvida pela Disciplina de Pneumologia. A de Doenças Infecciosas e Parasitárias, que fora regida por Luís Pereira Barreto Neto, já estava praticamente ligada ao Departamento. Em sua reunião de 4 de janeiro de 1966, com a presença de Jairo Ramos, o Conselho do Departamento toma conhecimento de sua aposentadoria e escolhe, por unanimidade, para dirigi-lo Horácio Kneese de Mello.

Na reunião de março de 1966 Horácio Kneese de Mello informa ao Conselho do Departamento que, "de acordo com o artigo 22 do Estatuto do Magistério Superior, as chefias de disciplinas em que poderão ser divididas as cadeiras deverão ser ocupadas, preferentemente, por docentes livres". Informou ainda que o docente que estiver chefiando disciplina será candidato "natural" ao cargo de professor titular ou associado. O Regimento da EPM em vigor à época ainda não fazia referência a chefia de disciplinas; na verdade não as reconhecia formalmente. Apenas 10 anos depois, no Regimento de 1975, Disciplina é definida (no parágrafo único do artigo 66) como "um ramo definido do conhecimento que, por conveniência do ensino e metodologia especial, tenha características bem determinadas". Mesmo este Regimento de 1975 não determina critérios para chefia de Disciplina. De todo modo a reestruturação do Departamento de Medicina foi aprovada pelo Conselho Departamental da EPM no mesmo mês de março de 1966. Nesta reestruturação o critério de chefia de Disciplina (preferencialmente docente livre) prevaleceu e algumas chefias foram mudadas. Nesta mesma reunião ficou decidido que seriam convidados a participar das reuniões do Conselho, mas sem direito a voto, os chefes das Disciplinas que não estivessem representadas por membros natos. A composição do Departamento passou a ser a referida no quadro 6.

 

Quadro 6: Disciplinas e respectivos chefes

Departamento de Medicina em 1966

Disciplina

Chefe

Cardiologia

Horácio Kneese de Mello

Clínica Médica Geral

Sílvio dos Santos Carvalhal

Endocrinologia

Luciano Décourt

Gastroenterologia

Moacyr Pádua Vilela

Hematologia

Marcello Pio da Silva

Laboratório Clínico

Humberto Delboni Filho

Metabolismo e Nutrição

Oswaldo Luiz Ramos

Propedêutica Médica

Italo Domingos Le Voci

Pulmonologia

Octávio Ribeiro Ratto

Radiologia Geral e Especial

Feres Secaf

Radioterapia e Medicina Nuclear

Camillo Segreto

 

Em sua reunião de abril de 1967 Horácio Kneese de Mello informa ao Conselho do Departamento que a Congregação aprovara a nova estruturação da EPM e os Departamentos passaram a incluir todas as antigas cátedras, como Disciplinas. Encerrava-se definitivamente o período de transição onde conviveram cátedras e departamentos. O Departamento de Medicina passa então a ser composto por 12 Disciplinas, com diferenças em relação à situação do ano anterior (quadro 6), como pode ser visto no quadro 7, pois incluiu a incorporação, como Disciplinas, em arranjo até certo ponto artificial, de duas Cátedras: Dermatologia e Medicina Legal. Em 1988 a Disciplina de Medicina Legal transfere-se para o Departamento de Patologia e em 1989 a Disciplina de Dermatologia transforma-se em Departamento.

 

Quadro 7: Disciplinas e respectivos chefes

Departamento de Medicina em 1967

Disciplina

Chefe

Cardiologia

Horácio Kneese de Mello

Dermatologia

Abrão Rotberg

Endocrinologia

Luciano V. Décourt

Gastroenterologia

Moacyr Pádua Vilela

Hematologia

Marcello Pio da Silva

Medicina Legal

Armando Canger Rodrigues

Doenças Infecciosas e Parasitárias

Jair Xavier Guimarães

Nefrologia

Oswaldo Luiz Ramos

Patologia Clínica

Sílvio dos Santos Carvalhal

Pneumologia

Octávio Ribeiro Ratto

Propedêutica Médica

Italo Domingos Le Voci

Radiologia Clínica

Feres Secaf

 

A mudança de nome do Departamento (1964-1967)

Durante o processo de estruturação departamental da EPM o Departamento de Clínica Médica mudou de nome e passa a denominar-se Departamento de Medicina. São bons os motivos que justificam a mudança de nome e é bem definida a época em que a mudança ocorreu. Não está documentado de quem foi a iniciativa, se é que foi iniciativa individual. Ou se, vencidas resistências, o passar do tempo permitisse a mudança de nome. O que significa um nome? Para Shakespeare (What's in a name? that which we call a rose/By any other name would smell as sweet) menos do que para Drummond (O nome é bem mais do que nome: o além-da-coisa/coisa livre de coisa, circulando).

