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20/02 - Dia Nacional de Combate às Drogas e Alcoolismo
A prevenção é sempre o melhor tratamento
No dia 20 de fevereiro, é celebrado o Dia Nacional de Combate às Drogas e Alcoolismo. A data tem o objetivo de alertar e conscientizar a população sobre o mal que as drogas e o álcool trazem, não só ao organismo como também a sociedade. Convidamos Maria Cristina Mazzaia e Karina Franco Zihlmann - coordenadora e tutora, respectivamente, do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), para abordar o assunto.
A celebração da data
O abuso de drogas, em especial do álcool, é entendido como um problema de saúde pública no mundo e carece de atenção dos governos e autoridades de saúde.
Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo ou Dia Nacional de Prevenção ao Uso Prejudicial de Drogas?
Questiona-se o título da data, pois as drogas - substâncias psicoativas - sempre existiram e não deixarão de existir, assim, é fato que a sociedade necessita desenvolver comportamentos compatíveis para o uso consciente, o que não é obtido por meio da abordagem do tema fundamentada em práticas proibicionistas e de repressão.
Historicamente, práticas adotadas nas políticas públicas no mundo e no Brasil, até então, resultam em realidade negativa, a considerar os dados obtidos em pesquisas sobre o uso de drogas pela população brasileira, em especial, pelos jovens.
Pausa para reflexão
Neste dia 20 de fevereiro, torna-se fundamental estimular a reflexão sobre o papel das drogas no cotidiano de nossa sociedade e que medidas de prevenção são essenciais, especialmente considerando a população de jovens em que o uso de substâncias lícitas - como, por exemplo, o álcool - costuma ser uma “porta de entrada” para o uso abusivo de substâncias, pois ainda há abundante publicidade em nosso meio, como forma de estimulação de uma “suposta” imagem de sofisticação, ousadia ou liberdade. Nesse contexto destaca-se, ainda, a necessidade de estudos e intervenções educativas efetivas de prevenção e promoção em saúde que, de fato, atendam às necessidades dessa população-alvo - os jovens -, levando em conta os diferentes contextos psicossociais, econômicos e culturais que interferem na adoção de comportamentos disfuncionais, que podem levar a graves consequências para o seu futuro desenvolvimento.
O Consumo e a Saúde Mental
Levantamento realizado em pesquisa nacional (IBGE, 2016) sobre a saúde escolar identifica que o uso de cigarro, nos últimos 30 dias, por escolares do 9º ano do ensino fundamental, foi de 18,4% e 55,5% referiram já terem consumido álcool, 23,8% a referir este consumo nos últimos 30 dias, e, 21,4% alegando já terem apresentado episódio de embriaguez.
Se considerarmos que o cérebro jovem encontra-se em processo de maturação neurológica, que se estende até por volta de meados dos 20 anos de idade, que toda injúria sofrida neste período pode ser determinante para uma série de prejuízos, como dificuldades para aprendizagem, para ajustamento social e profissional, aumento de vulnerabilidade para problemas de saúde mental, além de maior chance de uso prejudicial de drogas, compreende-se a importância de medidas preventivas, com especial atenção à população jovem.
Segundo Kessler et al. (2005), 50% dos casos de problemas de saúde mental tem início antes dos 14 anos e 75% até os 25 anos de idade.
O Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC, 2015) qualifica a prevenção como fundamental para o controle internacional do uso de drogas, além de propiciar o retorno dos investimentos à população por meio da economia com a redução de gastos com saúde e benefícios sociais, pois, o abuso de drogas na juventude configura-se como um dos principais motivos de anos perdidos na vida por incapacidade ou morte precoce, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fatores de risco
No entanto, cabe lembrar que o abuso de drogas é um fenômeno complexo, envolvendo fatores de risco, que são aqueles que colocam os indivíduos propensos ao uso abusivo, como baixa autoestima, relações familiares disfuncionais, pobreza, fácil acesso às drogas, baixo rendimento escolar/baixa escolaridade. Por outro lado, fatores de proteção que, ao contrário, diminuem as chances do uso abusivo, tais como: desenvolvimento de habilidades interpessoais, sociais, cognitivas e de conhecimento de sentimentos e emoções devem ser privilegiados nas estratégias de prevenção para redução dos fatores de risco (UNODC, 2014).
Política Pública e ações de prevenção
Para que seja possível a prevenção do uso abusivo de drogas, o tema deve estar presente em discussões efetivas em diversos setores da sociedade, de modo a promover reflexões profundas sobre a cultura de guerra/combate às drogas, que há anos vem sendo implementada em nosso país.
A política sobre drogas implica, não somente, ações de prevenção para o uso abusivo, mas também, ações para redução da produção e circulação de drogas, bem como ações de reabilitação de pessoas que tornaram-se dependentes, quadro com características de maior gravidade para o cuidado.
Nos casos mais agudos de abuso de substâncias, a rede assistencial do Sistema Único de Saúde (SUS) carece de serviços de emergência e cuidados hospitalares de maior complexidade. Por outro lado, os serviços de reabilitação da Rede de Atenção Psicossocial - RAPS (Brasil, 2011) - rede criada no contexto da Reforma Psiquiátrica e do Movimento da Luta Antimanicomial - também têm apresentado atualmente subfinanciamento e pouca infraestrutura de ordem física e de recursos humanos, o que dificulta um trabalho articulado em rede com foco na inclusão e desenvolvimento do protagonismo e autonomia dos usuários, sendo estes os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) (Brasil, 2015).
É preciso destacar também que tal cultura de guerra às drogas acaba por se traduzir na evitação e guerra às pessoas que as utilizam, estigmatizando-as e segregando-as, traduzindo-se na grande resistência de profissionais da saúde e da educação na adoção de medidas de cuidado em saúde. Nesse sentido, ações de prevenção e promoção em saúde só poderiam ter efeito se os profissionais puderem sobrepujar preconceitos, considerar que o objeto droga faz parte da convivência social, mas o foco de atenção em saúde deveria ser o cuidado às pessoas, e não as drogas em si.
Autoras
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