O combate à violência começa com a prevenção. A prevenção começa com a saúde mental
Sepse: O que é e por que ela precisa de um dia mundial?
Reconhecimento precoce e tratamento adequado salvam vidas
É somente por meio do reconhecimento do tamanho do problema que iremos mudá-lo.
O dia 13 de setembro foi instituído como o Dia Mundial da Sepse. A data é um lembrete e busca conscientizar a população sobre a síndrome que mata uma pessoa a cada segundo no mundo.
Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a sepse como um problema de saúde pública mundial, requerendo dos países membros o estabelecimento de políticas públicas voltadas para a prevenção, o diagnóstico e o tratamento. No Brasil, o Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS) tem promovido ações visando aumentar o reconhecimento sobre a doença.
O que é sepse?
Sepse, conhecida pelas pessoas como infecção generalizada, é na verdade uma resposta inadequada do nosso organismo contra uma infecção. Esta pode estar localizada em qualquer órgão e ser provocada por bactérias, fungos, protozoários ou vírus, caso atual das formas graves de Covid-19. A resposta inadequada do organismo contra a infecção leva ao mau funcionamento de um ou mais órgãos. É este mau funcionamento que pode causar a morte, principalmente se não for diagnosticada precocemente e tratada de forma rápida e adequada.
Crédito: Dia Mundial da Sepse
Qualquer tipo de infecção pode evoluir para sepse sendo as mais comuns a pneumonia, infecções na barriga e infecções urinárias. Muitos a relacionam com infecção hospitalar, mas grande parte dos casos acontece em pacientes com infecções adquiridas na comunidade. Ela pode afetar qualquer um, mesmo pessoas sadias, embora algumas sejam mais susceptíveis, como bebês prematuros; crianças abaixo de um ano; idosos; pacientes com câncer, Aids ou que fizeram uso de quimioterapia ou outros medicamentos que afetam as defesas do organismo, pacientes com doenças crônicas como insuficiência cardíaca, insuficiência renal, diabetes; usuários de álcool e drogas e pacientes hospitalizados que utilizam antibióticos, cateteres ou sondas.
Prevenção e redução da taxa de mortalidade por sepse
Medidas de prevenção são fundamentais. Do ponto de vista da sepse comunitária, são fundamentais a vacinação, melhora das condições de higiene e da atenção primária à saúde. Já em relação à sepse adquirida nos hospitais, as medidas para prevenção de infecção são muito importantes.
Todos os profissionais de saúde devem ser capazes de reconhecer os sintomas e sinais de gravidade, e providenciar as medidas iniciais de tratamento.
Ações visando seu diagnóstico precoce de forma a instituir rapidamente o tratamento são fundamentais. Assim, toda a população deve ter conhecimento dos sinais de alerta: aqueles que sugerem que uma infecção está se tornando grave e que é necessário buscar ajuda num serviço de saúde. Além dos sinais da própria infecção, como a tosse e catarro na pneumonia ou dor para urinar no caso da infecção de urina, a população deve estar atenta para os sinais de mau funcionamento dos órgãos, alterações da consciência como agitação, sonolência, confusão; falta de ar, fraqueza, queda da pressão, redução da quantidade de urina são alguns sinais de alerta.
Ao apresentar algum dos sinais de gravidade, você deve procurar imediatamente um serviço de saúde. Quando a sepse é reconhecida de maneira rápida e bem tratada as chances de sobreviver são muito melhores. A automedicação não é recomendada, pois pode mascarar os sinais, retardando o reconhecimento e início do tratamento adequado. (Crédito: CRAS/UFPB)
A sepse é hoje uma das principais causas de morte nos hospitais em todo o mundo, com estimativa de mais de 11 milhões de mortes todos os anos. No Brasil, estimam-se que aconteçam 400.000 casos entre adultos e 42.000 entre crianças por ano, dos quais 240 mil adultos e 8.000 crianças infelizmente falecem.
Embora a mortalidade por sepse seja alta em nosso país, muito pode ser feito para reduzir este problema. Se tratado rapidamente, o mau funcionamento dos órgãos pode ser revertido. O tratamento inicial da sepse não exige tecnologias avançadas ou medicamentos de alto custo. No hospital, devem ser coletados exames para verificar o funcionamento dos órgãos e para tentar identificar o organismo causador da infecção. É fundamental utilizar antibióticos o quanto antes e, em alguns casos, os pacientes precisam de oxigênio ou mesmo intubação e auxílio de um ventilador mecânico como vimos acontecer com a Covid-19. Alguns casos precisam receber soro e medicamentos para normalizar a pressão arterial.
O atendimento dos casos graves em UTI, onde temos além da estrutura uma equipe multiprofissional de intensivistas, permite dar o suporte necessário para que os órgãos recuperem sua função.
O problema não se restringe à internação hospitalar
Os pacientes com sepse ficam muito debilitados, principalmente aqueles que necessitam de internação em UTI. Muitos sobreviventes apresentam dificuldades para retomar suas atividades normais pois a sepse pode deixar sequelas como dificuldade motora, dificuldade para engolir, dificuldade de raciocínio e déficit de atenção, além de problemas psicológicos como depressão e ansiedade. Além disso, após a alta existe risco aumentado de novas infecções e descompensação de doenças crônicas, o que pode requerer uma nova internação hospitalar. Por isso, é muito importante que durante toda a internação o paciente seja atendido por uma equipe multidisciplinar, reduzindo os riscos de sequelas e já iniciando o processo de reabilitação precoce.
No momento da alta, é necessário fornecer informações e encaminhamentos adequados para promover a continuidade da reabilitação multiprofissional.
Crédito: BBC News Brasil
Informações adicionais podem ser encontradas nos sites: ilas.org.br e diamundialdasepse.com.br.
Por Flávia Ribeiro Machado
Professora adjunta livre docente e chefe do Setor de Terapia Intensiva da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo. Possui graduação em Medicina, residência em infectologia, mestrado em Infectologia e Medicina Tropical e doutorado em Doenças Infecciosas e Parasitárias. Sua área de atuação é a Medicina Intensiva, com ênfase em sepse, sendo atualmente coordenadora geral do Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS). Membro da Diretoria Executiva da Global Sepsis Alliance e do Conselho do International Sepsis Forum. Outras informações, clique aqui.
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