Atuando desde 1998, o Laboratório de Pesquisa da Disciplina de Infectologia Pediátrica realiza...
Prof. Dr. Azarias de Andrade Carvalho
Prof.Dr. Azarias de Andrade Carvalho
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Nasci em Araraquara (SP) em 19.07.1915.Diplomei-me em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil (Praia Vermelha- RJ.) em 1938.Estagiei, como acadêmico, no Serviço de Pediatria da Policlínica de Botafogo - RJ. (Cátedra deClínica Pediátrica - Prof. Luís Pedro Barbosa e Álvaro de Aguiar) em 1938.Em 1939, ingressei como médico (assistente voluntário) na Cátedra de Pediatria e Puericulturada Escola Paulista de Medicina e, no ano seguinte, ocupei o cargo de assistente efetivo.A Pediatria da Escola Paulista de Medicina (EPM) era dirigida pelo Prof. Pedro de Alcântara,diretamente auxiliado por J. Renato Woiski, futuro professor em dedicação exclusiva naFaculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-FM USP- em Ribeirão Preto.Em 1947, acompanhei o Prof. Pedro de Alcântara que assumiu a chefia da Pediatria na FM daUSP, onde ocupei o cargo de Assistente.Em 1956, titulei-me, em concurso público, Livre-Docente em Pediatria na mesma Faculdade.Em 1958, após o pedido de afastamento definitivo do Prof. Pedro de Alcântara da EPM, naépoca acumulando as Cátedras de Pediatria da EPM, da FM USP e da Faculdade de Higiene daUSP, fui convidado pela Congregação da EPM a assumir, interinamente, a chefia da Pediatria.Em 1963, titulei-me em Concurso Público, Prof. Catedrático de Pediatria e Puericultura e fuiconfirmado na chefia da respectiva Cátedra.Exercí a direção da Pediatria e Puericultura a partir de 1958, por indicação da Congregação.A partir da organização departamental da EPM, a direção dos Departamentos passou a sereleita pelo Conselho de Departamento, tendo eu sido eleito e reeleito até 1979, quando deixeide candidatar-me, dando oportunidade aos docentes mais jovens, mais ativos e maisentusiasmados. Logo a seguir aposentei-me antes da idade compulsória - 15-04-1982 - evoltei a ocupar a posição confortável e gratificante de docente voluntário desta Escola amiga,posição esta que exerci no início de minha carreira universitária e que até hoje exerço comprazer e satisfação.Inicialmente, como recém formado e inexperiente pediatra, liguei-me à Pediatria da EPM, coma aspiração de exercer uma pediatria clínica de alto gabarito, como meio de sobrevivência, jáque a remuneração na EPM (escola particular) era simbólica e raros eram os empregos médicos, públicos ou particulares.Pouco pensava em carreira universitária. O ambiente envolvente, estimulante e amigo na EPM,particularmente na Pediatria e de seu corpo docente - Prof. Pedro de Alcântara, Renato Woiski,Oswaldo Riedel de Souza e Silva, Lauro Machado de Oliveira e outros e, também do Departamento de Pediatria da Associação Paulista de Medicina, ao qual me associara, queconglomerava os líderes da Pediatria de São Paulo e era o único local onde se realizavamreuniões especializadas, levaram-me, sensivelmente, à inclinação pelo estudo e ensino dosproblemas relacionados à saúde da criança e, naturalmente, à nobre carreira universitária, tãoestimulante.Ao retornar da FM USP., após ter defendido a Livre–Docência e onde deixei uma plêiade deamigos e bons colegas, dediquei – me de corpo e alma à reestruturação da já destacadaPediatria da Escola Paulista de Medicina, em fase de transformação em Departamento.Poderia, e cheguei a ser estimulado por um colega, permanecer nas duas faculdades, EPM eFM USP já que era nomeado e remunerado nas duas, o que era relativamente comum. Pensei enão optei por esta decisão, tendo preferido dedicar-me, exclusivamente, à EPM. Consta, o queacredito não ser real, dada à estirpe das pessoas da Pediatria da FM USP, que eu, como Prof.Livre-Docente e, pelo trabalho que lá desenvolvi, poderia ser um empecilho aos sonhos políticouniversitários tão comuns naquela época e vir a concorrer, no futuro, à catedra na FM USP,prejudicando naturais aspirações de outros competidores. Acredito que não tenha sido verdadee foi para mim uma sorte ter me dado tão bem aqui.Na ocasião, a EPM havia recebido vultoso subsídio da Fundação Rockfeller, mas a Pediatria nãoestava estruturada para defender o que merecia. Assim mesmo, recebeu algum material everba para estágio de dois bolsistas nos Estados Unidos. Foi uma pena, porque necessitava emerecia muito mais.Até hoje, tenho excelente recordação