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Uma breve viagem no túnel do tempo...

Publicado: Segunda, 26 de Setembro de 2022, 16h07 | Última atualização em Quarta, 26 de Outubro de 2022, 09h14 | Acessos: 16484

Disciplina de Anatomia preserva relógio centenário, entre outras relíquias

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Você já parou para observar quanta coisa interessante e diferente encontramos no Campus São Paulo da Universidade Federal de São Paulo (CSP/Unifesp)? Fotografias em preto e branco, bustos de pessoas homenageadas e até objetos nostálgicos, centenários talvez, sejam cheios de história e memórias.

“Uma breve viagem no túnel do tempo...”, documento escrito, em março de 2004, por José Carlos Prates e Luís Garcia Alonso (in memoriam), docentes aposentados da Disciplina de Anatomia Descritiva e Topográfica da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), traz a história e as boas lembranças de um relógio, um objeto antigo capaz de carregar um valor sentimental e histórico muito maior do que podemos imaginar.

 

relogio centenario anatomia

Relógio Junghans e documento original fixados ao lado da porta de acesso às salas de estudo da Disciplina de Anatomia. (Imagem: Loane Carvalho/ComunicaSP)

 

Uma breve viagem no túnel do tempo...

“Parafraseando o médico Raymundo Silveira ‘...o Tempo é uma abstração criada pelos homens a fim de medir o tamanho das suas esperanças, ou a extensão das suas saudades...’. Ninguém sabe ao certo quando o tempo começou a ser mensurado (estima-se em cerca de 5000 anos...), mas com certeza a história do relógio confunde-se com a história dos calendários em uma época talvez, onde não se sabia ler ou escrever.

Nossos ancestrais tinham conhecimento apenas do dia e da noite e aos poucos passaram a observar os movimentos das marés, do sol, da lua e de outros astros. Estes elementos suscitaram o estabelecimento, por assim dizer, de uma cronologia da vida da época.

Este nosso relógio, [...] viu durante todos este anos todas as turmas que por aqui passaram. Viu calouros se transformarem em médicos... viu assistentes se transformarem em titulares... viu jovens senhores se transformarem em senhores jovens... e na sua mansidão de um humilde tic-tac... assistiu a expansão vertiginosa da Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de São Paulo e uma das mais conceituadas em termos de ensino, pesquisa e assistência do mundo.

Nossa Escola Paulista de Medicina nasceu... muito tempo depois disso... em 1º de junho de 1933 e esteve, inicialmente na Rua Coronel Oscar Porto, 54, no bairro do Paraíso, desde a fundação até 1936. Em seguida, após a compra da Chácara Schiffini, na Rua Botucatu, 90, no bairro de Vila Mariana, o sonho de seus fundadores de construir uma grande Escola começava a concretizar-se. O primeiro diretor foi o professor Octávio de Carvalho. Dentre as várias realizações da época, comprou dois relógios Junghans. Um deles destinado para a Diretoria e o outro para a Secretaria Geral. E aqui, nos permitimos abrir um breve parêntese...

Os relógios Junghans nasceram em 1861, da iniciativa do alemão Erhard Junghans e hoje são considerados um dos melhores do mundo, inclusive com a tecnologia atômica de deslize de apenas 1 segundo em 1 milhão de anos. Fechado este parêntese, voltemos à nossa história... Em 1960, o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira nomeou o professor Renato Locchi como professor catedrático interino da Disciplina de Anatomia Descritiva e Topográfica e em 1964, nosso velho relógio foi trazido para o Edifício Leitão da Cunha (onde estamos atualmente) e o outro exemplar encaminhado para a Sala de Comunicações da Escola.

Vale lembrar que o clássico Edifício Leitão da Cunha abrigou o almoxarifado da Escola, a Disciplina de Técnica Cirúrgica, a Disciplina de Parasitologia, a Disciplina de Anatomia Patológica, a Disciplina de Anatomia Descritiva e Topográfica, bem como a Diretoria e todo o setor administrativo. Com o passar do tempo e a evolução da própria Escola, toda a parte térrea do Edifício, antes rateada entre os citados, hoje é sede da tradicional Disciplina de Anatomia Descritiva e Topográfica.

Este nosso relógio, apesar da origem alemã, foi comprado e montado em Portugal em uma caixa especial de pinho de riga e viu durante todos este anos todas as turmas que por aqui passaram. Viu calouros se transformarem em médicos... viu assistentes se transformarem em titulares... viu jovens senhores se transformarem em senhores jovens... e na sua mansidão de um humilde tic-tac... assistiu a expansão vertiginosa da Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de São Paulo e uma das mais conceituadas em termos de ensino, pesquisa e assistência do mundo.

Sabemos que este relógio (com mais de 100 anos de vida, segundo o restaurador Fazio, do bairro de Moema, em São Paulo) ouviu e assistiu às magníficas aulas do lendário e inesquecível professor Renato Locchi... e seus toques metálicos, de hora em hora, eram o marcador natural da duração das aulas. Nosso velho Junghans não tem tecnologia atômica, não está conectado à internet, não é gerenciado por circuitos eletrônicos, mas do alto de sua imponência, de mais de 70 anos de Escola, sem pressa, assistiu e assiste gerações de ex-catedráticos e titulares se sucederem e hoje olha para o futuro... aguardando todas as novas turmas que virão e todos os novos desafios para o crescimento e engrandecimento da ‘gloriosa’ Escola.

Se recordarmos da Teoria da Relatividade de Albert Einstein, lembraremos que movimento e gravidade são fatores imprescindíveis que alteram a passagem do tempo. Aqui na Disciplina de Anatomia Descritiva e Topográfica, nosso velho Junghans entende estas grandezas físicas sob outro prisma: o movimento dos alunos, professores e funcionários e a gravidade (ou melhor dizendo, responsabilidade) em zelar por todos aqueles que aprenderam e se desenvolveram sob seu pêndulo.”

 

Este artigo faz parte do "Memórias do Campus São Paulo" - clique aqui para acessar outras postagens e conhecer este projeto.

 

 

 

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