A mudança de nome do Departamento, assumindo nomenclatura usual nas universidades norte-americanas, reflete a influência que, após o final da II Grande Guerra, os EUA passaram a exercer na medicina brasileira. Quando da elaboração da "Proposta-Consulta ao Ministério da Educação sobre a criação do Departamento de Clínica Médica", em 1949, Jairo Ramos assim redige o item 9o do documento: "a organização do Departamento nos moldes aqui delineados é a base fundamental do ensino médico norte-americano (cf Medical Education in the United States, 1939, American Medical Association); é a que melhor permite associar a pesquisa ao ensino da Clínica cujas vantagens foram tão bem expostas por Flexner no seu magnífico livro sobre o Ensino e a Educação Médica".

Pode ter reforçado esta influência o auxílio que o Departamento recebeu da Fundação Rockefeller, que permitiu que vários responsáveis pelas especialidades estagiassem no exterior, quase todos nos EUA (quadro 3). Quando Diretor da EPM Jairo Ramos apresentou, à Congregação, relatório "dos problemas fundamentais da Escola". Inicia este relatório afirmando que "para compreendermos a gravidade de nossos problemas precisamos nos valer de nossa experiência, bem como, da experiência alheia". A experiência alheia Jairo Ramos foi buscar em documentos da American Medical Association. Oswaldo Ramos, que teve sua formação pós-graduada de 3 anos, em dois períodos, no Canadá e nos EUA, em 1964 publica trabalho resultante de sua tese de livre-docência. Neste trabalho (Gastroenterology 1964; 47: 241-247) a filiação dos autores vem especificada como sendo The Laboratory of Metabolism and Nutrition, Department of Medicine, Escola Paulista de Medicina.

A mudança de nome do Departamento serviu também para diferenciá-lo da situação anterior (comum nas demais escolas médicas do país) onde existiam mais de uma cátedra de Clínica Médica e, principalmente, para marcar a importância crescente que as Disciplinas (especialidades) adquiriam. Historicamente a ciência de tratar e a arte de curar desenvolveram-se em duas grandes vertentes: medicina e cirurgia. Reflexo desta situação é o nome de Escola Anatômico-Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro, quando fundada em 1808. Com o progresso da medicina novas áreas foram-se individualizando, de uma ou outra destas duas vertentes-tronco.

Os atuais Departamentos de Medicina das melhores universidades norte-americanas possuem em média 14 Disciplinas (Divisions), das quais 12 são comuns a praticamente todos e podem ser chamadas de nucleares. Disciplinas complementares de modo geral refletem a existência de grupos de pesquisa e/ou interesse acadêmico específico de cada universidade. As disciplinas nucleares são: cardiologia, doenças infecciosas, endocrinologia, gastroenterologia/hepatologia, geriatria, hematologia, medicina de urgência, medicina interna geral, nefrologia/hipertensão, oncologia, pneumologia/cuidados intensivos e reumatologia. São complementares, entre outras: alergia e imunologia clínica, dermatologia, epidemiologia clínica, farmacologia clínica, genética médica, medicina experimental, medicina laboratorial, medicina molecular, medicina ocupacional e ambiental, neurologia, reabilitação.

 

Individualização e desenvolvimento das Disciplinas (1970-1996)

Em janeiro de 1970 foram abertas vagas para Professor Titular das Disciplinas de Gastroenterologia, Nefrologia e Hematologia, sendo aprovados Moacyr de Pádua Vilela, Oswaldo Luiz Ramos e Marcello Pio da Silva, respectivamente. Inovadoramente, no final da década de 1970, o Departamento de Medicina criou a possibilidade da existência de mais de um Professor Titular por Disciplina, desde que houvesse docente com mérito para o cargo. Foi o fim de fato das cátedras, pois deixava de haver um Titular por Disciplina. No período 1970-1974 a EPM voltou a ter como Diretor um dos docentes do Departamento de Medicina (Horácio Kneese de Mello, Disciplina de Cardiologia).

