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Dia do Psicólogo: A importância do Processo de Luto

Publicado: Sexta, 27 de Agosto de 2021, 00h00 | Última atualização em Sexta, 27 de Agosto de 2021, 11h30 | Acessos: 89086

Uma mente saudável é fundamental para o bem-estar de qualquer pessoa

O Dia Nacional do Psicólogo se tornou a data comemorativa oficial a ser celebrada todo o dia 27 de agosto. A Lei 13.407/2016, que determina a norma, foi sancionada pela Presidência da República no dia 26 de dezembro de 2016 e publicada no Diário Oficial da União (DOU) no dia seguinte. O Dia do Psicólogo sempre foi comemorado, ainda que informalmente, no dia 27 de agosto – data de publicação da Lei 4.119/62, que regulamentou a profissão de psicólogo no Brasil. Porém, não existia uma lei formalizando a celebração, como ocorre com outras profissões.

 

A singularidade humana

psicologia singularidade humanaO encontro terapêutico com o paciente demanda do psicólogo uma disponibilidade interna para abrir-se para uma experiência de contato humano que se delineia em diversos matizes, um sujeito nunca é igual a outro, um encontro nunca se repete da mesma forma. É nessa singularidade que o profissional trabalha, contando com o arcabouço teórico que fundamenta a prática e utilizando os próprios recursos psíquicos como ferramenta terapêutica. Acolher as angústias humanas, recebê-las com interesse e trabalhar sua elaboração com o paciente são ações que implicam um importante investimento na saúde psíquica do profissional.

 

Intervenções psicológicas diante da pandemia da Covid-19

A compreensão dos processos de luto é uma ferramenta essencial nessa jornada em águas turbulentas.

A morte, a perda, o desamparo apresentam-se de forma universal na experiência humana desde sempre. E desde sempre a humanidade busca dar conta do sofrimento lançando mão dos recursos simbólicos que a religião, a cultura e a arte criaram para dar sentido às experiências doloridas inerentes à vida. Face à ruptura da perda, à descontinuidade da morte, à consciência da finitude, buscam formas de tornar a dor suportável dentro de um processo de digestão psíquica que denominam como o processo de luto.

A pandemia de Covid-19 nos confrontou com a realidade do impacto das perdas de forma avassaladora, configurando uma experiência de luto coletivo. As pessoas perderam o mundo que conheciam, a segurança que imaginavam ter na previsibilidade dos acontecimentos cotidianos, perderam o contato íntimo com quem amam, o abraço, o beijo, o calor do encontro. Perderam, sobretudo, muitas vidas e milhares de famílias foram afetadas pela morte de seus entes queridos. São vivências traumáticas que precisarão elaborar e integrar no processo de readaptação de suas vidas a uma nova organização da realidade.

É nesse sentido que os profissionais da saúde mental entendem que foram convocados a acolher e auxiliar a travessia desses mares revoltos de dor e desamparo que esse acontecimento lançou. 

 

O que é e como lidar com o processo de luto?

O luto é um processo natural que acontece sempre que perdemos algo ou alguém significativo em nossas vidas. Tem um caráter subjetivo, pois cada pessoa vivencia de uma maneira, em seu tempo particular. É permeado pelo contexto social, cultural, pelos valores, crenças e tradições familiares. Aspectos da personalidade, experiência anteriores de perdas e suas circunstâncias também são relevantes nesse processo, assim como a forma como se deu a perda (se a pessoa falecida estava sozinha, em casa ou no hospital, se foi um acidente), e o tipo de morte (repentina, doença crônica, suicídio). A qualidade da relação que a pessoa enlutada tinha com a pessoa falecida é outro elemento muito importante na compreensão do luto. São muitas as variáveis e suas combinações, transformando o processo de luto em algo muito singular, no qual as diferenças pessoais precisam ser consideradas e respeitadas. (WORDEN, 1995; PARKES, 1998; FRANCO, 2021)

 

luto imagem 1

O luto desperta inúmeras reações e afeta a pessoa enlutada de forma global. Muitos afetos são experimentados, muitas vezes de formas contraditórias, o amor e a raiva, a culpa e o alívio, a tristeza e a serenidade. O corpo também é palco desse processo, náuseas, tonturas, dores de cabeça, pernas bambas, dificuldade de concentração, são expressões legítimas dessa experiência.

