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Obesidade Infantil

Publicado: Sexta, 12 de Junho de 2020, 09h09 | Última atualização em Terça, 05 de Janeiro de 2021, 08h37 | Acessos: 57068

Um dos distúrbios nutricionais mais prevalentes entre crianças e adolescentes

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Por Maria Arlete Meil Schimith Escrivão

É uma doença com etiologia multifatorial e que resulta da associação de fatores genéticos e ambientais, como hábitos alimentares inadequados e estilo de vida sedentário. O fácil acesso aos alimentos industrializados com alta densidade energética, o aumento no tamanho das porções, principalmente dos fast foods, a redução da atividade física e o maior tempo gasto com atividades sedentárias contribuíram para a elevação do número de indivíduos obesos no mundo, atingindo todas as idades e todos os níveis socioeconômicos.

Na população brasileira também houve, nas últimas décadas, mudança significativa na condição nutricional, com ascensão do sobrepeso e da obesidade e declínio do déficit de peso. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada no Brasil em 2008/2009, revelaram que 33,5% das crianças de cinco a nove anos e 21,5% dos adolescentes (10 a 19 anos) estavam com excesso de peso.

As crianças e os adolescentes obesos precisam ser identificados e controlados precocemente. Com o passar do tempo, há piora do grau do excesso de peso e o aparecimento das comorbidades, como as alterações do colesterol, dos triglicérides, da glicemia e pressão arterial, além dos problemas psicossociais provocados pelo estigma da obesidade. As crianças obesas costumam receber apelidos pejorativos, são segregadas para as práticas esportivas por serem mais lentas, sofrem bullying na escola e os adolescentes obesos podem apresentar quadros depressivos.

Crianças e adolescentes com obesidade têm grande chance de persistirem obesos na fase adulta, com diminuição da expectativa de vida, devido ao aumento da morbimortalidade por doenças cardiovasculares, diabetes, entre outras patologias associadas ao excesso de peso.

O aumento expressivo da prevalência de obesidade, a gravidade das suas consequências, as dificuldades para o seu controle e o alto custo para a sociedade fazem desse distúrbio nutricional relevante problema de saúde pública, que necessita ser combatido desde a infância.


A prevenção da obesidade infantil pode ser feita a partir dos cuidados primários de saúde, tendo o pediatra papel de destaque ao realizar o monitoramento do peso e da estatura da criança. Quando for verificado aumento excessivo de peso em relação à estatura em uma criança, especialmente com pais obesos, deve ser realizada adequada orientação nutricional com o objetivo de evitar o desenvolvimento da obesidade, pois, uma vez instalada, fica muito mais difícil a reversão do quadro. Também cabe ao pediatra a promoção do aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida e complementado até dois anos ou mais, que protege contra o desenvolvimento do excesso de peso, a introdução correta dos alimentos complementares, assim como a observação de distúrbios da relação mãe-filho e da dinâmica familiar, os quais, muitas vezes, interferem na esfera alimentar e contribuem para a instalação e manutenção da obesidade na infância.

A participação ativa da família é fundamental no sentido de propiciar hábitos alimentares adequados, oferecendo à criança uma alimentação saudável, com maior disponibilidade de frutas, legumes e verduras e redução do consumo de alimentos com quantidades elevadas de açúcar, sal, gorduras e de bebidas com baixo valor nutricional, como refrigerantes e sucos artificiais. Fazer as refeições com as crianças, ser modelo de consumo de alimentos saudáveis, observar sinais de fome e saciedade dos filhos e não realizar trocas afetivas exclusivamente por meio da alimentação são importantes recomendações aos pais. A família deve modificar o comportamento sedentário, estimulando a criança para ter estilo de vida mais ativo. A troca de atividades sedentárias (tempo gasto com TV, videogame, computador, tablet, celular) por brincadeiras ao ar livre, caminhadas, andar de bicicleta, com o envolvimento dos pais, precisa ser incentivada.

As intervenções em escolas também fazem parte das estratégias para o controle da obesidade infantil, com a vantagem de a escola já possuir uma estrutura organizada e de ser atingido grande percentual da população a custo baixo. O tempo de permanência dos alunos na escola é longo e, nela, eles fazem uma ou duas refeições ao dia durante cinco dias da semana. Destaca-se ainda o fato de o escolar ser um potencial agente de mudança na família e na comunidade onde está inserido. Os modos de intervenção em escolas incluem a introdução no currículo escolar de matérias que forneçam informações sobre saúde, alimentação, nutrição, vantagens do exercício físico; atuação junto às lanchonetes ou à merenda oferecida pela escola, assegurando maior oferta de alimentos saudáveis, e a promoção de práticas esportivas.   

Podemos citar outras intervenções importantes para a prevenção da obesidade, como a regulação do marketing de alimentos não saudáveis, principalmente voltado para o público infantil, melhora da rotulagem dos produtos alimentícios, taxação de alimentos não saudáveis, mudanças na infraestrutura urbana para promover transporte ativo e aumentar espaços para recreação.

 

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Intervenção: mudar rotulagem dos alimentos

As estratégias para o controle da obesidade necessitam da atuação de toda a sociedade (família, escola, órgãos governamentais, indústria alimentícia, sociedades científicas, mídia), com o objetivo de modificar o ambiente "obesogênico", que favorece a instalação do excesso de peso em indivíduos geneticamente predispostos.

 

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Maria Arlete Meil Schimith Escrivão

Mestre e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); pediatra com área de atuação em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP); responsável pelo Setor de Obesidade da Disciplina de Nutrologia do Departamento de Pediatria da Unifesp; orientadora do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Unifesp; coordenadora do Grupo de Trabalho sobre Prevenção da Obesidade Infantil do Departamento de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Mais informações em: Lattes

Unidade Assistencial da Disciplina de Nutrologia do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina EPM-Unifesp

Rua Morcote, 84
Vila Clementino - São Paulo - SP
Fone: (11) 5571-9189

 

Referência Bibliográfica

Escrivão MAMS, Liberatore Jr. RDR, Silva RRF. Obesidade no paciente pediátrico: da prevenção ao tratamento. São Paulo: Atheneu; 2013.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010.

Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Nutrologia. Manual de Orientação - Obesidade na infância e adolescência. 3ª ed. São Paulo: SBP; 2019.

 

 

 

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