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Estudo revela novos fatores de risco para demência e abre caminhos para prevenção no Brasil
Publicado na revista The Lancet, estudo elaborado por uma comissão da qual a pesquisadora Cleusa Ferri da Unifesp faz parte, aponta novos fatores de risco para a demência
Por Ligia Gabrielli
(Imagem ilustrativa)
No final de julho de 2024, a The Lancet publicou um estudo elaborado por uma comissão cujo único membro brasileiro é Cleusa Ferri, docente do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que aborda os fatores de risco para demência e apresenta novas perspectivas para a prevenção da doença, um problema de saúde pública.
A demência, um declínio cognitivo que afeta a memória, o pensamento e a capacidade de realizar atividades diárias, é uma das principais causas de incapacidade entre os(as) idosos(as). Estima-se que, até 2050, o número de pessoas vivendo com demência triplicará em todo o mundo, alcançando cifras alarmantes. No Brasil, onde a população idosa cresce rapidamente, os desafios são ainda maiores. Segundo um estudo anterior, coordenado pela professora Cleusa e sua equipe, cerca de 1,8 milhão de brasileiros(as) já vivem com demência, número que deve aumentar drasticamente nas próximas décadas.
O estudo conduzido pela comissão da revista The Lancet, do qual Cleusa Ferri faz parte, é um avanço na compreensão dos fatores de risco que podem ser modificados para prevenir ou retardar a demência. Na edição anterior desta publicação, foram identificados 12 fatores de risco que estariam bem estabelecidos na literatura (baixa escolaridade, hipertensão arterial, perda auditiva, tabagismo, consumo excessivo de álcool, obesidade, depressão, diabetes, sedentarismo, isolamento social, poluição e trauma crânio encefálico) e que mundialmente estes fatores responderiam por cerca de 40% dos casos. Em estudo anterior, também com a participação da professora Cleusa, viu-se que no Brasil estes 12 fatores de risco respondiam por 48% dos casos, ainda mais do que a média mundial. Nesta publicação de 2024, foram incluídos mais dois fatores (déficit visual e colesterol LDL alto), totalizando agora 14 fatores de risco bem estabelecidos na literatura, e aos quais podem ser atribuídos 45% dos casos no mundo.
A pesquisa também lança luz sobre a necessidade de políticas públicas eficazes que promovam a saúde mental e o envelhecimento saudável. "A prevenção da demência deve ser uma prioridade de saúde pública. Com a implementação de estratégias eficazes, podemos reduzir significativamente a incidência da doença, especialmente em países como o Brasil", afirma a professora.
Um dos pontos importantes do artigo é a sugestão de que, além dos fatores de risco tradicionais, como hipertensão e diabetes, condições sociais e econômicas também desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da demência. O isolamento social e o acesso limitado à educação foram identificados como fatores de risco importantes, tanto no estudo global como no estudo feito no contexto brasileiro.
Essas novas evidências trazem uma mensagem de esperança: a demência não é uma condição inevitável do envelhecimento. Com intervenções adequadas, é possível prevenir ou retardar seu início, melhorando a qualidade de vida das populações vulneráveis. Para a população brasileira, isso significa que, ao investir em educação, saúde e igualdade social, é possível reduzir o impacto da demência nas próximas gerações.
Além disso, o estudo ressalta a importância da colaboração internacional na pesquisa sobre demência. "A demência é um problema global cujas soluções têm que considerar as realidades de cada país, mas o compartilhamento de conhecimentos e experiências entre os países é muito importante para enfrentar esse desafio", destaca Ferri.
O artigo da revista The Lancet contribui para o avanço científico e gera implicações práticas importantes para a saúde pública no Brasil e no mundo. Ele reforça a necessidade de políticas públicas integradas que abordem tanto os fatores biológicos quanto os sociais que contribuem para a demência, propondo uma abordagem multidimensional para a prevenção.
Com essa compreensão dos fatores de risco para demência, o Brasil tem a oportunidade de liderar iniciativas que possam transformar o cenário do envelhecimento no país.
"Esta publicação é um chamado à ação. Precisamos reconhecer que a demência pode ser prevenida ou adiada, e o Brasil tem o potencial de implementar mudanças que façam uma diferença real para as gerações futuras”, conclui Ferri.
Com uma visão integradora que considera tanto os aspectos biológicos quanto os sociais, esta publicação se estabelece como uma referência para todos(as) aqueles(as) que buscam entender e combater a demência em seus diversos aspectos.
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