Afeta o indivíduo de forma integral em suas dimensões: física, emocional, comportamental, cognitiva e espiritual.

  • Sentimentos: Sensações e sentimentos como, choque, negação, entorpecimento, ansiedade, raiva, culpa, medo, desamparo e alívio são normais.

  • Sensações físicas: Dores físicas, falta de ar, nó na garganta, entre outros. É comum também observarmos queixas físicas semelhantes às vividas pelo ente perdido.

  • SingleblackRose01Cognição: Sentir-se confuso, desorganizado, ter lapsos de memória e atenção prejudicada são reações normais e até esperadas.

  • Comportamento: Restrição ou excesso de sono, apetite ou interesse sexual, abuso de álcool, fumo, drogas ou medicamentos, comportamento “aéreo” ou querer isolar-se socialmente.

  • Espiritualidade: Para alguns, a espiritualidade é importante fonte de estratégias de enfrentamento nesse momento de crise. Outros enlutados, entretanto, podem questionar sua fé e “brigar” com Deus.

 

O processo natural do luto não é linear, como muitas vezes acreditamos, ele é permeado por altos e baixos, idas e vindas, em um movimento pendular, descrito pelo modelo do Processo Dual do Luto (STROEBE & SCHUT, 1999). São dois modos de enfrentamento que oscilam ao longo da vida, ora estamos em contato com as dimensões da perda e suas dores, rememorando lembranças, sentindo a ausência do ente querido em datas significativas, por exemplo; ora voltamos para a restauração, lidando com as mudanças na vida sem a pessoa falecida.

 

processo de luto

 

É importante que a pessoa enlutada seja acolhida e ouvida em sua dor e que possa construir a narrativa da história vivida com a pessoa falecida. Quem era essa pessoa? Como ocorreu essa perda? Como ela está lidando e se há algo que está precisando? A possibilidade de narrar uma dor, torna esta mais suportável, tecendo uma rede de sentido para uma experiência muitas vezes avassaladora e disruptiva. O contato humano durante esse processo auxilia a pessoa a sentir-se acompanhada em seu sofrimento.

  

Programa de Acolhimento ao Luto da Unifesp

proalu logoO Programa de Acolhimento ao Luto do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (Proalu - EPM/Unifesp) oferece acolhimento breve ao luto às pessoas enlutadas que perderam um ente querido durante a pandemia pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O acolhimento tem como objetivo promover um espaço de escuta da história vivida com o ente querido falecido e de acolhimento ao sofrimento psíquico diante da dor da perda em quatro atendimentos breves e pontuais via telefônica ou vídeo chamada, auxiliando-os na busca e identificação de recursos psíquicos, para que se sintam amparados e capazes de lidar com as dores do processo de luto.

Os atendimentos são agendados de acordo com a disponibilidade de horário do familiar e do profissional. É importante que o enlutado esteja em um lugar tranquilo, confortável e reservado que se sinta à vontade em se expressar livremente.

No Instagram @proalu.unifesp é possível encontrar informação sobre o processo de luto de forma acessível a todos.

 

Referências Bibliográficas

  • Franco M.H. O Luto no século 21: Uma compreensão abrangente do Fenômeno. São Paulo: Summus, 2021.
  • Parkes C.M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta [tradução: Maria Helena Franco]. 3.ed. São Paulo: Summus, 1998.
  • Stroebe M. & Schut H. The dual process model of coping with bereavement: rationale and description. Death Stud. 1999 Apr-May;23(3):197-224.
  • Worden J. W. Aconselhamento do luto e terapia do luto: um manual para profissionais da saúde mental. São Paulo: Roca, 2013.

 

 Autoras

samanthaSamantha Mucci

Professora adjunta e psicóloga do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). Chefe da Disciplina de Psicoterapia e Psicologia Médica da EPM/Unifesp; Fundadora e coordenadora do Programa de Acolhimento ao Luto do Departamento de Psiquiatria (Proalu - EPM/Unifesp). Outras informações, clique aqui

Marina Cardoso Smith Eberlein

Psicóloga do Núcleo de Atendimento e Pesquisa em Psicanálise e Dor do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (Napped - EPM/Unifesp - Caism). Professora colaboradora de Semiologia das Relações Humanas da EPM/Unifesp. Outras informações, clique aqui

 

 

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