O combate à violência começa com a prevenção. A prevenção começa com a saúde mental
HPV, entenda a importância de prevenir
4/03: Dia Internacional de Conscientização sobre o HPV
O HPV, abreviação em inglês para papilomavírus humano, é o vírus responsável pelo maior número de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) encontradas entre adolescentes e adultos jovens. Isso não quer dizer que outras pessoas não possam ser infectadas por ele, pois é facilmente transmitido pelo contato de pele infectada com pele sadia, tanto na superfície do corpo como no interior de cavidades como boca, ânus, genitais, entre as pálpebras dos olhos.
A intenção do vírus não é causar doenças. Ele só quer se multiplicar, pois não consegue fazer isso sozinho. A composição dos seus códigos genéticos precisa de uma fábrica adequada de proteínas que só encontra em determinadas células epiteliais, aquelas responsáveis pela proliferação dos tecidos de revestimento dos órgãos e de cavidades, como pele e mucosas, conjuntivas, orofaringe, canais endocervical e anal.
Por qual motivo dizem que o HPV é responsável por 99% dos cânceres do colo do útero?
Esta é uma longa história...
Como em todas as famílias numerosas, a família do HPV também é muito grande; ele tem mais de 200 parentes entre irmãos, tios e primos. Seus ancestrais são muito antigos. Mas, são conhecidos dois grupos que podem ser bem diferenciados entre si. Os primeiros são aqueles elementos de melhor índole, que para viver mais tranquilamente gostam de fazer apenas verrugas e sinais de infecção viral. Essas alterações são chamadas lesões de baixo grau. Esses aspectos, após um certo tempo, desaparecem espontaneamente. E os seus causadores são os chamados vírus de baixo risco oncogênico.
O segundo grupo é composto por elementos mais agressivos, que quando calmos fazem verrugas, porém quando encontram um ambiente em que há substâncias que interferem na sua multiplicação, ficam tão agressivos que provocam uma alteração de toda a maquinaria de célula hospedeira, alteram seu funcionamento de tal forma a dar origem àquilo que os cientistas chamam de lesões pré-neoplásicas de alto grau, com capacidade de evoluir para lesões micro invasivas e, logo a seguir, lesões com franca invasão de tecidos. Aí está o câncer do colo do útero. Esse grupo é chamado vírus de alto risco oncogênico.
Quem são as pessoas que podem adquirir a infecção pelo HPV?
Adolescentes e jovens adultos que tem atividade sexual são os mais acometidos. Mas, qualquer outro grupo de pessoas que seja ativo sexualmente também está exposto ao risco de ser contaminado. Não importa gênero nem tampouco tipo de contato sexual.
Há maior facilidade em adquirir a infecção aquelas pessoas que apresentam baixa resistência orgânica, seja por desnutrição, por doenças imunológicas congênitas ou adquiridas, seja por depressão emocional, exaustão física. Qualquer circunstância que fragilize seus organismos, como por exemplo, usuários de drogas ilícitas, de alcoolismo, de fumo auxiliam a infecção, principalmente aqueles que tenham intercurso sexual desprotegido com indivíduos infectados. A promiscuidade é fator importante para favorecer a instalação do vírus de maior agressividade. Essas condições facilitam, aos vírus de alto risco oncogênico, a persistência por longos períodos nesse organismo, conduzindo-o para as lesões pré-neoplásicas e até para o câncer.
Como é possível evitar então essa infecção? Não ter encontros sexuais?
Não, essa não é a solução. A prevenção da doença é composta por dois momentos muito importantes.
1º) Prevenção Primária - procura identificar qual o grupo de pessoas em risco para a doença que se quer prevenir. No caso do HPV, os indivíduos que tenham predominantemente atividade sexual.
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Orienta-se para que essas pessoas conheçam a doença e seu causador, como ocorre o contágio e quais os fatores facilitadores, especialmente para poder evitar esses momentos.
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O uso correto do preservativo, tanto masculino quanto feminino são importantes.
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E a vacinação para o HPV (quadrivalente: para os vírus tipo 6-11-16 e 18; e a bivalente: para os vírus 16 e 18)
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O Ministério da Saúde (MS) oferece, a partir dos 9 anos de idade até 14 anos, a vacinação gratuita.
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O mesmo ocorre com os portadores de infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV) de ambos os sexos, para os demais imunossuprimidos portadores de transplantes de órgãos sólidos ou não até a idade de 21 anos.