Em 1971, após reforma curricular, o Internato no curso de medicina passa a ser desenvolvido em 2 anos, e não mais em apenas 1 ano (6a série). Isto permitiu que as Disciplinas do Departamento passassem a receber turmas de 6 a 8 alunos, na 5a série, para atividades práticas. Até esta época a contribuição das Disciplinas ao curso de medicina limitava-se a aulas teóricas ou teórico-práticas, em grade horária semelhante a uma colcha de retalhos.

No início da década de 1970 foram credenciados os primeiros programas de pós-graduação stricto sensu no Departamento. Oswaldo Ramos participa pela primeira vez como membro da Comissão de Pós-Graduação (representando o Programa de Nefrologia) na reunião de 23 de novembro de 1972. Em 2001 são 10 os programas em atividade (ver quadro 4), que já titularam sete centenas de mestres e mais de quatro centenas de doutores. Os programas de residência e de pós-graduação, os pós-doutorados no exterior e a consolidação de grupos de pesquisa, associados ao enorme progresso dos recursos diagnósticos e terapêuticos das especialidades, fizeram com que as Disciplinas evoluíssem, adquirindo várias delas dimensão departamental e grande autonomia. Esta autonomia foi diretamente relacionada à capacidade das Disciplinas (e de seus grupos de pesquisa) em gerar recursos das agencias financiadoras e da indústria farmacêutica. No final da década de 1980 o Departamento liderou na EPM a volta do concurso à Livre-docência, título que passou a ser requisito para inscrição em concurso de Professor Titular. A lista de pontos dos concursos para 2001 (ver na secção das Disciplinas) exemplifica a abrangência e as prioridades das Disciplinas.

Jair Xavier Guimarães (Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias) foi Diretor da EPM no período 1978-1983.

No período de 1966 até 1996, ano de sua aposentadoria, Oswaldo Ramos liderou a transformação do Departamento, com o crescimento, individualização e consequente autonomia das Disciplinas. Esta liderança nem sempre foi reconhecida, em departamento com a dimensão do Departamento de Medicina, por docentes que não frequentando os colegiados centrais da EPM/UNIFESP não puderam presenciar a grande influência que exercia sobre seus pares. Neste período transformaram-se em Departamentos as Disciplinas de Radiologia e de Dermatologia. A história do Departamento de Medicina passou a ser o conjunto das histórias das suas Disciplinas. Em cada Disciplina a 3a geração de professores do Departamento está representada por docentes com perfil semelhante: médicos, completaram programas de Residência Médica e de Pós-graduação stricto sensu, tiveram experiência no exterior em centros de excelência e obtiveram o título de livre-docente. Os programas de pós-graduação do Departamento são exemplos no país e centros geradores de docentes para universidades de todos os estados brasileiros. Símbolo e coroamento deste período da história do Departamento foi a implantação do Centro de Pesquisas Clínicas e Cirúrgicas "Oswaldo Ramos" (CPCC), que ocupa 13 dos 16 andares do Edifício Acadêmico Horácio Kneese de Mello.

No período de 3 décadas compreendido entre as aposentadorias de Jairo Ramos (1965) e a de Oswaldo Ramos (1996) chefiaram o Departamento de Medicina: Horácio Kneese de Mello (1966-1970), Oswaldo Luiz Ramos (1970-1973), Octávio Ribeiro Ratto (1973-1976), Moacyr Pádua Vilela (1976-1979), Octávio Ribeiro Ratto (1979-1981), José Kerbauy (1981-1984), Horácio Ajzen (1984-1987), Duílio Ramos Sustovich (1987-1990) e Oswaldo Luiz Ramos (1990-1996).

 

Oswaldo Ramos (1928-1999)

Quando Jairo Ramos, aos 33 anos de idade assinou a 1 de junho de 1933 o manifesto de fundação da Escola Paulista de Medicina (EPM), seu primogênito, Oswaldo Luiz Ramos, nascido a 17 de maio de 1928, completara 5 anos de idade. Ao aposentar-se em 1996, em mensagem dirigida ao Departamento de Medicina, Oswaldo Ramos registrou sua "feliz vivência de 45 anos como docente da EPM".

