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Quem cuida da mente, cuida da vida
10 de outubro, dia mundial da Saúde Mental
Infelizmente, o estigma sobre a saúde mental ainda é muito forte e a maioria das pessoas têm vergonha de suas lutas. As mesmas lutas que as tornam humanas. O dia 10 de outubro é o Dia Mundial da Saúde Mental. Um dia de sensibilização para a importância da saúde mental.
Todos nós sofremos, mas muitos têm vergonha de admitir. Esta vergonha impede a resposta adequada de nossa sociedade para lidar com o crescente impacto dos problemas de saúde mental. Se temos vergonha, a sociedade não implementa estratégias preventivas para doenças mentais, não investe no tratamento em larga escala. Isso é ainda mais problemático em países de renda baixa e média, como países latino-americanos, africanos ou asiáticos.
Saúde Mental e a Covid-19
Cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da saúde física.
A emergência global de saúde devido à Covid-19 é um evento sem precedentes que também impacta a saúde mental de milhões de pessoas. Medo, preocupação e estresse são respostas normais a ameaças percebidas ou reais, e especialmente quando nos deparamos com a incerteza ou o desconhecido. No contexto da pandemia Covid-19, os níveis de ansiedade, medo, isolamento, distanciamento social, incerteza e angústia emocional vivenciados se generalizaram à medida que o mundo luta para controlar o vírus e encontrar soluções.
Além do medo de contrair o vírus, do medo vivenciado por quem contrai a doença e da dor daqueles que perderam amigos e familiares pela Covid-19, as diversas mudanças em nossa vida diária intensificam ainda mais todo o sofrimento. Nossos movimentos estão restritos, estamos vivendo novas realidades do trabalho em casa, do desemprego temporário, da educação domiciliar dos filhos e da falta de contato físico com outros familiares, amigos e colegas. Boatos e desinformação sobre a pandemia e a incerteza sobre quanto tempo ela vai durar estão deixando as pessoas ansiosas e sem esperança quanto ao futuro.
Cenário da Saúde Mental
A atual pandemia mundial surgiu num cenário de saúde mental já complicado. Cerca de 450 milhões de pessoas vivem com transtornos mentais, e estes estão entre as principais causas de problemas de saúde e morbidade em todo o mundo (Relatório Mundial de Saúde da Organização Mundial da Saúde, 2001). Uma pessoa em cada quatro será afetada por um transtorno mental em algum estágio de suas vidas. A cada 40 segundos alguém morre por suicídio, o que representa mais de 800.000 pessoas por ano. Esse número é maior do que as pessoas que morrem por guerra e homicídio juntos. Para cada suicídio, há ainda um número muito maior de pessoas que tentam o suicídio todos os anos.
Com medidas concretas, baseadas em evidência científica é possível revolucionar a saúde mental do Brasil nos próximos anos.
O impacto econômico dos problemas de saúde mental também é gigantesco. O Fórum Econômico Mundial 2018 observou que os transtornos de saúde podem custar à economia global até US$ 16 trilhões entre 2010 e 2030 se os sistemas de tratamento não forem reestruturados. Esse quadro sombrio exige que a saúde mental seja priorizada agora mais do que nunca.
Não há mais espaço para vergonha e preconceito ao se falar sobre saúde mental. A academia, os atores políticos, os portadores de transtornos mentais e seus familiares e toda a sociedade devem somar forças para tornar a saúde mental uma prioridade de saúde pública.
Dez medidas pela Saúde Mental
1. Implementação de cuidados com a saúde física e mental da gestante e parceiro em protocolos básicos/obrigatórios de exames pre-natal;
2. Implementação de creches e pré-escolas que acomodem também as necessidades nutricionais, bem como as educacionais e cognitivas;
3. Implementação de programas de saúde mental nas escolas, promovendo habilidades socioemocionais;
4. Criação e implementação de espaços e projetos para a prática esportiva, artística, cultural e religiosa;
5. Mobilização dos órgãos públicos para a proibição de publicidade de bebidas alcoolicas;
6. Implementação de programans de prevenção a desfechos graves de transtornos mentais, como o suicídio, sem distinção de povos ou raça;
7. Implementação do cuidado a transtornos mentais comuns e não complicados na rede de atenção básica;
8. Implementação de programas de moradia assistida para pacientes vulneráveis sem suporte familiar;
9. Implementação de coleta sistemática de dados de saúde mental para melhorar a qualidade dos atendimentos prestados, fomentando cada vez mais a possibilidade de um diagnóstico precoce para a prevenção de doenças mentais;
10. Capacitar, incentivar e investir em profissionais e equipamentos indispensáveis aos cuidados prestados em protocolos de saúde mental.
Por Elson de Miranda Asevedo
Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Residência Médica em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Especialização em Dependência Química pela Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas da Unifesp e Mestrado em Psiquiatria e Psicologia Médica pela Unifesp. Médico do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) e diretor clínico do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (Caism/Vila Mariana).
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