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Além desses grupos auxiliados pelo Governo, todas as demais pessoas, adolescentes, jovens, adultos, e até em senescência, desde que estejam em situação de risco, podem e devem ser vacinados nas clinicas particulares.
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A quadrivalente é mais indicada para mulheres e homens, e a bivalente fica mais limitada para mulheres, por questão apenas comercial pois em bula é indicada para proteger contra o câncer do colo do útero. A quadrivalente acrescenta a possibilidade de evitar o desenvolvimento das verrugas genitais, frequentes em homens.
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2º) Prevenção Secundária: aqui entra o famoso teste de Papanicolau e o teste do DNA viral.
- O Papanicolau é também conhecido como teste de lâmina, colpocitologia esfoliativa, citologia oncótica para câncer de colo de útero.
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Desde 1943, é o método mais difundido de se tentar fazer o diagnóstico, o mais precoce possível, das alterações celulares desencadeadas pelo HPV, seja como simples infecção viral ou como lesão pré-neoplásica ou ainda como câncer já instalado.
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Toda jovem a partir dos 25 anos que tenha atividade sexual deve ser submetida a este teste uma vez ao ano, por dois anos consecutivos. Com resultados negativos, sem alterações poderá passar a realizá-lo a cada três anos. Isso será feito até os 64 anos de idade. Assim recomendam as Diretrizes Brasileiras para Rastreamento do Câncer do Colo do Útero do Ministério da Saúde e do Instituto Câncer (Inca).
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Mesmo que a jovem inicie sua vida sexual na adolescência não deverá ser submetida a este teste sem necessidade, pois caso se infecte, será por simples Infecção viral e irá clarear espontaneamente sem qualquer problema maior. Exceção seja feita para os casos de persistência da infecção por mais anos seguidos e a critério médico.
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- Outro método de rastreamento discutido na atualidade, especialmente na América do Norte, é a pesquisa da presença de material genético do vírus em esfregaços citológicos de boca, vagina, colo, ânus ou urina. É o teste do DNA viral.
- Seus defensores recomendam que esse teste, se negativo na primeira vez, poderá ser repetido em três ou cinco anos. Caso seja positivo impõem-se a realização do exame citológico de Papanicolau e, de acordo com seu resultado, outras pesquisas deverão ocorrer.
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No Brasil essa alternativa só é disponível para a clínica particular. O Sistema Único de Saúde (SUS) só permite a realização do exame citológico como método de rastreamento.
Se o teste de lâmina der resultado alterado, o que pode ser feito?
Ainda na Prevenção Secundária, após a identificação dos exames alterados, as Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Colo do Útero determinam qual a conduta deve ser seguida, segundo a gravidade de cada exame. Assim, poderá ocorrer simplesmente a repetição do exame de forma anual ou semestral, ou a paciente será encaminhada para colposcopia.
A colposcopia é um exame visual do colo do útero em que se procura áreas alteradas, caso sejam encontradas, podem ser solicitadas biópsias para que se faça exame histopatológico. De acordo com o resultado desse exame dar-se-á a conduta final para o caso, que pode ser um tratamento com substâncias químicas tópicas, ou com vaporizações com agentes físicos, como laser, ou ainda, retirada de fragmentos cirúrgicos do colo para remover a lesão.
Onde são realizadas essas condutas na Unifesp?
Essas condutas são realizadas no Núcleo de Prevenção de Doenças Ginecológicas, no setor de Patologia do Trato Genital Inferior (PTGI) do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), atualmente coordenado pela professora Neila Maria de Gois Speck. O serviço assistencial atende no 6º andar do Hospital Universitário 2 (HU2), unidade hospitalar gerenciada pela Unifesp, com consultas agendadas pelo Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (CROSS) e/ou pelos docentes dos diferentes setores da Ginecologia.
É também um excelente centro de formação de residentes, de especialistas nessa área e de pós-graduandos acadêmicos, cumprindo assim seu objetivo de serviço dedicado à assistência pelo SUS, ao ensino nos diferentes níveis acadêmicos e ainda à pesquisa.
Por Julisa Chamorro Ribalta
Professora Sênior do Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp). Médica com doutorado em Medicina - Ginecologia (Unifesp, 1985). Possui experiência na área de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia, atuando principalmente nos seguintes temas: hpv, colposcopia, citologia, lesão precursora e papilomavírus humano. Foi coordenadora do Núcleo de Prevenção de Doenças Ginecológicas da Disciplina de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp). Outras informações, clique aqui.
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