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Desafios enfrentados para uma assistência mais segura
15/05 celebra o Dia Nacional do Controle das Infecções Hospitalares
As infecções hospitalares, atualmente denominadas infecções relacionadas à assistência à saúde, constituem-se em grave problema de saúde pública, principalmente em países em desenvolvimento.
O dia 15 de maio é celebrado com o Dia Nacional do Controle das Infecções Hospitalares. A data, instituída pela Lei nº 11.723/2.008, tem o objetivo de conscientizar autoridades sanitárias, diretores de hospitais, trabalhadores de saúde e a população em geral sobre a importância do controle das infecções hospitalares.
Elas estão entre as principais causas de morbidade e de mortalidade e determinam aumento no tempo de hospitalização e consequentemente elevado custo adicional para o tratamento do paciente. Este tema torna-se mais relevante durante a pandemia de Covid-19, pois a transmissão do novo coronavírus envolve tanto os pacientes como trabalhadores da saúde, além da emergência das infecções secundárias, durante a internação, por microrganismos multirresistentes.
A criação da data e a higiene das mãos
A data foi escolhida em homenagem a luta do médico obstetra Ignaz Semmelweis que defendeu a prática de higienizar as mãos com hipoclorito de cálcio como uma atitude obrigatória para os médicos e estudantes, em maio de 1847, no Hospital Geral de Viena. Na época, as enfermarias deste hospital, onde os partos eram realizados por médicos e estudantes de Medicina, tinham o triplo da mortalidade das enfermarias da obstetrícia, onde os partos eram realizados pelas parteiras. O húngaro acompanhou detalhadamente o impacto da higiene das mãos, fez gráficos, analisou e publicou o impacto desta medida em seu livro "Etiology, Concept and Prophylaxis of Childbed Fever" , em 1861.
Semmelweis observou uma importante redução na taxa de mortalidade das puérperas que desenvolviam infecção grave, após a implantação da higiene das mãos. Ele relacionou as mortes das puérperas com as mãos dos médicos e estudantes que eram contaminadas por “partículas cadavéricas” na sala onde estudavam peças anatômicas no início das manhãs, antes de irem realizar os partos. Na época não se conhecia a teoria microbiológica das doenças, posteriormente comprovadas por Louis Pasteur, Ferdinand Cohn e Robert Koch.
O processo de coletar sistematicamente dados, analisar e instituir medidas de prevenção ainda é a forma mais eficaz de controle de surtos de infecções hospitalares. Além disso, a importância por ele dada às mãos dos profissionais de saúde como meio de transmitir patógenos de um paciente para outro continua válida. Infelizmente, como século XIX, os médicos e demais profissionais de saúde ainda necessitam ser lembrados constantemente para lavar suas mãos antes e após o contato com os pacientes.
Siga as etapas acima para garantir que todas as partes das suas mãos estejam limpas. (Crédito: ComunicaSP)
Desafios para uma assistência mais segura
As múltiplas carências e desigualdades regionais que passam as instituições de saúde brasileiras, principalmente as públicas, com a falta de recursos humanos e materiais, tornam extremamente difícil a implantação de medidas eficientes no controle das infecções hospitalares.
Apesar de muitos esforços das sociedades científicas e organizações governamentais como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ainda vivemos em uma realidade adversa daquilo que consideramos satisfatório.
No Brasil, existem grandes diferenças regionais nas práticas de prevenção e controle das infecções hospitalares, carência de infraestrutura das instituições e falta profissionais capacitados. Estas diferenças também são econômicas, sociais e culturais e atuam diretamente na qualidade dos serviços de saúde, especialmente nos programas de controle de infecção.
Na atual pandemia de Covid-19, o papel dos profissionais que atuam na prevenção e no controle das infecções ganha ainda mais relevância, especialmente os médicos e enfermeiros dos Serviços de Controle de Infecção Hospitalar. Isso porque são os responsáveis pela coordenação de todo o processo de prevenção da transmissão de doenças nos serviços de saúde brasileiros.
A ocorrência de uma infecção hospitalar não indica, necessariamente, que o hospital ou sua equipe tenha cometido um erro ou imprudência na assistência prestada ao paciente. As medidas preventivas atuais não conseguem evitar muitas infecções. A responsabilidade legal, com relação à infecção no ambiente hospitalar, ocorre quando é possível ser demonstrado que a equipe assistencial ou os responsáveis pela instituição foram negligentes no cumprimento dos padrões apropriados de prevenção e tratamento e que a infecção resultou de desempenho incompatível com os padrões vigentes de qualidade assistencial.
Um dos mais graves problemas que atingem os hospitais brasileiros é a emergência de microrganismos multirresistentes. O foco do controle da resistência microbiana está na prevenção das infecções e na gestão do uso adequado de antimicrobianos, especialmente no ambiente hospitalar. São raras as instituições que promovem trabalho consistente de prevenção da resistência microbiana.
O paciente como centro da assistência segura
(Crédito: Medicina S/A)
No atual cenário de crise sanitária da Covid-19, é fundamental valorizar os programas de prevenção e controle de infecção hospitalar, tendo como princípios o conhecimento científico, a ética, a empatia e colocando o paciente como centro da assistência segura.
O Brasil precisa repensar o seu Programa de Controle de Infecção Hospitalar. Por um lado, torna-se necessário maior compromisso dos poderes públicos municipais, estaduais e federal, tanto com a administração dos hospitais, visando maior qualidade e segurança da assistência ao paciente, quanto pela aplicação da legislação para implantação de Serviços de Controle e Prevenção de Infecções Hospitalares com profissionais capacitados.
De outro lado, torna-se necessário ampliar os programas de formação dos profissionais de prevenção e controle das infecções hospitalares, pois, em muitas instituições, trabalham o dia a dia carentes de conceitos básicos. Fato comum, em diversos hospitais, é a falta de apoio administrativo para garantir a aplicação e a eficácia das medidas de prevenção. Medidas simples, como manter pias em condições de uso com sabão e papel toalha de boa qualidade, aventais descartáveis, luvas e máscaras são negligenciados pelos administradores hospitalares, bem como manter a qualidade da água e do ar. Outro ponto importante é a incorporação de disciplinas e conteúdos curriculares sobre epidemiologia hospitalar nos cursos de formação de profissionais de saúde.
Autores
Dayana Souza Fram
Enfermeira Doutora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Paulo, hospital universitário da Universidade Federal de São Paulo (HSP/HU Unifesp). Outras informações, clique aqui.
Eduardo Alexandrino Servolo Medeiros
Professor associado da Disciplina de Infectologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) e presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Paulo (HSP/HU Unifesp). Outras informações, clique aqui.
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