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Boca e olhos secos? Isso pode ser síndrome de Sjögren
Saiba tudo sobre a doença autoimune que afeta as glândulas produtoras de lágrimas e saliva, causando secura nos olhos e na boca
Fonte: Sound Health and Lasting Wealth
Sintomas
Os sintomas dependem da intensidade da doença, variando de sintomas leves a quadros mais intensos. Pode haver sintomas gerais, como astenia, fadiga, febrícula, dores articulares e falta de apetite. Porém, as manifestações clínicas mais características e mais frequentes são decorrentes da falta de saliva e lágrima.
A saliva auxilia na deglutição e fala, protege a gengiva e os dentes, ajudando também a combater microrganismos nocivos. A diminuição na quantidade e qualidade da saliva favorece mudança na flora bacteriana da boca, desenvolvimento de gengivite, candidíase oral (sapinho) e cáries dentárias. Pode ocorrer também dificuldade para engolir, sensação de queimação na boca e mau hálito.
A lágrima é importante para nutrição da conjuntiva e córnea, lubrificação do olho e remoção de pequenas partículas, além de ter função antimicrobiana. Com a diminuição da quantidade e qualidade da lágrima, ocorre vermelhidão, coceira, sensação de queimação e de corpo estranho no olho e visão embaçada.
O quadro de olho seco (xeroftalmia) e boca seca (xerostomia) é conhecido como síndrome seca, ou síndrome sicca. É importante salientar que há outras causas comuns de diminuição da secreção salivar e lacrimal, como idade avançada, uso de medicamentos (antidepressivos, anti-hipertensivos), distúrbios hormonais e clima seco.
Ademais, pode haver acometimento de glândulas sudoríparas e sebáceas da pele, ocasionando ressecamento cutâneo com prurido (coceira). O comprometimento das mucosas pode levar a secura das vias aéreas, acarretando tosse seca persistente e maior suscetibilidade a infecções. Pode haver também ressecamento vaginal, levando a irritação, prurido e dor à relação sexual (dispareunia).
A infiltração das glândulas salivares pode aumentar o volume das glândulas parótidas, ocasionando um inchaço na região do rosto logo a frente das orelhas, semelhante ao que ocorre na caxumba. Pode haver também aumento de volume dos linfonodos, ocasionando quadros semelhantes a “ínguas”, porém em geral não dolorosos.
Há formas mais graves da doença, com envolvimento de órgãos internos, vasos sanguíneos e nervos. Pode ocorrer invasão de linfócitos nos pulmões, ocasionando tosse e progressiva falta de ar. Alguns pacientes apresentam inflamação de pequenas articulações das mãos e punhos, com aumento de volume e dor. Também podem ser acometidos nervos periféricos, ocasionando quadros de dormência ou sensação de queimação nos pés, pernas, mãos e braços. Na pele podem ocorrer pequenas e numerosas manchas que se assemelham a picadas de pulga, principalmente nas pernas, e que refletem a inflamação de pequenos vasos sanguíneos da pele. Em alguns casos os linfócitos podem se acumular no tecido renal, provocando alterações na função renal.
Associação com outras doenças
Em alguns casos, a síndrome de Sjögren está associada a outras doenças reumáticas sistêmicas, como a artrite reumatóide, lúpus ou esclerodermia, ampliando o conjunto de sintomas dos pacientes. Pode também estar associada a doenças inflamatórias da tireoide (tireoidite de Hashimoto) e fígado (colangite biliar primária, hepatite autoimune). Uma pequena fração dos pacientes pode apresentar proliferação descontrolada de linfócitos, invadindo linfonodos e vários órgãos, com transformação para linfoma.
Por apresentar possibilidade de manifestações variadas, mais leves ou mais graves, os pacientes devem ser cuidadosamente monitorados mediante consultas e exames periódicos. Dessa forma, eventuais complicações podem ser identificadas e tratadas precocemente.
Tratamento
Não há tratamento curativo no momento, por não conhecermos a causa da doença. É importante evitar fatores de agravamento da secura e utilizar medidas para melhorar a hidratação da pele e mucosas. Para os olhos, recomendam-se colírios de lágrima artificial várias vezes ao dia. Óculos grandes e curvos podem ser úteis, ao criarem uma proteção contra a evaporação da lágrima. Para a boca, é fundamental uma higiene dental redobrada para evitar a proliferação bacteriana e as cáries. Consultas frequentes ao dentista são necessárias. Hidratação frequente em pequenas quantidades é útil para manter a boca úmida. Medicamentos que estimulam a secreção de saliva e lágrimas têm ação limitada, mas podem ajudar alguns pacientes. Para a pele, recomenda-se o uso de cremes hidratantes, bem como gel para o ressecamento vaginal. Nos casos mais graves, com envolvimento de vários órgãos, são utilizados medicamentos sistêmicos, como imunossupressores e imunomoduladores.
Luís Eduardo Coelho Andrade
Professor da Disciplina de Reumatologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina - EPM/Unifesp
É graduado em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (1980), tem residência em Medicina Interna pelo Hospital das Clínicas da FM-USP de Ribeirão Preto (1982) e especialização em Reumatologia pela Escola Paulista de Medicina (1984). Tem doutorado em Medicina (Reumatologia) pela Universidade Federal de São Paulo (1987). Tem pós-doutoramento em Biologia Molecular dos Autoantígenos pelo Scripps Research institute (1989-1991). É Livre Docente pela EPM/Unifesp desde 1995. Tem título de especialista em Reumatologia pela SBR em 1984 e em Patologia Clínica pela SBPC em 2005. É Professor Associado na Disciplina de Reumatologia da Universidade Federal de São Paulo e chefe do Laboratório de Imuno-Reumatologia nessa instituição. É membro da Comissão de Laboratório da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Entre 2010 a 2015 foi presidente do Comitê de Padronização de Autoanticorpos, subcomitê da IUIS (International Union of Immunology Societies). Desde 2014, é coordenador do International Consensus on ANA Patterns (ICAP). Desde 2011 é membro do European Autoantibody Standardizing Initiative (EASI). Tem sido membro do Comitê Assessor da Medicina II na CAPES por sucessivas rodadas nas décadas de 1990, 2000, 2010 e atualmente. Foi coordenador da Área Saúde I da FAPESP no período de 2011 a 2018. Em 2017 assumiu o cargo de Chairman do Quality Assessment and Standadization Committee da IUIS. É Consultor Médico em Imunologia e Reumatologia no Laboratório Fleury. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Reumatologia, atuando principalmente nos seguintes temas: auto-anticorpos, estudo in vivo da microcirculação, polimorfismo gênico, expressão gênica, fisiopatologia das doenças autoimunes, interface entre imunodeficiência e autoimunidade, esclerose sistêmica, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren, doenças reumáticas autoimunes e artrite reumatoide.
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