da recepção amiga e entusiasta dos docentes que aquiatuavam e que constituíram a base para formação dos novos docentes, a partir dos numerososrecém-formados que nos procuravam e que hoje brilham nas diversas Disciplinas ou Setoresde nossa Escola.A orientação dada por mim, na reestruturação da Pediatria, foi fruto da experiência docenteacumulada anteriormente, dos ensinamentos dos Professores Pedro de Alcântara e Woiski, daampla análise do Ensino da Pediatria na América Latina realizada pela OPAS, incluindo todo oBrasil, efetuada por Wegman, Hughes e Puffer e nas conclusões sobre o Ensino da Pediatria,fruto do amplo estudo apresentado na "I Conferência sobre Ensino da Pediatria no Brasil",realizado em Quitandinha - Petrópolis - 1962, com a presença da totalidade dos Professores dePediatria e dos mais ilustres pediatras do Brasil, por iniciativa e presidência do Prof. Woiski etotal patrocínio da Nestlé do Brasil, dirigida, na ocasião, pelo brasileiro Oswaldo Ballarin. Woiskiinspirou-se nos estudos que a ABEM (Associação Brasileira de Escolas Médicas) vinharealizando em sucessivos Encontros sobre o ensino da Medicina e, sobretudo da Clínica Médicano Brasil.O Ensino de Pediatria nas Escolas Médicas da América Latina, raramente ultrapassavam 200horas por aluno e, em 6 escolas, nem o ensino de Pediatria existia. Na Escola Paulista deMedicina, eram dadas 168 horas de aula por alunoMuito lucraram com estes estudos da OPAS, de Petropólis e da ABEM, as inúmeras escolasmédicas que se implantaram sucessivamente e, principalmente na estruturação dosDepartamentos de Pediatria.A luta junto à Congregação para esclarecer a necessidade de atenção à saúde da criança queapresenta peculiaridades especiais, diferentes das do adulto e que devem ser integradas nopreparo do médico, não foi tranqüila em face do destaque que, na época, davam aosproblemas e às patologias do adulto, menosprezando a das crianças e dos jovens, que algunsresumiam, jocosamente em mamadeira, diarréia e birras. Esqueciam-se ou não tomavam emconsideração que, no Brasil, os menores de 15 anos, os futuros adultos representavam maisde 45% da população e a mortalidade Infantil oscilava entre 100-200/1000, chegando, emmuitas regiões a bem mais. Como fruto desta luta e, naturalmente da conscientizaçãoprogressiva da Congregação e do espírito vanguardeiro que reinava na Escola Paulista deMedicina, houve renovação curricular com aumento substancial na carga horária dedicada aoensino na Pediatria e, com isto, oportunidade para melhor aproveitamento dos ensinamentosministrados pelos bons docentes que possuíamos. O ensino da pediatria iniciou-se na quartasérie e o sexto ano transformou-se em Internato.Na ocasião da implantação de Disciplinas e novos Titulares foi com dificuldade e com objeçãode alguns catedráticos que consegui, dada à estrutura curricular tradicional da Escola Paulistade Medicina, a implantação de 3 Disciplinas na Pediatria (Pediatria Clínica, Puericultura -Pediatria Social e Neonatologia) e vagas para 3 titulares mediante concurso (BenjamimKopelman, Fernando José de Nóbrega e Benjamin Schmidt). A oportunidade de acesso nacarreira universitária é um dos estímulos permanentes aos jovens que nela ingressam.Um dos pontos difíceis, foi a reconquista do direito dos docentes da Pediatria de assistirem osrecém-nascidos. Por desavenças anteriores, não podiam ingressar no Berçário, domínioabsoluto da Cátedra de Obstetrícia. Com paciência, calma e mesmo humilhação, conseguimosautorização para tal, mas só oficializada pela Congregação após o afastamento do catedráticode Obstetrícia, excelente Professor e profissional, mas defensor intransigente de suas idéias.Acompanhando a evolução da Pediatria na Escola Paulista de Medicina, foram implantados,sucessivamente, o Internato, a Residência, o Mestrado e o Doutorado. A Pós-Graduação "sensustrictu" na Pediatria, foi a segunda ou terceira a ser implantada na área clínica na EscolaPaulista de Medicina e, a quarta, no Brasil.Os recém formados daquela época que ingressaram na nossa Pediatria, embora, sem aomenos o Internato, pois este não existia, integram, hoje em dia a nata da Pediatria Nacional emesmo fora do Brasil e se engrandecem com os númerosos e excelentes docentes epesquisadores que se formaram e estão se formando e que foram, no correr dos anos seusdiscípulos.Para estímulo à docência, a presença entre nós, por um bom período, do Prof. Nelson Ordway,da Yale -University, excelente pediatra e professor, foi uma ótima experiência. Mostrou aosalunos, na época imbuídos de um nacionalismo patológico, que o bom exame clínico da criançaera a base de uma boa Pediatria. Pelo seu trabalho diuturno, granjeou rapidamente aadmiração e o respeito dos alunos.O estágio de docentes no exterior, como bolsista da Rockfeller, foi frustrante, pois após dois atrês anos de estágio nos Estados Unidos, se desligaram de nós, um, fixou-se nos EstadosUnidos e o outro, dedicou-se aqui, em atividade particular. Posteriormente, outros, no geralpor esforço próprio, conquistaram estágios no exterior e ao retornar aqui se fixaram e setornaram líderes na carreira docente.A chefia de departamento deve, o que procurei fazer, atuar ativamente nos colegiados daInstituição, para defender as necessidades de seu Departamento no que se refere àassistência aos doentes, ao ensino e à pesquisa e, ídem aos docentes, alunos, funcionários,sabendo compreender e respeitar as possibilidades e dificuldades da Instituição como um todo.Julgo que elemento fundamental para progresso e boa evolução do Departamento de Pediatriaé a chefia manter-se atualizada, dentro do possível, o que não é fácil, em face da evoluçãogalopante da ciência e da medicina e das exigências sociais, e possa compreender anecessidade da subdivisão progressiva de seus setores, sem perder a noção de que a saúde da criança deve ser encarada de maneira global em seus aspectos físicos, psico emocionais esociais e nunca numa parte exclusiva de seu corpo, ou como elemento isolado da família e dasociedade.A especialização e super-especialização precoces, frutos freqüentes do entusiasmo e dafantasia do jovem e, muitas vezes, estimulada, pelo mercado de trabalho e/ou pelo sonho derecompensa menos exaustiva, sem que tenha preparo básico e devido em relação à pediatriageral, não devem ser estimuladas, embora exceções existam.Foi dada ênfase à freqüência dos alunos ao ensino nos ambulatórios e nos atendimentos deemergência, evitando a supervalorização do ensino nas enfermarias.Para ampliar a visão do futuro médico, especialmente o da criança, foi implantado o programaDocente Assistencial na Comunidade do Embu, em convênio com a Prefeitura Local, o Governodo Estado e auxilio da Fundação Kellog, dando oportunidade aos alunos e aos docentes desentirem as necessidades e as dificuldades médico - sociais para manter a boa saúde dacriança e da família, distante daquela habitualmente encontrada em Hospital, principalmenteUniversitário, e como resolvê-los.Com a implantação do Internato, foi realçado o trabalho nos ambulatórios, mas o equilíbriopara o preparo de um Pediatra só se realizou com Residência.Já aposentado, mas desejoso de continuar a desfrutar o bom convívio da EPM, e poder ser útilde alguma maneira, aceitei, em 1984, o encargo de aglutinar os jovens médicos, estudantes,psicólogos, enfermeiras, assistentes sociais da Pediatria, em intercâmbio com outrosDepartamentos ou Disciplinas interessados em dar apoio e assistência aos adolescentes numSetor especializado para tal. Serveria de base para desenvolver o ensino e a pesquisa emrelação aos problemas médico sociais nesta fase da vida, problemas que vem preocupando asociedade e a medicina em particular, pelo incremento da morbidade e mortalidade nesta fasetão importante da vida.Vejo com satisfação, embora sem participar diretamente, o progresso crescente e sólido dasDisciplinas e da Pós- Graduação em Pediatria e da nossa Pediatria em geral.Não obstante, vejo com preocupação o desenvolvimento da especialização e super -especialização na área pediátrica, indiscutivelmente necessárias e atraentes, masdispendiosas, invadirem, de maneira generalizada, a medicina para nossas crianças, muitasvezes exercida por especialistas, médicos e não médicos, precocemente preparados, sem aformação básica em relação ao conhecimento da criança como um todo em seus aspectosorgânicos, psico-emocionais e sociais, assistindo-a como se fosse o fragmento de um todo ouum ser desvinculado da família e da sociedade.No meu entender, pediatras de boa formação, com oportunidade de atualizar-se e com oauxílio de para médicos, têm capacidade de resolver a maior parte das necessidades médicasde nossas crianças e deve saber encaminhar aos especialistas, com critério e segurança,aqueles problemas que ultrapassam seus conhecimentos ou sua capacidade.
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