Oswaldo Ramos diplomou-se médico pela EPM em 1951 (no mesmo ano de criação do Departamento de Medicina). Obteve o título de Master of Science in Experimental Medicine pela Universidade Mc-Gill, Canadá (1955) e, a seguir, foi Research Fellow da Columbia University de 1958 a 1959. Neste período estudou experimentalmente a função hepática em cães e publicou dois trabalhos (Journal of Clinical Investigation 1960; 39: 161-170 e 1960; 39: 1570-1577) que receberam mais de 300 citações na literatura mundial. Obteve na EPM em 1961 o título de Livre Docente em Clínica Médica. O trabalho resultante de sua tese (Portal hemodynamics and liver cell function in hepatic schistosomiasis. Gastroenterology 1964; 47: 241-247) colocou a Hepatologia brasileira no mapa mundi e recebeu mais de 50 citações na literatura internacional. A partir deste ponto dedicou-se à Nefrologia.

Membro ativo, desde 1957 da Secção de Metabolismo e Nutrição, em 1967 era chefe da Disciplina de Nefrologia (sucessora da Secção). Presidiu a Sociedade Brasileira de Nefrologia (fundada em 1960) no biênio 1968-1970. Em 1970 chegou a Professor Titular da Disciplina de Nefrologia; foi o primeiro Professor Titular do Departamento, que até este momento tivera apenas um Catedrático (Jairo Ramos). Chefiou o Departamento de Medicina nos períodos de 1970-1973 e 1990-1996. Foram fundamentais sua contribuição, para a criação e desenvolvimento da Disciplina de Nefrologia, e sua liderança, na condução do Departamento de Medicina. Participou da publicação de mais de uma centena de trabalhos em periódicos de circulação internacional das áreas de Nefrologia e de Hipertensão e foi responsável direto pela orientação de vários dos atuais docentes da Disciplina de Nefrologia da UNIFESP.

Oswaldo Ramos teve atuação importante como educador e como formulador de políticas educacionais: na EPM/UNIFESP foi presidente da Comissão de Pós-graduação, na CAPES coordenou a área de Medicina e foi membro de seu Conselho Técnico e Científico; no Ministério da Educação presidiu Comissão de Especialistas responsável pela primeira avaliação dos cursos de medicina do país. Símbolo de sua liderança na UNIFESP é o "Centro de Pesquisas Clínicas e Cirúrgicas". Por iniciativa do Departamento de Medicina, o Conselho Universitário da UNIFESP aprovou ideia de transformar edifício de 6 andares, adquirido para abrigar a administração da universidade, em edifício destinado a laboratórios de pesquisa básica de Disciplinas das áreas clínicas e cirúrgicas. Com recursos da Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (mantenedora do Hospital São Paulo) e da FAPESP, decidido apoio do Reitor (Hélio Egydio Nogueira) e sob a liderança de Oswaldo Ramos (já formalmente aposentado), o edifício foi aumentado até 16 andares, com área total construída de 5500 m2. Treze andares foram destinados a laboratórios de grupos de pesquisa, consolidados e emergentes. Inaugurado em novembro de 1997 o "Centro de Pesquisas Clínicas e Cirúrgicas" teve seus laboratórios ocupados por grupos com comprovada produtividade científica, após avaliação por comissão ad hoc de pesquisadores externos à Universidade.

Em meados de 1983 os membros da Disciplina de Nefrologia da EPM fundaram Instituto que, transformado em Fundação, recebeu o nome de Fundação Oswaldo Ramos. É órgão suplementar da UNIFESP e inaugurou, em setembro 1998, o Hospital do Rim e Hipertensão.

Ao receber, em 1994, Oswaldo Ramos como Membro Titular da Academia Brasileira de Medicina, Clementino Fraga Filho resumiu: naquele momento a Academia acolhia "um expoente da profissão médica no Brasil".

 

A terceira geração: da beira do leito à medicina molecular

 

Geralmente os fatos importantes de nossa vida
são triviais quando ocorrem.
Tornam-se importantes depois.

