O combate à violência começa com a prevenção. A prevenção começa com a saúde mental
Pesquisadores(as) do Campus São Paulo da Unifesp integram mais uma vez Projeto Amazônico de Oftalmologia Humanitária
Iniciativa levou atendimentos a comunidades no interior do estado do Amazonas
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Por Alexandre Milanetti
A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) esteve presente novamente no Projeto Amazônico de Oftalmologia Humanitária, que foi encerrado no último dia 8 de junho. O projeto, que foi conduzido pela Marinha do Brasil (MB) e pela Sociedade Amigos da Marinha Manaus (Soamar Manaus), contou com a participação de oftalmologistas da Unifesp e Universidade Federal do Amazonas (UFAM), do Instituto da Visão, do Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia, da Fundação Piedade Cohen, além de médicos(as) voluntários(as) e empresas privadas, como o laboratório Alcon e a Lupas Leitor.
O projeto levou atendimentos para comunidades no interior do estado do Amazonas, em ação realizada a bordo do Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) "Soares de Meirelles". Como balanço das atividades, foram distribuídos mais de dez mil medicamentos, realizados oito mil procedimentos entre atendimentos médicos, odontológicos, de enfermagem e laboratoriais, além da distribuição de 2.384 lentes de correção e promoção de 200 cirurgias de catarata.
Os(as) pesquisadores(as) envolvidos(as) no projeto e ligados à Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo e ao Instituto Visão foram Rubens Belford Mattos Júnior, Paula Marinho, Walton e Ricardo Nose, Lincoln Freitas e Fernando Drudi.
"O Projeto Amazônico de Oftalmologia Humanitária é um sucesso não apenas para trazer visão para dezenas de milhares de pessoas nesses últimos 15 anos. Mas também para ajudar a treinar recursos humanos na área da saúde e mostrar a importância da defesa dos direitos à saúde visual. A Constituição garante o atendimento e defende os direitos da saúde, mas a saúde visual, com frequência, vem sendo desconsiderada principalmente no Norte do Brasil. O próprio Conselho Brasileiro de Oftalmologia mostra a importância das alterações visuais da catarata e da falta de óculos principalmente para perto nas populações acima de 40 anos de idade”, fala Belfort Júnior, representante da Unifesp no projeto e professor emérito da EPM.
O comandante do NAsH "Soares de Meirelles", capitão de corveta José Lauro Motta de Oliveira, afirmou que "mesmo sendo números tão expressivos, o mais importante é a atenção à saúde primária necessária que é proporcionada aos ribeirinhos".
Criada na década de 1990 pela Fundação Piedade Cohen, a iniciativa recebeu em seguida o aporte da Unifesp, UFAM e do Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia. Atualmente, empresas privadas aderiram às ações. "Esse projeto é um exemplo de parceria público-privada. Junta duas universidades federais com duas organizações filantrópicas, uma em São Paulo, o Instituto da Visão, e outra em Manaus, a Fundação Piedade Cohen. Nesses anos todos, sempre trabalhamos em parceria também com as melhores indústrias oftalmológicas, que doam recursos, equipamentos e insumos. Também o apoio da Marinha do Brasil tem sido fundamental, pois ela traz a infraestrutura necessária para o transporte e auxilia também na prestação dos serviços médicos, além de ajudar em vários aspectos relacionados à segurança e melhor efetividade dos recursos", explica o pesquisador da Unifesp.
Belfort Júnior diz que basicamente médicos avaliam os(as) pacientes, selecionam aqueles(as) necessitados(as), que são então operados(as) e atendidos(as) em alguns dias, utilizando-se instalações dos próprios hospitais nas cidades do interior do Amazonas. "Posteriormente, os pacientes têm o pós-operatório realizado e, dessa maneira, garante-se o bom resultado das ações. Os principais problemas oftalmológicos registrados por essa população são a falta de óculos para perto e a catarata, mas também o pterígio, ou seja, uma lesão corneana considerada muito comum na região e que é causa importante de baixa visão. Conhecida como carne crescida, não era considerada importante até trabalhos recentes, principalmente pelo nosso grupo ter demonstrado pesquisas subvencionadas pelo Conselho Nacional de Pesquisa dessa importantíssima causa de morbidade e perda visual na Amazônia”, detalha o oftalmologista da EPM.
Ele relata que, sem dúvida, as cidades da região amazônica carecem de melhor estrutura de saúde visual e que existe uma carência enorme de profissionais fora da capital Manaus. "Eu participo desse trabalho na região amazônica há mais de 50 anos, tendo iniciado nas atividades pioneiras da Escola Paulista de Medicina no Parque Indígena do Xingu com o professor Baruzzi, Orlando e Claudio Villas-Boas, além de muitas outras pessoas. De lá, passamos a atuar também em vários outros pontos da região Norte, inclusive Rondônia, onde temos uma atividade constante em parceria com a USP e os estados do Acre, Roraima e Amazonas. A Marinha do Brasil, através da Sociedade Amigos da Marinha, vem sendo a parceira ideal para nossos trabalhos. A participação in loco na região amazônica de um número grande de profissionais da EPM serve também para mostrar a todos a importância e a possibilidade de atuarmos de maneira construtiva naquela região", lembra Belfort Júnior.
O pesquisador da Unifesp, que também é membro titular das Academias Brasileira de Ciências e Nacional de Medicina, conta que são muitas as histórias peculiares mostrando a importância desse projeto. "Relatos verídicos são assim, como o de uma técnica de enfermagem que disse 'bom, agora, com esses óculos, finalmente eu consigo enxergar a veia e aplicar melhor a injeção'. Ou 'doutor, que bom, eu sou professora e não conseguia corrigir a lição de casa dos meus alunos. Tinha que pedir para minha filha ajudar. Agora eu consigo'. Com frequência, quando fazemos esses trabalhos, atendemos também esses profissionais totalmente negligenciados e desamparados. Mostra a importância de enxergar para poder desenvolver serviços profissionais”.
O oftalmologista destaca que os exemplos são inúmeros e emocionantes: "Operamos, com frequência, casais que não se viam há muitos anos e, depois da cirurgia, choram ao reconhecer a face do outro ou da outra. Também operamos várias vezes pacientes com mais de 95 anos de idade e que recuperam a visão que parecia perdida para sempre", encerra.
Fotos: Rubens Belfort Mattos Júnior (arquivo pessoal)
Fonte: DCI
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