O combate à violência começa com a prevenção. A prevenção começa com a saúde mental
Vamos falar de saúde e qualidade de vida?
Dia Nacional de Mobilização pela Promoção da Saúde e Qualidade de Vida
Você sabia que hoje, dia 06 de abril, é comemorado o Dia Nacional de Mobilização pela Promoção da Saúde e Qualidade de Vida? Essa data tem o objetivo de diminuir a parcela de pessoas em situações de risco devido a maus hábitos na rotina.
Promoção ou promoções da saúde?1
A provocativa indagação traz a ideia de que a promoção da saúde pode ser analisada a partir de diferentes abordagens. É um campo que permanece em construção e convive com uma pluralidade de concepções e práticas. Com a finalidade de reforçar um conceito mais amplo de promoção da saúde, o ponto de partida é questionar a ideia de que suas práticas se limitem a identificar os efeitos nocivos de determinados comportamentos e hábitos, e, assim, atuar sobre os indivíduos mais expostos ao risco, normatizando seus estilos de vida.
Não é incomum na prática em saúde o pensamento de que, quando um ‘desvio’ aparece, basta educar as pessoas, pois a inteligência, a ciência e a razão seriam suficientes para corrigir essas ‘irregularidades’. O raciocínio que está por trás é o de que, a partir de um diagnóstico da situação – o que as pessoas desconhecem ou conhecem erroneamente –, teríamos o tratamento: o conteúdo, as técnicas e os métodos educativos persuasivos necessários para corrigir a conduta. A não adesão às normas e condutas preconizadas se deveria à ignorância e à falta de informação.
Culpabilização. (Crédito: Catalysis)
Esse e outros tantos exemplos, como os de ações contra o sedentarismo ou em favor de uma alimentação mais saudável, poderiam, também, ser citados por seguirem esta mesma lógica: focalizar o fazer (intervir) na aquisição das informações científicas e na transformação dos comportamentos dos indivíduos.
Se tomarmos como exemplo o tabagismo – cujo uso está associado à incidência de câncer e doenças cardiovasculares, evidência científica aceita por vários trabalhos científicos –, a despeito das inúmeras campanhas sanitárias de aconselhamento e controle, persistem comportamentos inalterados de pessoas que, mesmo obtendo informações sobre suas implicações nocivas, ainda assim, continuam fumando.
Reforçam-se, assim, discursos e práticas que objetivam delegar cada vez mais aos sujeitos e grupos sociais específicos a tarefa de cuidarem de si mesmos. Isso poderia ser positivo apenas se não estivesse acompanhado de uma desresponsabilização do Estado na oferta das condições para esse cuidado e se considerasse, de fato, as escolhas dos sujeitos.
Isso faz pensar que não basta conhecer o funcionamento das doenças e eleger mecanismos para o seu controle, supondo haver apenas falta de conhecimento das informações técnico-científicas adequadas. Percebe-se, também, que lidamos com temas complexos e singulares, como a saúde e a vida, relacionados amplamente com o contexto social, a cultura e com as subjetividades, cuja magnitude as evidências científicas parecem não alcançar.
Promoção da saúde para melhoria da qualidade da vida
Trazemos aqui aportes que direcionam as práticas promotoras da saúde a outra perspectiva, para o incremento ou melhoria da vida com qualidade. Assim, a promoção da saúde:
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Informa-se em uma concepção ampla do processo saúde-doença e sua determinação social;
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Pressupõe uma combinação de ações em rede, desenvolvidas de forma conjunta por diferentes setores do governo e da sociedade civil, tendo em vista a melhoria das condições de vida e saúde;
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Toma como referência um conjunto de valores pelos quais se deve lutar na direção de uma sociedade mais justa e solidária;
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Expressa-se em diferentes campos de intervenção que incluem: a esfera individual no processo de desenvolvimento de capacidade e fortalecimento da autonomia dos sujeitos da ação; a esfera coletiva na construção da universalização dos direitos com equidade; a esfera institucional na transformação da cultura da gestão e de sua intervenção em formato intersetorial;
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Pressupõe duas dimensões operativas: no campo da intersetorialidade para além do campo restrito da saúde, tomando como centralidade a determinação social da saúde e da qualidade de vida, e no campo da intrasetorialidade, no interior do setor da saúde, combinando conhecimentos e práticas interdisciplinares afeitas ao setor.
Promover a saúde é promover a qualidade de vida. (Crédito: Sou + SUS)
Promover saúde é defender a vida!2
A partir dessa assertiva queremos reforçar a ideia de que a promoção da saúde é um compartilhamento de possibilidades para que todos e todas possam viver seus potenciais de forma plena. É perceber a interdependência entre indivíduos, organizações e grupos populacionais e os conflitos decorrentes desta interação. É reconhecer que a cooperação, a solidariedade, como práticas sociais correntes entre sujeitos, precisam ser, urgentemente, resgatadas. Promover a saúde é uma imposição das circunstâncias atuais que apontam para a necessidade imperiosa de novos caminhos éticos para a sociedade.
Cooperação e solidariedade são mais vantajosas do que o individualismo. (Crédito: Google)
Na atual conjuntura de crise brasileira, caracterizada pelos efeitos devastadores ao enfrentamento da pandemia do novo coronavírus abrem-se possibilidades concretas que faz ressurgir nos discursos e nas práticas promotoras de saúde certa consciência da garantia dos direitos universais, dentre eles a defesa da vida. E esta talvez seja a maior das advocacias do campo da promoção da saúde, apoiando a mobilização permanente contra os retrocessos da esfera pública e lutando por novos projetos societários, mais inclusivos e coletivos.
Referências
- MENDES, R.; FERNANDEZ, J. C. A.; SACARDO, D. Promoção da saúde e participação: abordagens e indagações. Saúde em Debate, 40, p. 190-203, 2016.
- FRANCESCHINI, M. C. , ANDRADE, E.A. ; MENDES, R.; AKERMAN, M.; ANDRADE, D. R.; LICO, M.F.C. Information, control and health promotion in the Brazilian context of the pandemic. Health Promotion International. Article Doi: 10.1093/heapro/daab032. May 2021.
Por Rosilda Mendes
Professora do Instituto de Saúde e Sociedade, da Universidade Federal de São Paulo (ISS/Unifesp) - Campus Baixada Santista. Docente do Programa de Mestrado Profissional em Rede Saúde da Família (PROFSAUDE) e do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Políticas Sociais da Unifesp. É coordenadora do Centro de Estudos, Pesquisa e Documentação em Cidades Saudáveis (CEPEDOC Cidades Saudáveis) - Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS). Outras informações, clique aqui.
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