Jorge Luis Borges

 

Na correspondência encaminhada em 1952 à Congregação, na qual fazia críticas à atuação do recém-criado Departamento de Clínica Médica, Octavio de Carvalho afirmava que aos alunos "ensinam-lhes filigranas de electrocardiografia e cateterismo cardíaco, quando não sabem manejar a digitalis à cabeceira do doente". Mesmo quem, no dizer de Lemos Torres, tivera a "ideia desencadeante da fundação da EPM", perdia o passo com os avanços da ciência biomédica e com as necessidades da prática médica. Em 1953 era proposta de estrutura do DNA (Watson JD, Crick FHC. A structure for deoxyribose necleic acid. Nature 1953; 171: 737). Em 2001 é publicada a sequência do genoma humano (Nature 2001; 409: 860-921 e Science 2001; 291: 1304-1351).

Durante a gestão de Manuel Lopes dos Santos (Disciplina de Pneumologia) como Diretor da EPM esta, em dezembro de 1994, transformou-se em UNIFESP; após período como Reitor pro-tempore (até junho de 1995) Manuel Lopes dos Santos foi sucedido pelo primeiro Reitor, Hélio Egydio Nogueira. Das quatro Pró-Reitorias então criadas (Graduação, Pós-Graduação, Extensão e Administração) duas foram inicialmente ocupadas e estruturadas por professores do Departamento de Medicina: Graduação (Durval Rosa Borges) e Extensão (Manuel Lopes dos Santos). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de dezembro de 1995, que ampliou a autonomia universitária e criou a possibilidade de existência de universidade especializada, distingue universidade de centro universitário. Característica fundamental de universidade é sua capacidade de gerar novos conhecimentos: sem pesquisa não há universidade. Novas fronteiras de pesquisa (na biologia molecular, na biologia celular, na microbiologia, na bioquímica, na imunologia, na genética molecular, na bioinformática) assim como o desenvolvimento de sofisticadas técnicas diagnósticas e poderosas armas terapêuticas ampliaram o horizonte das especialidades clínicas. O modelo acadêmico tornou-se mais complexo.

 

Ensino

O Departamento de Medicina é responsável pelo ensino na área de clínica médica, que se desenvolve em dois ciclos que alternam análise e síntese. Os 110 alunos, divididos em turmas de 15/16 alunos (3a e 4a séries) ou 7/8 alunos no Internato (5a e 6a séries) passam pelas diferentes Disciplinas (análise) assim como por ambulatórios, enfermarias gerais e pronto-socorro (síntese). Os dois ciclos desenvolvem-se não apenas no ambiente do Hospital São Paulo (ambulatórios e enfermarias) mas também no Posto de Saúde da Vila Mariana (estadual) e no Hospital Municipal da Vila Maria. Nestes dois últimos locais os alunos atuam sem a presença de Residentes. O ensino de medicina teve, até certo ponto, "alta hospitalar", com o aluno atuando preferencialmente em unidades de ambulatório, com programa multidisciplinar.

Na 3a e 4a séries do curso de medicina o Departamento é responsável pelo ensino da semiologia (16 semanas) e participa de forma integrada do desenvolvimento dos seguintes módulos (5 semanas em cada módulo): sistema urinário, aparelho respiratório, aparelho digestório, aparelho cardio-circulatório, aparelho locomotor, sistema hematopoiético, oncologia, endocrinologia, saúde comunitária e clínica médica. Este ciclo caracteriza-se por atividades teóricas e práticas nas quais o aluno aprende a atender o paciente. A integração do Departamento com outros Departamentos no desenvolvimento destes módulos é resultado da reforma que foi implantada no ensino de graduação da UNIFESP e que no curso de Medicina recebeu o nome de Currículo Nuclear.

No Internato (que desde a década de 1970 tem duração de 2 anos na UNIFESP) o aluno, sob supervisão docente, atende pacientes nas enfermarias e ambulatórios das diferentes Disciplinas (análise) ou nas enfermarias gerais e pronto-socorro (síntese). A carga horária total de cada aluno no Departamento é de aproximadamente 2000 horas, não contabilizados os plantões. O Departamento, apesar de caracterizar-se pelo forte desenvolvimento e individualização das Disciplinas, tem claro que o paradigma na educação clínica mudou nas últimas décadas. No ano letivo de 2001 a reforma curricular do curso médico incluiu a integração, no Internato, de atividades conjuntas dos Departamentos de Medicina e de Cirurgia.

