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Diabetes e Infecção pelo Coronavírus
Dia 27 de junho, dia internacional do diabético
Por Maria Teresa Zanella
Tem sido observado que pacientes portadores de diabetes infectados com o coronavírus tem maior risco de desenvolverem quadros graves e necessidade de cuidados mais intensivos. Estes pacientes são mais propensos a desenvolver quadros infecciosos, em particular, infecções respiratórias, e este fato tem sido atribuído a uma deficiência na resposta imunológica, necessária para que organismo possa se defender dos agentes infecciosos. Esta deficiência, por sua vez, tem sido atribuída à elevação do açúcar no sangue, que impede que o sistema imunológico responda adequadamente a um agente invasor.
A resposta imunológica, por si só, já é comprometida pelo avanço da idade e, assim, pacientes diabéticos idosos, são aqueles que apresentam maior probabilidade de complicações, principalmente se estiverem apresentando níveis elevados de açúcar no sangue. Crianças e adolescentes portadores de diabetes correm menor risco a não ser que apresentem outras complicações do diabetes. Acredita-se que o bom controle da doença constitui fator protetor contra as complicações decorrentes da infecção pelo coronavírus.
Impactos na população brasileira
De acordo com estudo realizado pela Federação Internacional de Diabetes no Brasil existem 16,8 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos com diabetes. O Brasil é o quinto colocado no ranking dos 10 países que mais têm pessoas com a doença.
Estima-se que 90% destes indivíduos no País sejam portadores do diabetes tipo 2, que aparece em geral após os 40 anos de idade e que tem a obesidade como seu principal determinante.
O mais preocupante, entretanto, é que 46% destes indivíduos afetados não sabem ser portadores de diabetes, o que aumenta a chance de se encontrarem com níveis de açúcar no sangue mais elevados (hiperglicemia) e a chance de infecções mais graves.
Diagnóstico tardio e implicações
A hiperglicemia, presente no decorrer de anos sem ser diagnosticada, aumenta a probabilidade das chamadas complicações crônicas do diabetes. As principais decorrem de alterações nas paredes das artérias que favorecem fenômenos obstrutivos prejudicando a irrigação e oxigenação de órgãos vitais como o coração, cérebro e rins, predispondo à quadros de infarto, derrame e insuficiência renal, condições que também se mostraram associadas ao pior prognóstico nas infecções pelo coronavírus. A ocorrência de hipertensão arterial, muito frequente em pacientes obesos e com diabetes tipo 2, é um fator agravante.
Além disso, o diabetes tipo 2 associa-se a outras condições que também decorrem do excesso de peso, como apneia do sono, e tem sido observado que a obesidade também se mostra como fator predisponente às complicações do coronavírus, independente da ocorrência de diabetes.
Estudos científicos
Em recente estudo desenvolvido na China onde foram incluídos 191 pacientes que necessitaram hospitalização, 54 (28%) morreram no hospital. Noventa e um dos 191 pacientes estudados, ou seja, 48% dos pacientes apresentavam pelo menos uma comorbidade, sendo a hipertensão a mais comum (30%), seguida pelo diabetes presente em 19% dos pacientes.
Na Inglaterra observou-se que 70% dos pacientes infectados que necessitaram de cuidados nas UTIs eram indivíduos obesos. Em outro estudo realizado na França, o excesso de peso e a obesidade grave estiveram presentes em 48% e 28% respectivamente de 124 pacientes estudados, sendo que 67% necessitaram de ventilação mecânica. Isto ocorreu mais em homens e principalmente nos portadores de obesidade, mesmo naqueles sem diabetes. Observou-se que a probabilidade da necessidade de ventilação mecânica foi sete vezes maior nos pacientes com obesidade grave quando comparados aos não obesos. Assim, tanto o diabetes tipo 2 com a obesidade colocam as pessoas em condição de maior risco de desenvolver quadro graves, exigindo maior atenção às medidas preventivas nestes indivíduos suscetíveis.
Maria Teresa Zanella
Possui graduação em Medicina (Endocrinologia Clínica) pela Universidade Federal de São Paulo (1973). Atualmente, é professora titular da Disciplina de Endocrinologia Clínica da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp). Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Endocrinologia, atuando principalmente nos seguintes temas: hipertensão arterial, obesidade, resistência à insulina, diabetes tipo 2, nefropatia diabética,apneia do sono. Mais informações em: lattes
Setor de Endocrinologia
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