Inquérito conduzido por docentes da Unifesp revela disparidades socioeconômicas e destaca a...
Muda perfil de doadores de corpos: pessoas têm procurado mais essa alternativa
Diminui o cadáver de indigente e mais familias procuram as Escolas Médicas
Por Renato Conte
Já faz algum tempo que as faculdades de Medicina vêm chamando a atenção na dificuldade em conseguir doadores de corpos para estudos. Magno Vieira, 59, biólogo e professor de Anatomia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) há 33 anos, afirma que qualquer pessoa pode ser doador e não há limite de idade. A única regra é que a morte tenha ocorrido por causas naturais. "Todo o ritual, da doação dos órgãos ao velório pode ser realizado antes da família enviar o corpo para a faculdade", explica. "Mas, uma vez entregue, não é possível mais visitar o parente nem levar flores, por exemplo."
Um corpo doado pode ser utilizado por mais de 50 anos. Quando não tiver mais condições, ele (ou parte dele) é enterrado em um cemitério municipal. Os familiares são convidados a participar, no dia 31 de julho, de uma cerimônia ecumênica em homenagem ao cadáver, que é celebrada no Laboratório de Anatomia Descritiva na EPM/Unifesp.
Caso haja a vontade e a decisão de ser um doador, a pessoa precisa preencher um documento (leia abaixo), assiná-lo, reconhecer firma em cartório e, depois, entregar o formulário original na faculdade escolhida. É imprescindível comunicar esse desejo aos familiares.
A lei 8.501, de 1992, e o artigo 14 da lei 10.406, de 2002, regulamentam a doação de cadáver para ensino e garantem que o corpo será utilizado apenas para esse fim. Também garantem o direito da pessoa voltar atrás e revogar a resolução em qualquer momento.
Abaixo, seguem alguns esclarecimentos sobre as principais dúvidas e a importância de ser um doador de corpo.
1) Com a falta de corpos, quais os riscos para as escolas médicas darem prosseguimento ao ensino?
Magno Vieira: Sem o cadáver, o ensino de Anatomia seria comprometido, pois é por meio dele que o aluno tem o primeiro contato com o corpo real de um ser humano, reconhece as estruturas e suas relações regionais, bem como as camadas do corpo. É no Laboratório de Anatomia que os futuros médicos e enfermeiros começam a desenvolver o respeito ao corpo, a relação médico/paciente e, acima de tudo, é o contato mais próximo entre vida e morte. Muitas escolas médicas já utilizam modelos de partes do corpo humano e software no ensino de Anatomia, que considero como complemento do ensino e não como substituição ao cadáver.
2) Na EPM já se utiliza de tecnologia para compensar uma possível falta?
MV: Não utilizamos nenhuma tecnologia. Nosso objeto de estudo continua sendo o cadáver. Por esse motivo, é importante esclarecer sobre doação de corpos, pois acreditamos que será, em curto prazo de tempo, a saída para a obtenção de material cadavérico para o estudo de Anatomia.
3) Por que estamos com mais dificuldades de doadores na cidade de São Paulo? Como podemos melhorar isso?
MV: As dificuldades, acredito, estão associadas ao desconhecimento, questões religiosas e familiares e preconceito. Para mudarmos esse cenário, precisamos de uma campanha ostensiva, se possível, na mídia televisiva e escrita, bem como, veicular em redes sociais o programa de doação de corpos da EPM/Unifesp, convidando as pessoas a visitarem o site e esclarecerem as dúvidas sobre o assunto.
4) Os parentes não respeitam o pedido/desejo do doador?
MV: Os familiares têm toda a liberdade para escolher, ou seja, seguir com a doação ou sepultamento/cremação. No entanto, apesar de não sabermos se um potencial doador veio a óbito, percebemos que os familiares têm respeitado o desejo de seu ente e a doação se concretiza.
Acesse este link e conheça as regras para ser um doador: http://dmorfo.sites.unifesp.br/index.php/informes-2/27-programa-de-doacao-de-corpo
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