 

Pesquisa

Desde meados da década de 1990 os laboratórios de pesquisa das diferentes Disciplinas já não cabiam no espaço físico a eles destinado, nos ambientes do HSP e do Edifício Jairo Ramos, assim como em unidades externas a estes dois prédios (anexo 1). Estas unidades "externas" localizam-se em casas (próprias da UNIFESP, da SPDM ou alugadas) nas ruas próximas as quadras limitadas pelas ruas Botucatu, Pedro de Toledo, Napoleão de Barros e Borges Lagoa. A necessidade, portanto, de mais espaço dedicado exclusivamente à pesquisa fez com que, por iniciativa do Departamento de Medicina, o Conselho Universitário da UNIFESP aprovasse a ideia de transformar edifício de 6 andares adquirido, com verbas tanto da UNIFESP como da SPDM, para abrigar a administração da universidade, em edifício destinado a laboratórios de pesquisa de Disciplinas das áreas clínicas e cirúrgicas. As Disciplinas das áreas básicas já possuíam espaços dedicados à pesquisa nos edifícios José Leal Prado, Ciências Biomédicas, Lemos Torres, Leitão da Cunha e no INFAR. Com recursos da SPDM e da FAPESP, apoio decidido do Reitor (Hélio Egydio Nogueira) e sob a liderança de Oswaldo Ramos, o edifício foi aumentado para 16 andares, dos quais 10 foram destinados a laboratórios de grupos de pesquisa, consolidados e emergentes e 3 andares ocupados por áreas de uso comum (laboratório de cirurgia, equipamentos de uso comum, biotério de pequenos animais). Inaugurado em novembro de 1997 o Centro de Pesquisas Clinicas e Cirúrgicas terá seus laboratórios ocupados por grupos com produtividade científica. Esta produtividade se considerada insatisfatória fará com que o espaço seja relocado a outro grupo; nem disciplinas nem departamentos tem "escritura definitiva dos laboratórios". Grupos de pesquisa dos 12 departamentos da área profissional da UNIFESP apresentaram projetos que foram julgados por comissão ad hoc de pesquisadores externos. Das 26 unidades (2 unidades por andar) 4 são de uso comum; das demais 22 unidades, 14 (64%) foram concedidas, por mérito, a grupos do Departamento de Medicina, contemplando 9 de suas 11 Disciplinas. Para exemplificar os problemas abordados com o objetivo de "ligar a bancada ao leito" o anexo 2 lista as linhas de pesquisa de responsabilidade de grupos do Departamento de Medicina instalados no CPCC; a lista evidentemente não esgota as linhas de pesquisa desenvolvidas no Departamento de Medicina em outras unidades.

 

Assistência

A transformação das Disciplinas ocorreu não apenas no ensino e na pesquisa, mas também na assistência, com a criação de órgãos suplementares (institutos, centros de estudos, fundação). Os institutos, que inicialmente serviram para captação de recursos e gerenciamento financeiro, tendem a evoluir. O primeiro instituto foi criado em meados de 1983 quando os membros da Disciplina de Nefrologia da EPM fundaram o Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Nefrologia e Hipertensão, com a finalidade de expandir o atendimento nefrológico na área clínica e subsidiar pesquisas básica e clínica. O Instituto, transformado em Fundação (Fundação Oswaldo Ramos), é hoje órgão suplementar da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e inaugurou, em setembro 1998, hospital de 11 andares, que abriga grupos de excelência que desenvolvem pesquisa nas áreas de hemodinâmica glomerular, hipertensão arterial e transplante renal. O Hospital do Rim e Hipertensão em 2000 foi responsável, no mundo, pelo maior número de transplantes renais realizados por uma única instituição, fato registrado pela revista Lancet, em fevereiro de 2001.

 

Perspectivas

O crescimento do Departamento fez com que viva novamente, aos 50 anos de idade, período de transição: setores postulam transformar-se em Disciplina e Disciplinas pretendem tornar-se Departamento. O Departamento de Medicina vem discutindo o modelo a ser adotado na assistência hospitalar, basicamente no HSP. Avalia se deve prevalecer modelo acadêmico (as Disciplinas são responsáveis e autônomas pelo gerenciamento das enfermarias e ambulatórios) ou modelo pelo qual o HSP, gerenciado autonomamente, oferece ambiente para o desenvolvimento de atividades acadêmicas. O Departamento de Medicina vem discutindo a reformulação de seus programas de Residência, nos quais programa de 2 anos desenvolvido nas diferentes Disciplinas seria pré-requisito para ingresso nos programas específicos de cada Disciplina (formação de especialistas). Estariam assim sendo formados, de um lado, clínicos com capacitação abrangente e, de outro lado, novo especialista que surgirá da fusão de especialista clínico intervencionista com cirurgião minimamente invasivo. O clínico geral não será apenas um triador de doentes encaminhando-os ao especialista e este deferenciar-se-á por habilidades específicas e não apenas por conhecimento especializado. O Departamento de Medicina vem discutindo o concurso de livre docência; pode estar em transição de modelo centrado na especialidade médica para modelo realmente centrado em área de conhecimento, independente da formação graduada do candidato. Esta transição é coerente com a implantação, ocorrida há anos, da possibilidade de Doutorado nos programas do Departamento tanto em Medicina (com pré-requisito de residência médica) como em Ciências (aberto também a não-médicos).

O desafio do Departamento para o século 21 é o de integrar suas Disciplinas, sem tolher seu desenvolvimento. O Departamento deve aproveitar as vantagens de ser grande e evitar as desvantagens da colcha de retalhos. Deve ter criatividade e capacidade de modificar-se, o que pode incluir a flexibilização da estrutura das Disciplinas; para que estas não sejam camisa-de-força a limitar seu próprio progresso. Deve ser considerado que hoje o Departamento, além de suas Disciplinas, abriga Setores, Laboratórios e órgãos suplementares; com frequência com caráter multidisciplinar. O conjunto deve ser mais eficiente que a soma das partes.

No período 1951-2001 o Departamento de Medicina teve um Professor Catedrático e 26 Professores Titulares (quadro 8). No período iniciado em 1996 chefiaram o Departamento de Medicina Nestor Schor (1996-1999) e Durval Rosa Borges (1999-2002). O Conselho do Departamento é composto, em 2001, pelos professores titulares, chefes de Disciplinas e representantes (quadro 9).

 

Quadro 8: Professor Catedrático e Professores Titulares do Departamento de Medicina (1951 a 2001)

Professor Catedrático

Período

Jairo de Almeida Ramos

1936-1965

Professores Titulares

Nome

Disciplina

Período*

Oswaldo Luiz Ramos

Nefrologia

1970-1996

Moacyr Pádua Vilela

Gastroenterologia

1971-1992

Ítalo Domingos Le Voci

Propedêutica Médica

1976-1978

Horácio Kneese de Melo

Cardiologia

1976-1980

Marcello Pio da Silva

Hematologia

1976-1985

Jair Xavier Guimarães

Doenças Infecciosas e Parasitárias

1976-1986

Octavio Ribeiro Ratto

Pneumologia

1976-1986

José Elias Cury Kerbauy

Hematologia

1978

Fued Abdalla Saad

Patologia Clinica

1978-1990

Arary da Cruz Tiriba

Doenças Infecciosas e Parasitárias

1978-1995

Horácio Ajzen

Nefrologia

1978-1995

Duílio Ramos Sustovich

Propedêutica Médica

1978-1996

Antônio Roberto Chacra

Endocrinologia

1982

Edgar Atra

Reumatologia

1982-1995

Manuel Lopes dos Santos

Pneumologia

1986

Artur Beltrame Ribeiro

Nefrologia

1989

Eulógio Emílio Martinez Filho

Cardiologia

1989-2000

Durval Rosa Borges

Gastroenterologia

1992

Nestor Schor

Nefrologia

1992

Rui Monteiro de Barros Maciel

Endocrinologia

1992

Moysés Mincis

Gastroenterologia

1993-1997

Antônio Carlos Lopes

Clinica Médica

1996

Antônio Carlos C. Pignatari

Doenças Infecciosas e Parasitárias

1996

Antônio Carlos Camargo Carvalho

Cardiologia

1997

Emolia Inoue Sato

Reumatologia

1997

Maria Tereza Zanella

Endocrinologia

1997

*a primeira data refere-se ao ano da obtenção do título e a segunda é a data de aposentadoria, com exceção de Edgar Atra (falecimento) e Eulógio Emílio Martinez Filho (exoneração a pedido).

 

Quadro 9: Conselho do Departamento de Medicina (2001)

Chefe do Departamento

Durval Rosa Borges

Vice-chefe do Departamento

Antônio Carlos Camargo Carvalho

Disciplina

Titular

Chefe

Cardiologia

Antônio Carlos Camargo Carvalho

Angelo Amato Vicenzo de Paola

Clínica Médica

Antônio Carlos Lopes

Antonio Carlos Lopes

Doenças Infecciosas e Parasitárias

Antônio Carlos Campos Pignatari

Reinaldo Salomão

Endocrinologia

Antônio Roberto Chacra

Maria Teresa Zanella

Rui Monteiro de Barros Maciel

Antônio Roberto Chacra

Gastroenterologia

Durval Rosa Borges

Sender Jankiel Miszputen

Geriatria

 

Luiz Roberto Ramos

Hematologia

José Elias Curi Kerbauy

José Elias Curi Kerbauy

Medicina de Urgência

 

Álvaro Nagib Atallah

Nefrologia

Artur Beltrame Ribeiro

Nestor Schor

Sérgio Antônio Draibe

Pneumologia

Manuel Lopes dos Santos

Osvaldo Shigueomi Beppu

Reumatologia

Emolia Inoue Sato

Daniel Feldman Pollak

       

Representação

Representante

Professor Associado

Oscar Fernando Pavão dos Santos

Professor Doutor

Valter Correia de Lima

Ténico administrativo

Bráulio Luna Filho

Residente

Rodrigo Luppino Assad

Aluno de graduação

Victor Fiorini

Secretaria

Marina Santos Portugal

 

Em 2000 o Departamento de Medicina constituiu o Centro de Estudos Professor Jairo Ramos, órgão suplementar da UNIFESP.

Nesta terceira fase de sua história a missão do Departamento de Medicina é a de integrar o progresso da ciência biomédica ao desenvolvimento da Medicina.

 

Bibliografia

  1. Atas de Reuniões da Congregação da Escola Paulista de Medicina.
  2. Atas de Reuniões do Conselho do Departamento de Medicina.
  3. Escola Paulista de Medicina. São Paulo, Editora Ave Maria, 1951, 32 páginas.
  4. Escola Paulista de Medicina: 60 anos de História. São Paulo, Escola Paulista de Medicina, 1993, 274 páginas.
  5. Estatuto da Universidade Federal de São Paulo, 1995.
  6. Estatutos da Escola Paulista de Medicina, 1940.
  7. Jair Xavier Guimarães. Informações pessoais e auxílio na localização de fatos nas Atas da Congregação.
  8. Jair Xavier Guimarães. Jairo Ramos: centenário de nascimento. Suplemento Cultural da Associação Paulista de Medicina 2000; 104: 2-3.
  9. Jairo Ramos. Problemas fundamentais da Escola: Relatório apresentado à Congregação da Escola Paulista de Medicina, 1952, 21 páginas.
  10. Jairo Ramos. Escola Paulista de Medicina à Department of Internal Medicine, 1955, manuscrito.
  11. José Leal Prado. Departamento: sua conceituação e seu papel perante o ensino e a pesquisa. Ciência e Cultura 1973; 25: 311-315.
  12. José Ribeiro do Valle. A Escola Paulista de Medicina; dados comemorativos de seu 40o aniversário (1933-1973) e anotações recentes. São Paulo, Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1977, 391 páginas.
  13. Octavio de Carvalho. História da Escola Paulista de Medicina. Rio de Janeiro, Editora Borsoi, 1969, 48 páginas.
  14. Oswaldo Luiz Ramos. Departamento de Medicina. In Escola Paulista de Medicina: 60 anos de História. 1993: 94-99.
  15. Regimento da Escola Paulista de Medicina, 1965.
  16. Regimento da Escola Paulista de Medicina, 1975.

 

 

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